Mercabá

Ícone

Obras da Patrística

Santo Atanásio e a Crise da Fé

Santo Atanásio (295-373) foi simultaneamente o Bispo mais amado e o mais odiado e perseguido do seu tempo. Para os seus defensores, Atanásio era a garantia da ortodoxia católica, o salvador da Fé, um autêntico sucessor dos Apóstolos; para os seus adversários, Atanásio era um orgulhoso, teimoso, intransigente, rebelde, insolente inimigo da paz e da concórdia entre os cristãos.

As perseguições pagãs

Desde o ano 33 houve perseguições contra a Igreja. Primeiro pelos judeus, depois pelos pagãos. Desde o ano 64, até ao 311, no Império Romano, que se estendia sobre três continentes – Europa, África e Ásia – ser cristão era digno da pena de morte, por proibição legal. Estalaram perseguições sangrentas, por vezes locais, outras vezes gerais. Milhares de cristãos: papas, bispos, sacerdotes e fiéis, depois de terem sofrido as mais espantosas privações e torturas, morreram mártires. Milhares de confessores padeceram as calúnias, a confiscação de todos os seus bens, o desterro, a fome, a sede e os trabalhos forçados. Houve também quedas lamentáveis e, inclusive, apostasias. São Cipriano reconhece-o. Foi uma luta de três séculos entre a Igreja Católica e as forças das trevas, que se serviam dos cultos pagãos, dos governos romano e persa e das seitas supostamente cristãs, que já então pervertiam a Bíblia.

Nesse tempo, a Igreja cumpriu a sua missão pregando e defendendo a pureza da fé, custasse o que custasse. Não quis dialogar com os hereges nem com as autoridades pagãs que propunham o “diálogo inter-religioso”, com condição de colocar Cristo no mesmo nível dos ídolos Júpiter, Apolo, Mitra e os falsos profetas.

De 303 a 311, os Imperadores Diocleciano e Galério quiseram acabar com o Cristianismo, declarando guerra total contra a Igreja. O sangue cristão foi derramado a jorros.(1) Mas Cristo triunfou pelos seus mártires. “As perseguições causaram efeito contrário ao que prosseguiam os seus instigadores. A Igreja desenvolvia-se com o sangue dos mártires.” (2)

O triunfo do Cristianismo

Em 311, Galério, muito doente, deu-se conta, por experiência própria, do poder divino de Cristo, e reconheceu, pela primeira vez, a existência legal do Cristianismo.(3) Em 313, os Imperadores Constantino e seu cunhado e colega Licínio, deram liberdade à Igreja.

Em 324, Constantino é o único Imperador. Declara-se protetor da Igreja; manda construir basílicas em Roma, Constantinopla, Jerusalém; começa a cristianizar o Direito; declara o Domingo festa principal da semana; favorece o clero e a cristianização do Império. Será batizado antes de morrer, em 337.

* * *

Para salvar a fé na divindade de Cristo, Santo Atanásio sofreu calúnias, juízos iníquos, perigo de morte, cinco desterros durante 17 anos, ódios de muitos bispos e dos imperadores filiados à heresia, e finalmente a “excomunhão” pelo Papa Libério.(4) Contudo a Igreja proclamou-o santo, Padre da Igreja, Doutor e salvador da fé católica. A história reconhece que, sem a resistência e os sofrimentos heróicos de Santo Atanásio e dos seus companheiros bispos e sacerdotes, assim como do povo fiel, a fé católica teria naufragado no século IV. Naufrágio fomentado, favorecido e imposto ao povo católico por alguns teólogos, bispos e sacerdotes, intrigantes e racionalistas, que haviam tomado o poder na Igreja. Esses intrigantes, que representavam a Igreja oficial, utilizavam sem nenhum escrúpulo o poder do Direito Eclesiástico e Civil para perseguir os católicos fiéis e corromper a fé na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A história de Santo Atanásio e da sua época ensina-nos que uma crise da fé pode ser provocada por alguns bispos que formem um “poderoso partido moderno” detentor do poder na Igreja. Prova, também, que lutar contra as autoridades oficiais para preservar a fé da contaminação legal, é necessário e meritório.

Parte II

A heresia de Ario antes do Concílio de Nicéia

Mal havia terminado a mais intensa e prolongada das perseguições à Igreja (303-311), quando as forças das trevas mudaram de tática e atacaram a fé mediante a heresia. Ataque mais perigoso, porque, desta vez, os destruidores da fé serão bispos e sacerdotes.

Ario (260-336), influente pároco de Alexandria, no Egito, deu início a uma heresia que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. O herege dizia que Cristo era a primeira das criaturas de Deus e, como todas as demais, tirada do nada. Por ser a primeira criatura, chamava-se-Lhe Filho de Deus, mas não Deus verdadeiro igual ao Pai. Era uma criatura divinizada, mediante a Qual Deus criou as demais coisas, inclusive o Espírito Santo. Com essa blasfêmia, Ario destruía completamente a fé católica. “Atacava a verdadeira natureza do Cristianismo, ao atribuir a Redenção a um deus que não era verdadeiro Deus e que, por isso mesmo, era incapaz de redimir a humanidade. Assim, despojava a fé do seu caráter essencial.” (5)

A Igreja condena a heresia

No ano de 318, Ario começava a provocar muitas discussões por causa da sua heresia, que apresentava nos seus sermões como doutrina da Igreja.

Santo Alexandre, Bispo de Alexandria (312-328), apoiado pelo seu diácono e secretário Santo Atanásio, em um sínodo de mais de cem bispos, realizado em 319, condenou a heresia de Ario como uma inovação contrária à tradição católica. A fé católica sempre afirmou: “Cristo é o Filho de Deus feito Homem para nos salvar, Cristo é consubstancial ao Pai, quer dizer, da mesma substância que o Pai. Deus é Uno em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo”.

Ario rebelou-se, então, abertamente, caluniou o seu bispo e começou a propagar a sua heresia por todos os meios, e a pedir ajuda aos seus companheiros de estudos já bispos, em oposição com as regras eclesiásticas. Santo Alexandre teve que excomungar Ario e os seus partidários: dois bispos, oito sacerdotes e dez diáconos. Foi tomada essa forte medida para conjurar um grave perigo contra a fé. Ario recebeu apoio dentro e fora do Egito. Dentro apoiaram-no os seus amigos e muitas monjas seduzidas pela ciência e pela vida, aparentemente mortificada, do orgulhoso sacerdote. Fora, vários bispos seus amigos, como Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesaréia, tomaram a defesa da sua heresia e propagaram-na, mas com mais astúcia, para não assustar os incautos.

Uma rede de hereges dentro da Igreja

Eusébio de Nicomédia era um poderoso prelado pela sua influência sobre Constância, irmã de Constantino, pela sua habilidade política e ambição. Para ter mais poder na Igreja, e apesar das regras eclesiásticas, tinha-se feito transferir do Bispado de Beirute para o de Nicomédia (Turquia), então capital imperial. Depois, fez-se nomear Patriarca de Constantinopla, troçando dos cânones da Igreja que ele mesmo havia assinado.

Rapidamente formou-se em favor de Ario uma poderosa aliança, que provocou um incêndio devastador em todo o Oriente do Império Romano. Os membros da rede ariana escreviam, tratavam de ganhar influência e amigos entre os bispos e governantes, e conseguiam-no. A sua ação gerava grande desordem na Igreja.

A resposta católica

Santo Alexandre e o seu secretário também escreviam para advertir os bispos da situação real do herege. Os Patriarcas de Antioquia, terceira Sé da Cristandade, e de Jerusalém, apoiavam Alexandre. Mas a desordem fomentada pelos arianos crescia e debilitava a posição da Igreja perante os pagãos e judeus. Constantino, preocupado com a desordem, enviou a Alexandria Ósio, Bispo de Córdova (Espanha). Ósio apoiou Santo Alexandre, mas não logrou pacificar os espíritos. Ante semelhante incêndio, grandes medidas eram necessárias.

Parte III
(Continuação)

O Concílio de Nicéia em 325

No ano de 325, para apagar o incêndio provocado pelos hereges e conservar a paz e a ordem pública, Constantino convocou para a cidade de Nicéia o primeiro concílio de toda a catolicidade. No Concílio, a heresia foi condenada com horror pelos representantes do Papa Silvestre e por uns 300 bispos, menos dois. A fé na divindade de Cristo, sempre crida, foi novamente proclamada: Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus igual e consubstancial ao Pai, ou seja, é Deus tendo a mesma substância divina que o Pai (Dz. 125). Ario e os seus cúmplices repeliram o Símbolo da Fé redigido no Concílio. Constantino desterrou-os.

A subversão ariana depois de Nicéia

Com a proclamação do Símbolo de Nicéia, tudo deveria entrar na ordem. Mas o intrigante Eusébio de Nicomédia, se bem que tivesse sido desterrado durante uns tempos por apoiar Ario, logrou conservar a heresia e perturbar todo o mundo cristão, durante meio século no Império Romano, e durante vários séculos fora do Império, através dos povos bárbaros convertidos pelo bispo ariano Ulfilas (311-383).

Com o apoio de seus amigos, ou por convicção ariana, ou por não ter entendido bem a fórmula consubstancial, o astuto Eusébio difundiu o semi-arianismo, cheio de ambigüidades que favoreciam a heresia. Agiu de tal modo que Constantino anistiou Ario em 327. No ano seguinte, Atanásio foi eleito bispo patriarca de Alexandria.

Enquanto Atanásio tratava de pôr ordem na Igreja do Egito, Ario, anistiado, queria regressar ao Egito. O bispo recusou-se a entrar em comunhão com ele, como queria Constantino. Os arianos de fora (os dois Eusébios e os egípcios hereges e cismáticos) começaram a difamar o santo e seus companheiros que guardavam a pureza da fé. Nos anos de 333 e 334, trataram, sem êxito, mediante sínodos, condenar Atanásio. Mas em 335, já queriam sua cabeça a todo custo e, de fato, lograram obter do Imperador o seu desterro na Alemanha.

Morte de Ario em 336

Por ordem de Constantino, enganado, Ario tinha de ser recebido na comunhão católica, desta vez em Constantinopla. O arcebispo, ameaçado de desterro, pediu ajuda ao Céu, orando e jejuando, para preservar a fé de tal contaminação. Deus atendeu sua oração. Na véspera de sua entrada triunfal na Igreja Católica, Ario morreu no banho, de morte repentina e vergonhosa.

Triunfo do arianismo (337-381)

Todavia, a morte do herege não afetou muito o seu partido, porque o chefe real da seita era o bispo Eusébio de Nicomédia.

Depois da morte de Constantino em 337, os “católicos oficiais”, hereges de fato, puderam converter Constâncio, filho de Constantino, à sua seita, e com o apoio do Imperador, expulsar os bispos católicos, tomando seu lugar. Em grande parte da Igreja Católica, desde 335 até 381, os hereges tinham conseguido tomar posse dos templos, basílicas, catedrais e conventos.

Por exemplo, Constantinopla estava nas mãos dos arianos desde o ano 351. A pequena comunidade católica sob o mando de São Gregório Nazianzeno (330-390), durante os anos 378-380, celebrava Missa numa casa particular transformada em capela.

A meta dos arianos era tomar o poder da Igreja por dentro e impor a sua “fé ariana” a toda a cristandade. O próprio Papa Libério foi desterrado durante dois anos, até que assinasse uma fórmula de fé ambígua e excomungasse Santo Atanásio (Dz. 138). Os bispos católicos, os sacerdotes e fiéis importantes, foram maltratados, sobretudo caluniados como se fossem malfeitores e, finalmente, desterrados. Para ocupar o lugar dos bispos católicos desterrados, nomeavam-se sistematicamente bispos arianos ou semi-arianos (hoje dir-se-ia conservadores!), para não afugentar o povo que, todavia, guardava a fé católica. Os costumes cristãos pervertiam-se por culpa dos novos bispos, que eram indignos.

Em muitos lugares, os pagãos e os judeus apoiavam os “católicos oficiais”, quer dizer, os hereges. Os bispos e imperadores arianos – Constâncio e Valente – perseguiam os verdadeiros católicos, que eram considerados como cismáticos, orgulhosos, “faltando à caridade, à obediência, à comunhão eclesiástica”, e perturbadores da paz na Igreja. A única falta dos supostos cismáticos era não aceitar umas fórmulas de compromisso, fórmulas ambíguas, fruto das novidades heréticas que punham em perigo a fé católica.

A heresia apoderando-se do governo civil e religioso, tornada justiça e verdugo, atuou sem piedade contra os verdadeiros católicos. Utilizou todos os meios para destruir a fé católica no homoousios (consubstancial), definido em Nicéia. Ameaças, calúnias, mentiras, falsos testemunhos, ilegalidades, violação dos cânones e regras da Igreja: tudo isso foi utilizado contra Santo Atanásio, contra seus amigos e contra os fiéis. Mas Deus não abandona nunca nem a sua Igreja, nem os confessores da fé. Nos tempos de crise, sempre há santos varões, escolhidos por Deus, que se levantam para proclamar integralmente a fé católica, sofrer por ela e salvá-la das garras da heresia que, despudoradamente, se proclama “ortodoxia católica”. Santo Atanásio foi o maior destes homens de Deus.

Parte IV

SANTO ATANÁSIO, PROTAGONISTA DA RESISTÊNCIA CATÓLICA E ALVO DOS ARIANOS

No século IV, a fé católica conheceu o maior perigo da sua existência. O sacerdote Ario, apoiado por bispos poderosos, negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta heresia, apesar de ter sido condenada no Concílio de Nicéia (dogmático) em 325, pôde apoderar-se dos maiores bispados da Cristandade, e submeter por algum tempo o Papa Libério. Alguns bispos, “excomungados” pela seita ocupante da Igreja, salvaram a fé católica. Os condenados de ontem – Atanásio, Hilário, Eusébio de Verselli e Eustáquio – são hoje santos e os seus poderosos inimigos – teólogos em voga no seu tempo – foram declarados destruidores da fé.

OS ARIANOS

Os arianos, que formavam um poderoso partido dentro da Igreja, utilizavam todos os meios (ameaças, calúnias, injustiças, crimes, leis da Igreja e do Estado) para desterrar os bispos católicos. Em poucos anos, apoderaram-se dos maiores bispados do Oriente. Só restava o Egito. O perigo era grande. Fazia falta um santo para o enfrentar.

SANTO ATANÁSIO (295-373)

Esse santo era Atanásio, jovem bispo de 33 anos que, para salvar a fé católica, lutou durante 45 anos contra os “bispos oficiais” e quatro Imperadores.

SUA FORMAÇÃO

Atanásio nasceu cerca de 295 em Alexandria do Egito. Recebeu, no seio da Igreja, uma sólida formação em filosofia e teologia. Em breve a vida ascética o atraiu para junto de Santo Antão Abade. Tendo-o descoberto, Santo Alexandre ordenou-o diácono e nomeou-o secretário episcopal, por volta do ano de 318.

Desde o início da crise, Atanásio opôs-se com energia à heresia que se apresentava como doutrina católica. Acompanhou seu bispo ao Concílio de Nicéia em 325, durante o qual esteve ativo nos bastidores como teólogo. Depois do Concílio foi o salvador da fé católica.

PATRIARCA

Em 328, apesar da sua pouca idade, foi eleito e consagrado Arcebispo e Patriarca de Alexandria, que era a segunda Sé da Cristandade. Atanásio tinha já fama de defensor intransigente da fé contra as inovações verbais destinadas a modificar a fé de Nicéia.

Os poucos bispos arianos que estiveram no Concílio, tinham assinado os decretos para não serem condenados como hereges. Mas esperavam a oportunidade para anular a doutrina de Nicéia. Quando se apresentou a ocasião, mediante a calúnia e a injustiça, destituíram os bispos das cidades importantes e tomaram seu lugar. Depois, concentraram todas as suas forças contra Atanásio, que “era o defensor mais temido de Nicéia, e por isso, era necessário eliminá-lo” (6) para triunfar em todo o Oriente, antes de atacar o Ocidente.

SUA PERSONALIDADE

“A figura de Atanásio apresentava alguns caracteres que nos permitem descrevê-lo como um homem tremendamente enérgico e firme, que soube pôr essas qualidades do seu caráter ao serviço da verdade católica. Dos seus escritos desprende-se força e vigor; jamais recuará perante o adversário, mas, antes pelo contrário, cresce diante dele e emprega todos os recursos necessários para fazer triunfar a verdade, expressa na fé de Nicéia.(…) Quando se vê envolto em polêmica em que a fé está em jogo, é um adversário temível.

“Todavia, dizer isto não é dizer tudo; Quasten, na sua Patrologia, assinala como ‘apesar da sua irreconciliável hostilidade com o erro, e não obstante o valor com que lhe fazia frente, possuía a qualidade, rara em semelhante caráter, de ser capaz, ainda que no mais árduo combate, de usar de tolerância e moderação com os que se tinham desencaminhado de boa fé’. Por outro lado, se bem que seja certo que nos seus escritos polêmicos faça gala, com freqüência, de uma força por vezes agressiva, a leitura serena das suas obras revela um homem de grande humanidade, um verdadeiro pastor, cujo principal defeito é, para desgraça de seus inimigos, a sua intransigência com o erro.

“Há outro traço que não queremos deixar de assinalar, é a sua abnegação total, o enorme autodomínio que exercitou durante toda sua vida e que contribuiu decisivamente para forjar a sua personalidade de santo. Se com alguém foi violento, foi sobretudo consigo mesmo; os desmedidos ataques que sofreu durante toda a sua vida, tanto da parte dos seus irmãos no episcopado como da autoridade civil, não serviram para o fazer dobrar no seu empenho de servir a Igreja de Cristo: a sua fidelidade valeu-lhe passar quase vinte anos afastado, pela força, do exercício do seu ministério. O amor à verdade pôde mais que toda a violência sofrida diretamente no seu corpo, pelo que passou à História como Pai da Ortodoxia e Coluna da Igreja”, que “extraía a sua força de uma contemplação assídua”, disse São Gregório Nazianzeno.

UM CONCÍLIO CONDENA O SANTO: 1º DESTERRO (335-337)

Os chefes do partido ariano, que queriam a cabeça de Atanásio, juntaram-se em 335 no Concílio de Tiro (Líbano), com alguns bispos católicos intoxicados pelas calúnias arianas. A presença dos católicos manipulados, era mais uma segurança para o êxito da operação antiatanasiana.

Os acusadores eram egípcios cismáticos, e os juízes eram os arianos e os seus títeres católicos. Quando Santo Atanásio chegou ao Concílio com 49 bispos egípcios, foi admitido como acusado e os seus companheiros foram repelidos “por não terem sido formalmente convocados”.

Acusavam Atanásio dos seguintes crimes políticos e religiosos:
• querer esfaimar os da capital, guardando no Egito o trigo destinado a Constantinopla;
• quebrar o cálice e destruir o altar de Isquiras, um sacerdote cismático;
• matar o Bispo Arsênio e fazer magia com o seu cadáver. Como prova, os arianos mostravam ao Concílio as mãos cortadas e secas de Arsênio; etc.

Acerca do cálice e do altar, as autoridades civis e o próprio Isquiras reconheceram a inocência de Atanásio. O suposto defunto foi descoberto e apresentado ao Concílio com as suas duas mãos.

Mas não importavam as provas de Atanásio, posto que a sua condenação estava decretada. O Santo, insultado pelo povo fanatizado e diante da injustiça episcopal, fugiu (porque o porto e os caminhos estavam guardados pelos arianos) e dirigiu-se a Constantinopla para pedir justiça a Constantino.

Entretanto, Eusébio de Nicomédia enviou ao Egito bispos do seu partido para um novo “inquérito”. Ali, os testemunhos oculares e favoráveis a Atanásio foram recusados. Depois do “inquérito”, Atanásio foi condenado pelo Concílio “segundo os cânones”.

Após muitas insistências do Santo, Constantino chamou bispos “juízes” à capital para um novo julgamento. Diante de Constantino, os hereges apresentaram unicamente acusações políticas, e lograram fazer condenar o Santo e desterrá-lo para Tréveris (Alemanha).

O Concílio de Tiro foi qualificado de “bandidagem”. Com habilidade, os arianos lograram acusar e condenar Atanásio, com base num plano puramente disciplinar. Nunca se atreveram a atacá-lo em nenhuma questão dogmática.
Este “julgamento” perseguirá Atanásio durante toda sua vida e várias vezes será desterrado por causa deste iníquo julgamento.(7)

FIM DO 1º DESTERRO (337)

Com a morte de Constantino, em 337, os seus três filhos, Constantino II, Constante e Constâncio, repartiram o Império e decidiram o regresso dos desterrados. Atanásio regressou como triunfador. Santo Antão saiu do deserto para ir a Alexandria apoiar Atanásio. Os bispos egípcios também apoiaram Atanásio no Concílio de 338, anulando a condenação de Tiro, confirmando a posição católica e escrevendo ao Papa São Júlio (337-352) e a todos os bispos da Igreja Católica. Em pouco tempo, Atanásio transformou outra vez o Egito em um baluarte da fé católica.

Mas o intrigante Eusébio queria a todo custo afastar Atanásio de Alexandria e controlar todo o Oriente. Enviou uma delegação a Roma com os documentos do Concílio de Tiro, para acusar Atanásio e reconhecer Pisto, um ariano, como bispo de Alexandria. Atanásio também enviou a Roma uma delegação, para se defender. Em um debate contraditório na presença do Papa Júlio, os emissários arianos foram vencidos pelos de Atanásio. Depois da sua derrota em Roma, os arianos apoderaram-se do espírito de Constâncio, que governava o Oriente, e condenaram Atanásio em 339, no Concílio de Antioquia.

2º DESTERRO: ROMA (339-346)

Em Antioquia, os arianos sagraram como bispo Gregório da Capadócia, e enviaram-no para Alexandria, para que tomasse o lugar de Atanásio, que tinha sido “condenado”. Supondo que a decisão da “bandidagem” de Tiro fosse justa, as regras da Igreja exigiam que o clero e o povo de Alexandria e os bispos do Egito elegessem o sucessor de Atanásio, e não os arianos de fora. Gregório foi considerado pelos católicos como intruso. Quando entrou em Alexandria, teve que ser acompanhado pelo exército. Só os poucos arianos, judeus e pagãos o aclamaram. Durante vários dias houve motins, com feridos e mortos. O governador teve que arrancar as igrejas, uma por uma, das mãos dos católicos “atanasianos” e pô-las à disposição do intruso. Atanásio, antes de ir para o desterro, escreveu uma carta a todos os bispos católicos, dizendo-lhes: “ ‘Aqui está a comédia que Eusébio representa! Aqui está a intriga que ele urdia desde há muito tempo, que ele logrou fazer triunfar, graças às calúnias com que assedia o Imperador. Mas isto não lhe basta; quer a minha cabeça; trata de assustar os meus amigos, através de ameaças de desterro e de morte. O que não é razão para me dobrar perante a iniqüidade; pelo contrário, devo defender-me e protestar contra as monstruosidades de que sou vítima.

“Se, enquanto residis na vossa igreja e governais o vosso povo de maneira impecável, de repente vos chegasse um sucessor, por ordem expressa – suportá-lo-íeis vós? Não vos indignaria? Não gritaríeis vingança? Bom! Eis que chegou o momento de vos sublevardes, por medo de que, pelo vosso silêncio, este mal se estenda em pouco tempo a todas as igrejas, e que as nossas cátedras de doutrina se transformem em objeto de tráfico e comércio.’

“Santo Atanásio não se equivocava: tinha visto e denunciara o autor responsável por estas façanhas, o personagem eclesiástico mais influente de então: Eusébio de Nicomédia.”(8)

Santo Atanásio logrou iludir a vigilância dos seus adversários, e foi para Roma. Ali encontrou muitos bispos desterrados; deu a conhecer aos romanos a vida dos padres do deserto, implantando na Europa a vida monástica.

SANTO ATANÁSIO REABILITADO

Os eusebianos tinham pedido a convocação de um Concílio. Mas, quando abriu o Concílio de Roma, em 340, não quiseram participar, porque não o podiam manipular. No Concílio, foram analisados os documentos da “bandidagem” de Tiro, e Atanásio apresentou a sua defesa. “Deram-se conta que a sua deposição foi o resultado de uma odiosa maquinação e que a eleição do seu sucessor tinha sido feita com desprezo de todas as regras canônicas.” (9) O Concílio anulou as decisões do “Concílio” de Tiro, reabilitou Atanásio e os demais bispos, vítimas da raiva herética. Contudo, Atanásio não pôde regressar ao Egito senão em 346.

A VINGANÇA DE EUSÉBIO

Eusébio que, violando os cânones da Igreja, se havia apoderado em 339 da Sé de Constantinopla, considerava-se como Papa do Oriente. Organizou também um Concílio em Antioquia, em 341, e fez condenar Atanásio pela terceira vez.

Os bispos do partido de Eusébio não suportavam ser tratados de arianos. Eram semiarianos, ou seja, conservadores manipulados pelos hereges arianos. Na sua nova profissão de fé, repeliam com cuidado os “exageros” de Ario, mas também as fórmulas católicas. Redigiam símbolos de fé, mas com vocabulário bíblico e ambíguo. Diziam verdades católicas, mas não com o vocabulário católico, que fechava o caminho para a heresia.

ATANÁSIO REABILITADO: CONCÍLIO DE SÁRDICA (342-343)

Em 343 morreu Eusébio de Nicomédia, chefe da seita ocupante da Igreja do Oriente. Sob a influência do Papa Júlio e do Imperador do Ocidente, Constante, Constâncio aceitou a reunião de um Concílio em Sárdica (Sofia). Quando os bispos arianos e os manipuladores viram Atanásio no Concílio, foram para Filipólis fazer outro concílio, excomungando Atanásio, o Papa Júlio e os demais bispos.

O Concílio de Sárdica voltou a promulgar o Símbolo de Nicéia e a reabilitar Santo Atanásio, que pôde regressar ao Egito somente em 346. A sua entrada solene em Alexandria teve todo o aspecto de apoteose. A cidade inteira, todos os bispos do Egito e os monges se colocaram em bloco a seu lado.

De 346 a 356, Santo Atanásio pôde reorganizar a cristandade do Egito, escrever muito e enviar missionários à Etiópia. Quando Constâncio ficou como único Imperador, os arianos lograram desterrar Santo Atanásio e, inclusive, conseguiram tomar o poder em toda a Igreja, a ponto de obrigar o Papa Libério a excomungá-lo, em 357.

Fonte

Filed under: Santo Atanásio

Santo Agostinho

Etienne Gilson


Depois de haver terminado seus primeiros estudos em Tagasta, sua cidade natal (hoje Suk-Ahras, a cerca de cem qui­lômetros de Annaba), Agostinho foi a Madauro, depois a Cartago, para estudar Letras e retórica, que mais tarde ensinaria. Sua mãe, Mônica, inculcara-lhe desde cedo o amor a Cristo, mas ele não era batizado, conhecia mal as doutrinas cristãs e as desordens de uma juventude conturbada não o haviam levado a se instruir melhor. Em 373, no meio dos prazeres de Cartago, leu um diálogo de Cícero hoje perdido, o Hortênsias. Essa leitura inflamou-o com um vivo amor pela sabedoria. Ora, nesse mesmo ano, ele conheceu uns maniqueístas, que se gabavam de ensinar uma explicação puramente racional do mundo, de justificar a existência do mal e de conduzir finalmente seus discípulos à fé unicamente por meio da razão. Agostinho acreditou por algum tempo que era essa a sabedoria que ele cobiçava. Foi, portanto, como maniqueísta e inimigo do cristianismo que voltou para ensinar Letras em Tagasta e que retornou em seguida a Cartago, onde compôs seu primeiro tratado, hoje perdido, De pulchro et apto. Entrementes, suas convicções maniqueístas haviam sido abaladas. As explicações racionais que não cessavam de lhe prometer ainda não haviam aparecido, e ele via bem que nunca apareceriam. Portanto, saiu da seita e foi para Roma, em 383, a fim de ensinar retórica. No ano seguinte, a intervenção do prefeito de Roma, Símaco, permitiu-lhe obter a cátedra municipal de Milão. Visitou o bispo da cidade, Ambrósio, cujas pregações seguiu, nelas descobrindo a existência do sentido espiritual escondido sob o sentido literal da Escritura. No entanto, sua alma permanecia disponível. Como bom discípulo de Cícero, ele professava então um “academismo” moderado, duvidando de quase tudo, mas sofrendo dessa falta de certezas. Foi então que leu alguns escritos neoplatônicos, notadamente uma parte das Enéadas de Plotino na tradução de Mário Vi­torino. Foi seu primeiro encontro com a metafísica, e um encontro decisivo. Liberto do materialismo de Mani, tratou de purificar seus costumes, como esclarecera seu pensamento; mas as paixões eram tenazes, e ele mesmo se es­pantava com sua impotência para vencê-las, quando leu, nas Epístolas de são Paulo, que o homem é presa do peca­do e que ninguém pode libertar-se dele sem a graça de Jesus Cristo. A verdade total que Agostinho procurava desde há tanto lhe era enfim oferecida; ele abraçou-a com alegria em setembro de 386, aos trinta e três anos de idade.

A evolução de santo Agostinho ainda não terminara. Mal instruído sobre a fé que abraçava, restava-lhe conhecê-la melhor e depois, por sua vez, ensiná-la. Isso devia ser a obra de toda a sua vida, mas, se nos ativermos às suas idéias filosóficas, poderemos dizer que Agostinho viverá do patrimônio neoplatônico acumulado no primeiro entusiasmo dos anos 385-386. Nunca o aumentará; utilizá-lo-á com cada vez menos boa vontade à medida que envelhecer; mas toda a sua técnica filosófica provirá dele. Uma diferença radical distingui-lo-á, porém, dos neoplatônicos, desde o mesmo dia da sua conversão. Os maniqueístas haviam-lhe prometido le­vá-lo à fé nas Escrituras pelo conhecimento racional; santo Agostinho propor-se-á, a partir de então, alcançar pela fé nas Escrituras a inteligência do que elas ensinam. Sem dúvida, um certo trabalho da razão deve preceder o assentimen­to às verdades de fé; muito embora estas não sejam demons­tráveis, pode-se demonstrar que convém crer nelas, e é a razão que se encarrega disso. Portanto, há uma intervenção da razão que precede a fé, mas há uma segunda, que a segue. Baseando-se na tradução, aliás incorreta, de um texto de Isaías pelos Setenta, Agostinho não se cansa de repetir: Nisi credideritis, non intelligetis. Há que aceitar pela fé as verdades que Deus revela, se se quiser adquirir em seguida alguma inteligência delas, que será a inteligência do conteúdo da fé acessível ao homem neste mundo. Um texto célebre do Sermão 43 resume essa dupla atividade da razão numa fórmula perfeita: compreende para crer, crê para compreender (intellige ut credas, crede ut intelligas). Santo Anselmo exprimirá mais tarde essa doutrina numa fórmula que não é de Agostinho, mas que expressa fielmente seu pensamento: a fé em busca da inteligência, fides quaerens intellectum.

Presente a seu pensamento desde o início de sua carreira de escritor cristão, essa tese inspira a longa seqüência das obras de Agostinho. De naturezas bastante diferentes, não há uma delas em que não encontremos alguma indicação sobre sua atitude filosófica; mas, como era natural, é nas primeiras que mais se aproxima de uma especulação filosófica pura. Da época em que ainda não era mais que catecúmeno, datam Contra Acadêmicos, De beata vita, De ordine (todas de 386), os Soliloquia e o De immortalitate animae (387), enfim De musica, iniciado em 387 e completado em 391. Entre a data de seu batismo (387) e a de sua ordenação sacerdotal (391), a história da filosofia reterá sobretudo De quantitate animae (387-388), De Genesi contra Manichaeos (388-390), De libero arbitrio (388-395) De magistro (389), De vera religione (389-391), De diversis quaestionibus (389-396). Uma vez padre, Agostinho consagra-se decididamente aos problemas teológicos e aos trabalhos de exegese, mas ainda cabe reter o De utilitate credendi (391-392), indispensável para o estudo do seu método; o De Genesi ad lideram liber imperfectus (393-394); o De doctrina Christiana (397), que dominará a história da cultura cristã na Idade Média; as Confissões (400), em que estão presentes todas as suas idéias filosóficas; o De Trinitate (400-416), não menos rico filosófica do que teologicamente; o De Genesi ad lideram, principal fonte para o estudo da sua cosmologia; o imenso De civitate Dei (413-426), particularmente importante para a sua teologia da história, mas a que sempre se deve recorrer, qualquer que seja o ponto estudado da sua doutrina; uma série de obras essencialmente religiosas, enfim, mais férteis em sugestões filosóficas de todas as sortes: as Enarrationes in Psalmos, que se estendem de 391 ao fim da carreira de Agostinho; In Joannis Evangelium (416-417), De anima et ejus origine (419-420), sem esquecer a imensa Correspondência, algumas cartas das quais são amplos tratados, e as Retratações (426-427), cujas correções por vezes lançam uma luz tão viva no sentido das fórmulas retratadas. Se acrescentarmos a isso que várias obras filosóficas de Agostinho se perderam, notadamente sua enciclopédia das artes liberais, e que se trata aqui apenas da parte menos exclusivamente teológica da sua obra, poderemos ter uma idéia da sua extensão e da necessidade que se impõe ao historiador de ater-se à exposição esquemática de seus temas principais.

Filed under: Santo Agostinho

São João Crisóstomo

s_joao_crisostomo50

Ramón Trevijano

San Juan Crisóstomo, afamado rétor y fino exegeta, primero asceta y monje; luego, diácono y presbítero en Antioquía; después obispo de Constantinopla. Aquí su seriedad de reformador y también su falta de tacto le llevaron a serios conflictos con obispos y con la corte imperial. Depuesto y desterrado, sus tribulaciones y muerte en el exilio fueron una dolorosa prueba martirial para él y el sector de la comunidad que se le mantuvo fiel.

Período antioqueno

No sabemos la fecha exacta de su nacimiento. Su piadosa madre, viuda a los veinte años, cuidó de darle una buena educación cristiana. Contó también con la más sólida formación retórica de su tiempo, al tener como maestro al famoso Libanio. No quedó a la zaga su formación exegética en el Askétérion de Diodoro de Tarso, donde los estudiantes seguían una vida comunitaria ascética. Hasta la muerte de su madre vivió el ascetismo sin abandonar su casa. Luego pudo cumplir sus ansias de ir a vivir entre los anacoretas. Tras cuatro años asociado a un ermitaño del desierto de Siria, se entregó a la vida solitaria durante otros dos años. Los rigores ascéticos quebrantaron su salud y tuvo que volver a Antioquía a fines del 380.

El obispo Melecio supo integrar su dedicación religiosa y aprovechar su formación retórica y exegética para el ministerio eclesiástico, ordenándole diácono el 381. Su sucesor Flaviano le ordenó presbítero el 386.

El ministerio

Algún tiempo después de su ordenación, Juan compuso un Diálogo sobre el Sacerdocio. Años atrás se había comprometido con un amigo, llamado Basilio, a dejarse ordenar juntos en el caso de ser presionados para ello; pero no había cumplido su compromiso. Ahora trata de justificar su demora por la tremenda responsabilidad del ministerio:

Juan: … Por eso el Señor dialogando con sus discípulos dijo: «¿Quién es el siervo fiel y prudente?» [Mt 24,45]. Pues el que se entrena a sí mismo saca sólo provecho para sí, en tanto que el beneficio de la tarea pastoral se extiende a todo el pueblo. El que distribuye sus riquezas a los necesitados o bien el que ayuda de otra manera a los que son víctimas de la injusticia, este tal es útil a su prójimo, pero tanto menos que el sacerdote cuanta es la distancia del cuerpo al alma. Por eso dijo apropiadamente el Señor que el celo por sus ovejas era señal del amor hacia él.
Basilio: ¿Es que tú no quieres a Cristo?
Juan: Le quiero y no dejaré de quererle; pero temo ofender al que quiero.

Aun los coaccionados a aceptar un ministerio han de rendir cuentas. El ministerio, ejercido en la tierra, corresponde a las realidades celestes. Más aún, es un ministerio superior al de los ángeles. Juan estima que hay mayor dificultad y responsabilidad en la vida del sacerdote que en la del monje.

El predicador

Sus dotes naturales, el dominio de los recursos retóricos, su penetración exegética y la riqueza de su contenido teológico y espiritual hicieron de él un famoso predicador.

El período antioqueno fue el tiempo de su más amplia producción homilética. Como el anomoioísmo se mantenía vivo, tuvo interés en contraponerse a la doctrina del neoarriano Eunomio predicando sobre la incomprensibilidad de Dios, tanto en Antioquía como en Constantinopla. Juan se sitúa en la amplia corriente de la Antigüedad tardía (platonismo, judaismo helenístico, gnosticismo, apologistas griegos) que subraya la trascendencia de Dios; pero hay que notar que el apophatismo de Juan, más que teológico o místico, es de carácter litúrgico. Gracias al encuentro del vocabulario bíblico y del vocabulario neoplatónico de la teología negativa, se ha constituido a fines del s. iv, en hombres como Gregorio de Nisa y Crisóstomo, la lengua litúrgica que da al rito oriental su carácter de adoración tan profundo.

Pero si quieres dejemos a Pablo y a los profetas y elevémonos a los cielos. ¿No habrá acaso allí quienes sepan cuál es la esencia de Dios? En todo caso, aunque los encontráramos, no tienen nada en común con nosotros. Hay mucha diferencia entre ángeles y hombres. Con todo, para que aprendas de sobra que ni siquiera allí hay algún poder creado que lo sepa, escuchemos a los ángeles: ¿Pues qué? ¿Están allí conversando sobre esa esencia y discuten entre sí? En absoluto. ¿Entonces qué? Glorifican, adoran, elevan sin cesar con profunda reverencia los cantos triunfales y místicos. Unos dicen: «Gloria a Dios en las alturas». Los serafines a su vez: «Santo, santo, santo»; y apartan su vista al no poder soportar la condescendencia de Dios. Y los querubines: «Bendita sea su gloria de donde está».

Sin embargo, las homilías que tuvieron una repercusión social más inmediata fueron las 21 De statuis. Después de que en un tumulto por la subida de impuestos fueran derribadas estatuas de la familia imperial (387), la población entera angustiada esperaba las represalias del emperador. En tanto que el obispo Flaviano viajaba a la corte a solicitar indulgencia, Crisóstomo supo animar y amonestar a la población que se agolpaba en las iglesias implorando la misericordia divina.

El exegeta antioqueno

La escuela exegética antioquena, que puede remontarse al mártir Luciano, pasando por Diodoro de Tarso, florece de lleno con Teodoro de Mopsuestia. Han seguido el modelo de los comentarios paganos a los poetas y lo que habían enseñado los gramáticos sobre Homero y otros clásicos. Controlan rigurosamente metáforas y comparaciones en sus «puntos de comparación». Cuando explican el A.T. por sí mismo, pueden estar tratando de aplicar el principio básico de Aristarco de «explicar a Homero por Homero». Asimismo es determinante el fuerte influjo de la retórica, por la que descubren modos figurados de discurso y los hacen valer aun desde perspectivas históricas. Con su esfuerzo por no leer más en los textos de lo que se encuentra en ellos, con su interpretación «histórica» que reconoce el sentido literal, se colocan dignamente los antioquenos en la línea de los mejores filólogos paganos.

Un tercio de los sermones bíblicos del Crisóstomo han tenido como marco la synaxis litúrgica. En la cuaresma del 386 pronunció una primera serie de Homilías sobre el Génesis, que concluyó el 389. En la cuaresma del 390 comenzó sus Homilías sobre el Evangelio de Mateo. Juan ya se hace cargo de una verdadera enseñanza exegética en las Homilías sobre el Evangelio de Juan del 391.

Hacia el 390-392 debió de tomar la responsabilidad de una enseñanza catequética de nivel superior, mientras que Flaviano le descargaba del ministerio habitual de la predicación litúrgica. Luego en Constantinopla volverá a encargarse de la homilía al pueblo en las asambleas litúrgicas, con un esfuerzo por una enseñanza más profunda, que le ha permitido concluir el comentario a las Escrituras comenzado en Antioquía.

En el Comentario a Isaías, a quien admiraba por muchos motivos, Juan se esfuerza en dilucidar el sentido de los términos, en explicar una forma gramatical. Nota que las hipérboles y las metáforas abundan en la obra del profeta, pero que no hay que tomarlas al pie de la letra. Su primer cuidado es explicar el texto sin recurrir a la alegoría, tan cara a los alejandrinos. Sin embargo, puesto que la Escritura misma recurre a este procedimiento, Juan lo usa también, pero con moderación, como explica claramente:

De aquí [Is 5,7] aprendemos otra cosa que no es de poca monta. ¿Cuál pues? El cuándo y qué de las Escrituras es preciso interpretar alegóricamente. Que nosotros mismos no somos dueños de tales reglas, sino que es necesario que sigamos la misma mente de la Escritura, para utilizar así el método alegórico. Quiero decir esto. La Escritura ha empleado ahora vifla, cerca, prensa. No ha dejado al oyente hacerse dueño de aplicar lo dicho a los asuntos o personas que quiera, sino que se ha adelantado a interpretarse a sí misma al decir: «Porque la viña del Señor Sabaoth es la casa de Israel» (V 3,45-54).

Ahora bien, si los antioquenos rehusaban violentar los textos al mezclarles sus opiniones personales, no renunciaban al principio fundamental de su exégesis, que era leer el A.T. a la luz del N.T. El Crisóstomo se apoya en una serie de predicciones de Isaías, como Is 1,26 y 2,2, para señalar que serían ininteligibles si hubiesen tenido por objeto a Judea y Jerusalén. Sólo tienen sentido referidas a la Iglesia de Cristo. Ve como principal mérito de Isaías el haber anunciado claramente al Mesías y haber hablado sin ambigüedad de la Iglesia de Cristo.

De todos los Padres de la Iglesia ninguno ha hablado tan a menudo de san Pablo como san Juan Crisóstomo. Pronunció 7 panegíricos del Apóstol y notables homilías sobre cada una de las epístolas así como sobre Hech. Hace digresiones paulinas aun comentando el A.T. Le dedica numerosas alusiones en sus obras. Juan, pastor y predicador, reconocía en Pablo al pastor y predicador. Por esto mismo discierne a menudo con claridad el significado propio de Pablo. En su exégesis de las paulinas, se interesa por cronología, destinatarios concretos, razones y objetivos del escritor. Su selección temática tiene por directiva la relevancia hermenéutica de los diversos temas.

Escritos ascéticos

El rigor de sus ideales ascéticos y su celo, un tanto utópico, de reformador, fraguaron también en una serie de tratados. En su A Teodoro II escribe a un amigo al que había ganado para el Asketerion y a quien trata de recobrar, cuando éste lo abandonó para ocuparse de los asuntos paternos y pensó en casarse. Luego recoge en un tratado, el A Teodoro I, los mismos temas para abrirlos a un círculo más amplio. Juan se preocupa de fundamentar racionalmente y de apoyar en la Escritura «los dogmas de la filosofía celeste», e.d. las máximas de la perfección cristiana o de la vida monástica. Hay quienes piensan que el destinatario fue el futuro obispo, gran exegeta y teólogo, Teodoro de Mopsuestia.

Deja claro su concepto sobre la virginidad y la vida matrimonial en A una joven viuda, El matrimonio único, La virginidad, Las cohabitaciones sospechosas. El tratado sobre La virginidad se presenta esencialmente como un largo comentario a 1 Cor 7. Hay una primera parte polémica: tanto contra la concepción herética de la virginidad que menosprecia el matrimonio como contra los que objetaban a la virginidad. Sigue la exégesis de 1 Cor 7,1-27. La virginidad no es una obligación; pero sí un estado deseable para el cristiano que busca estar cerca de Dios.

Una tercera parte moral hace el elogio de la virginidad y expone las molestias del matrimonio. Concluye con la exégesis de 1 Cor 7,28- 40. Juan se dirige aquí a sus lectores más como pastor que como teólogo. Algunos de sus planteamientos un tanto radicales han tenido larga trayectoria en la historia de la educación cristiana. En su tratado Contra los adversarios de la vida monástica, obra de juventud, condena tan fogosamente la vida mundana, que no encontraba mejor solución para los jóvenes de su tiempo, si querían conservar su alma pura, que la educación en un monasterio. En cambio, en su obra de madurez, ya en Constantinopla, La vana gloria y la educación de los hijos confía a los padres la educación cristiana de sus hijos. Aquí hace una crítica del «euergetismo»: la beneficencia pública de los ricos, que encontraban en este cauce abierto a la iniciativa privada un medio de notoriedad y poder social. Crisóstomo subraya lo que había de vanidad ruinosa, excitada desde la educación mundana, y propone en cambio una educación ascética:

Puede que muchos se rían de lo dicho, como si se tratara de minucias. No son pequeneces, sino cuestiones importantes. Una joven educada en la alcoba materna a apasionarse por la moda femenina, cuando deje la casa paterna, será más difícil y exigente con su esposo que el inspector de Hacienda. Ya os he dicho que de ahí viene que el mal sea difícil de extirpar. Nadie piensa en el porvenir de los hijos. Nadie les habla de la virginidad, ni de la moderación, ni del menosprecio de las riquezas y la gloria, ni de todo lo enseñado por las Escrituras.

Lo que hace de este texto un documento único son las precisiones sobre la catequesis de los niños. El método seguido por padres cristianos para dar a sus hijos una primera formación religiosa. Siguiendo las recomendaciones del Crisóstomo, penetramos en la intimidad de una familia cristiana del s. iv.

Período constantinopolitano

Juan fue promovido a la sede de Constantinopla por decisión del emperador Arcadio (398). Obispo de la capital, vivía austeramente, dedicando sus rentas a asilos y hospitales. Como pastor de aquella gran comunidad urbana, intenta reformar las costumbres de los cristianos para que sean coherentes con su fe. Procede en ello con poco tacto, lo que da oportunidad a fuertes reacciones contrarias. Tuvo consecuencias graves su creciente enfrentamiento tácito con la emperatriz Eudoxia, dueña de la situación política tras la caída del eunuco Eutropio.

Cuando el hasta poco antes omnipotente primer ministro buscó refugio en sagrado, Crisóstomo pronunció su famoso discurso tomando como lema el «Vanidad de vanidades» del Eclesiastés.

Huyendo de la violenta campaña inquisitorial antiorigenista del metropolita de Alejandría, Teófilo, unos 300 monjes de Nitria se refugiaron en Constantinopla. El emperador reclamó a Teófilo que viniese a Constantinopla a responder de las acusaciones ante Juan. Teófilo, hábil político, acudió a la citación, pero con un cortejo numeroso de obispos. Con el apoyo de la misma corte y de los enemigos episcopales de Juan, convocó un sínodo en Calcedonia ante el que es Crisóstomo el citado como acusado (403). Como Juan se niega a comparecer ante este tribunal, que ha pasado a la historia como el «Sínodo de la Encina», se le declara depuesto en rebeldía. El débil Arcadio cedió ante la coalición de los obispos y la emperatriz y firmó la orden de destierro a Bitinia. Medida que provoca un tumulto popular de protesta. Un incidente no aclarado es visto por Arcadio y Eudoxia como señal de la cólera divina y ambos piden a Juan que vuelva a su sede. Este regresa triunfalmente a Constantinopla.

Por dos meses se mantiene la calma. Luego las fiestas de inauguración de una estatua de Eudoxia junto a la catedral provocan las protestas de Crisóstomo. Eudoxia decide acabar de una vez. Un sínodo, capitaneado por los obispos de Ancyra y Laodicea, aplica un canon del tiempo arriano y depone definitivamente a Juan por haber vuelto a su sede sin rehabilitación sinodal. Como el obispo de Constantinopla decide ignorar esta sentencia, Arcadio rehusa recibir la comunión de sus manos y le prohibe el acceso a la catedral. La celebración de la vigilia pascual del 404 es interrumpida militarmente. Tras un tiempo de tensión y acoso, en que el pueblo no entra en las iglesias en que ofician los adversarios de Juan, Arcadio da la orden de destierro tras Pentecostés del 404. Juan se despide de los suyos y se deja arrestar.

El exilio

Juan es forzado a un duro viaje, durante 70 días, hasta Armenia Menor. Los «juanistas» prescinden del nombrado para ocupar el puesto de Juan y mantienen la fidelidad al obispo depuesto, pese a todos los acosos. Los lidera Olimpia, viuda aristocrática, diaconisa de Constantinopla. Muchos juanistas fueron encarcelados y otros dispersos. Algunos (como Paladio) acudieron a Roma. El papa Celestino I reclamó un sínodo de obispos orientales y occidentales para juzgar el caso. Al no lograrlo, rompe la comunión con las iglesias de Oriente, hasta el comienzo de la rehabilitación del Crisóstomo por Constantinopla el 416. Juan escribe más de 236 cartas desde el exilio. Olimpia es su principal destinatario. Algunos son tratados de cien folios en forma de carta. En la Carta desde el exilio a Olimpia y a todos los fieles trata de convencer a esos cristianos de Constantinopla, sometidos a las persecuciones del poder civil y religioso, que los sufrimientos no les abatirán mientras guarden su integridad moral. La correspondencia del Crisóstomo incluye cartas de amistad, familiares, negocios eclesiásticos, dirección espiritual y confidencia. Las dirigidas a Olimpia constituyen la primera colección de cartas de dirección espiritual que posee la literatura griega cristiana. Abundan las consideraciones sobre La Providencia, que Crisóstomo condensa en una obra que envía a Olimpia y destina a toda la comunidad de Constantinopla.

Sigue fiel a los temas que había hecho suyos desde los primeros años de su predicación: la incomprehensibilidad de Dios, su amor por el hombre y el valor del sufrimiento. Esta intensidad de los contactos escritos entre Juan y sus fíeles preocupa a la corte, que dicta una orden de exilio a un lugar más inaccesible, en la costa este del mar Negro. Las fatigas de este nuevo viaje provocan la muerte de Juan el 14 de setiembre del 407.

Filed under: São João Crisóstomo

Canto de Natal

203muril

São Romano, o Cantor

A Virgem hoje dá luz ao Eterno
E a terra oferece uma gruta ao Inacessível.
Os anjos e os pastores te louvam
E os magos avançam com a estrela.
Porque Tu nasceste para nós,
Pequenino, Deus Eterno!


Filed under: Poesia

Adeste Fideles

http://www.vatican.va/roman_curia/institutions_connected/sacmus/sound/Natale/bartolucciadeste.mp3″

Adeste fideles, laeti triumphantes
Venite, venite in Bethlehem
Natum videte, Regem angelorum

Venham, todos os fiéis, alegres e triunfantes
Venham, venham a Belém
Vejam o Menino, nasceu o Rei dos Anjos

Venite adoremus, venite adoremus
Venite adoremus Dominum.

Venham, adoremos a Ele, venham, adoremos a Ele
Venham e adoremos ao Senhor

En grege relicto, humiles ad cunas,
vocati pastores approperant.
Et nos ovantes gradu festinemus.

Deixando o rebanho, humildes, do berço
Rapidamente se aproximam os pastores ao serem chamados,
E nós, apressemo-nos com passo alegre

Venite adoremus, venite adoremus
Venite adoremus Dominum.

Venham, adoremos a Ele, venham, adoremos a Ele
Venham e adoremos ao Senhor

Aeterni Parentis splendorem aeternum,
Velatum sub carne videbimus
Deum Infantem, pannis involutum.

O eterno esplendor do Pai eterno,
Vemos agora, oculto sob a carne
O Deus Menino envolto em panos

Venite adoremus, venite adoremus
Venite adoremus Dominum.

Venham, adoremos a Ele, venham, adoremos a Ele
Venham e adoremos ao Senhor

Pro nobis egenum et foeno cubantem,
Piis foveamus amplexibus:
Sic nos amantem quis non redamaret?

Por nós pobre e recostado na manjedoura
Com abraços carinhosos O abracemos
A Quem assim nos ama, quem não O amará?

Venite adoremus, venite adoremus
Venite adoremus Dominum.

Venham, adoremos a Ele, venham, adoremos a Ele
Venham e adoremos ao Senhor

Filed under: Música

A Visitação

Santo Ambrósio

Por aquellos días, levantàndose María, se dirigió presurosa a la montaña, a una ciudad de Judá, y entró en la casa de Zacarías y saludó a Isabel.

19. Es normal que todos los que quieren ser creídos corroboren las razones que les den crédito.También el ángel que anunciaba los misterios, para inducir a creer por un hecho, ha anunciado a María, una virgen, la maternidad de una esposa anciana y estéril, mostrando de este modo que Dios puede hacer todo cuanto le agrada. Desde que oyó esto María, no como incrédula del oráculo, ni como insegura del anuncio, ni como dudosa del hecho, sino alegre en su deseo, para cumplir un piadoso deber, presurosa por el gozo, se dirigió hacia la montaña. Llena de Dios, ¿podia ella no elevarse presurosa hacia las alturas? Los cálculos lentos son extraños a la gracia del Espíritu Santo.

Bendita tú eres entre todas las mujeres y bendito es el fruto de tu vientre. ¿Y de dónde a mí que la Madre de mi Señor venga a visitarme?

24. El Espíritu Santo conocía su palabra y no la olvida jamás, y la profecía se realiza no sólo en los hechos milagrosos, sino en todo el rigor y propiedad de los términos. ¿Cuál es este fruto del vientre, sino Aquel del que se ha dicho : He aquí que el Señor da por herencia los hijos, recompensa del fruto del seno? (Ps 126, 3). Es decir, la herencia del Señor son los hijos, precio de este fruto que nació del seno de María. El es el fruto del vientre, la flor de la raíz, de la cual profetizó Isaías al decir : Saldrá una vara de la raíz de Jesé, y la flor brotará de la raíz; la raíz es la raza judía; el tallo, María; la flor de María, Cristo, que, como el fruto del buen árbol, según nuestros progresos en la virtud, ahora florece, ahora fructifica en nosotros, ahora renace por la resurrección del cuerpo.

¿Y de dónde a mí que la Madre de mi Señor venga a mí?

25. No habla como una ignorante -sabía ella que existía la gracia y la operación del Espíritu Santo, para que la madre del profeta fuese saludada por la madre del Señor para provecho de su hijo-, sino que ella reconocía que es esto el resultado, no de un mérito humano, sino de la gracia divina. Dice así : ¿De dónde a mí?, es decir, ¿qué felicidad me llega que la Madre de mi Señor viene a mí? Yo reconozco que no tengo nada que esto exija. ¿De dónde a mí ?¿Por qué justicia, por qué acciones, por qué méritos? No son diligencias acostumbradas entre mujeres que la Madre de mi Señor venga a mí. Yo presiento el milagro, reconozco el misterio: la Madre del Señor está fecundada del Verbo, llena de Dios.

Porque he aquí que, como sonó la voz de tu salutación en mis oídos, dio saltos de alborozo el niño en mi seno. Y dichosa tú que has creído.

26. Observas que María no dudó, sino que creyó, y por eso ha conseguido el fruto de la fe. Bienaventurada tú, dice, que has creído. ¡Mas también sois bienaventurados vosotros que habéis oído y creído!, pues toda alma que cree, concibe y engendra la palabra de Dios y reconoce sus obras. Que en todos resida el alma de María para glorificar al Señor ; que en todos resida el espíritu de María para exultar en Dios. Si corporalmente no hay más que una Madre de Cristo, por la fe Cristo es fruto de todos.

Fonte

Filed under: Tratados

Sermão de São Beda, para o Natal

E eis que os pastores se apressam, com grande alegria, para ver aquele de quem ouviram falar. E como buscaram com fervoroso amor, mereceram achar rapidamente o Salvador. Assim também os inteligentes pastores dos rebanhos, ou melhor, todos os fiéis que se propõem a procurar a Cristo com o trabalho do espírito, o demonstram por suas palavras e atos.

Vamos até Belém, disseram, para ver esta palavra que se realizou. Vamos, pois, nós também, caríssimos irmãos, pelo pensamento, até Belém, cidade de Davi, e lembremos, cheios de amor, que nela o Verbo se fez carne e celebremos com honras sua Encarnação. Deixemos para trás as baixas concupiscências da carne e, com todo o desejo da alma, vamos até a Belém do alto, ou seja, a casa do Pão vivo, não fabricada, mas eterna no céu, e relembremos amando que o Verbo se fez carne. Para lá Ele subiu na carne, onde senta à direita do Pai. Procuremo-Lo no alto, com perseverante virtude, com coração solícito, pela mortificação do corpo, para encontrarmos reinando no trono do Pai, Aquele que os pastores viram chorando no Presépio.

E vieram apressados e encontraram Maria e José, e a criança recostada no Presépio. Vieram os pastores apressados e encontraram Deus nascido como homem e os ministros deste nascimento. Corramos nós também, irmãos, não com os passos dos pés, mas com o progresso das boas obras, para ver esta mesma humanidade glorificada, com seus ministros tendo já recebido a digna recompensa por seus trabalhos. Corramos vê-Lo na resplandecente majestade do Pai, que é também sua. Corramos vê-Lo, digo, pois tanta felicidade não se procura com vagar e preguiça, mas deve-se seguir as pegadas de Cristo com vivacidade. Pois Ele próprio, desejoso de ajudar nosso caminho, estende a mão, querendo ouvir de nós: “Atraia-nos atrás de ti, corremos no aroma dos teus perfumes”.

Continuemos, então, apertemos os passos da virtude, para O alcançarmos. Ninguém se atrase a se converter ao Senhor, que ninguém deixe ir passando os dias; peçamos por todos os meios e antes de tudo, que Ele dirija nossos passos segundo a sua palavra e que o mal não tenha domínio sobre nós.

Ao vê-Lo, reconheceram a palavra que lhes tinha sido dita sobre esta criança. E nós, irmãos amados, as coisas que nos foram ditas sobre o nosso Salvador, Deus e homem verdadeiro, recebamos logo com pia fé e abracemos depressa com grande amor, para que possamos ter delas, no futuro, um perfeito conhecimento de visão compreensiva. Elas são a vida única e verdadeira dos beatos, não só homens, mas também dos anjos, que contemplam perpetuamente a face do Criador, como ardentemente desejava o salmista, que dizia: “Minha alma tem sede do Deus vivo, quando virei e aparecerei diante da face de Deus”. E ele mostra que seu desejo não pode ser contentado com nenhuma influência terrestre, mas somente da visão de Deus, quando diz: “Ficarei saciado quando se manifestar a Vossa glória”. E como não são os preguiçosos e os moles que são dignos da divina contemplação, nos adverte solícito: “Mas eu aparecerei diante de Vós na santidade”.

Fonte

Filed under: Sermões

Sermão de Natal

São Pedro Crisólogo

Seríamos levados antes a adiar nosso sermão, tal a sublimidade e o mistério do nascimento de Cristo. A Virgem deu à luz; quem o explicará? O Verbo se fez carne; quem explanará este mistério? Se o Verbo de Deus vagiu na boca de uma criança, como poderá falar dele o homem cheio de imperfeição? Mas como a estrela iluminou os magos em busca da Luz, assim a palavra do pregador deve dar a conhecer a seus ouvintes o nascimento de Deus, a fim de se regozijarem com o encontro de Cristo e, mais que perscrutarem seus divinos segredos, honrarem com dádivas o Menino-Deus. Orai, irmãos meus, para que se digne crescer, pouco a pouco, em minha palavra, aquele que aceitou crescer num corpo como o nosso.

O evangelista diz ter o anjo falado assim: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus”. Não temas, Maria. E por quê? Porque achaste graça. Temer não é próprio de quem recebe, – é próprio de quem perde. Recebeste, concebendo, a graça do divino germe, e não perdeste o brilho de tua virgindade, ao entregá-la à luz. “Não temas, Maria”. Que pode temer a que concebe a segurança do mundo, a alegria dos séculos? Temor não existe, onde se trata de algo divino, não humano; onde há consciência de virtude, não de impureza. Que pode temer a mãe daquele a quem temem até os que infundem temor? Que pode temer aquela cujo assessor é o juiz da própria causa, e que tem sua integridade como testemunho de sua inocência? “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus”.

A Virgem acolheu em seu seio o Verbo divino, o qual, desde a eternidade, coexistia com Deus. Fez-se grandioso templo da Divindade, ela, morada humilde e humana. Aquele que não podia ser contido na pequenez do corpo humano, ia-lo na estreiteza do ventre virginal. “Eis que conceberás no ventre”. Bastaria ter dito: “conceberás “; por que acrescentou: “no ventre”? Para indicar ser real a concepção, não aparente; para atestar que o nascimento seria real, não fictício; para demonstrar que assim como Cristo, enquanto Deus, procede do verdadeiro Deus, enquanto homem tem um corpo que é fruto bendito da verdadeira concepção. É, pois, herético afirmar que Cristo tomou um corpo etéreo e apenas tenha aparentado a forma de homem. “Eis que conceberás no ventre e darás à luz um filho, ao qual chamarás Jesus”.

Em hebraico, “Jesus” significa “Salvador”. Com razão, pois, tudo está salvo na Virgem, quando ela gerou o Salvador de tudo. “chama-lo-ás Jesus”. Porque com este nome é adorada a majestade augusta da divindade; todos os que habitam os céus, os que povoam a terra, os que gemem nas profundezas do inferno prosternam-se ante esse nome e o adoram. Ouvi as palavras do Apóstolo: “Ao nome de Jesus se dobrará todo joelho, no céu, na terra e nos infernos” 1. É o nome que deu vista aos cegos, ouvido aos surdos, curou os coxos, deu fala aos mudos, vida aos mortos, libertou os possessos do demônio. Mas se o nome é tão sublime, quanto não o será o poder de seu dono? O mesmo anjo diz quem seja aquele que detém esse nome: “Ele será chamado Filho do Altíssimo”. Vede: o que a Virgem concebe não é germe da terra, mas do céu. A Virgem deu à luz e seu filho é o Filho de Deus! Portanto, os que pretendem encontrar algo de apenas humano nesse nascimento estão injuriando ao Altíssimo!

“E o Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e seu reino não terá fim”. São palavras que o herege procura toldar em favor de seu erro. “Eis, diz aqui, é o anjo quem fala: o Senhor Deus lhe dará… Então, não é maior aquele que dá do que aquele que recebe? E o que recebe, acaso já possuía o que recebe?”

Nós, porém, irmãos, escutemos tais palavras do anjo, não como os pérfidos hereges, mas como verdadeiros fiéis; sejam-nos fundamento para a fé, não pretexto para o erro. “O Senhor Deus lhe dará”. Que Deus? O próprio Verbo, que era, no princípio, Deus 2. A quem dará? Ao que se fez carne e habitou entre nós. Ouçamos ao Apóstolo, que diz: “Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo” 3. Consigo, não com outro. Portanto, Deus, que estava em Cristo, se dava a si mesmo o reino, em Cristo, conferindo ao corpo assumido o que desde sempre possuía na divindade.

“Dar-lhe-á o Senhor Deus a sede de Davi seu pai”. Veja-se: quando recebe, chama-se filho de Davi; quando dá, Filho de Deus. Ele mesmo disse: “tudo o que o Pai tem é meu” 4. De onde, pois, vem essa necessidade de receber, se existe a posse de tal poder? “Tudo o que o Pai tem é meu”. Quem recebe o que já é seu? Porventura é graça de um doador aquilo que o receptor já possui? Confessemos que houve um receptor, mas foi o que nasceu, o que assumiu a carne e a infância, o que sofreu o presépio e os trabalhos da vida, o que sentiu fome e sede, o que não fugiu às injúrias, o que subiu à cruz e padeceu a morte, o que ingressou no sepulcro; a este atribui, ó herege, a recepção de algo! Por que pensas que Deus despreza receber a honra, se recebeu injúrias? Pensas que lhe aborrece receber do Pai um reino, ele que dos inimigos recebeu afrontas e até a morte? Herege, tudo o que é injúria, temporal, recebido, tudo o que importa diminuição e inclui a morte, entende não dizer respeito à divindade e sim ao corpo! Assim não farás injúria ao Filho, não colocarás distâncias na Trindade.

Mas voltemos ao nosso tema: “Dar-lhe-á o trono de Davi seu pai”. Aquele, pois, que no céu se assenta junto do Pai, na terra recebe o trono de Davi. Aquele que reinou sempre, reina com relação a nós, na herança de Davi, que assume para sempre. Alegremo-nos, amados irmãos, pois quem é, em si, o Rei, se digna reinar em nós. Regozijemo-nos, pois vem reinar na terra a fim de que nós possamos reinar no céu. Sim, escutai o Apóstolo: “se com ele sofrermos, cem ele reinaremos” 5. Nasceu para nós e vem a nós precisamente para isso: para nos dar um reino! Ele mesmo o prometeu, com as palavras: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a origem do mundo” 6. Preparado para vós, disse ele, não para mim. Virá para ficar sempre entre nós, para estar sempre ante nossos olhos aquele que agora só está em nosso coração. Virá trazer a confiança de sua familiaridade aos que participarão de seu reino. “E seu reino não terá fim!”

Alegrai-vos os que credes em sua vinda, porque vos prometeu um reino, onde os cargos são irremovíveis e as dignidades perpétuas. Quem não ambiciona o infinito? Quem prefere o perecível? Quem, comprando por ouro as honrarias passageiras, não deseja receber gratuitamente as eternas?

Irmãos meus, trata-se aí de cargos, de postos, de dignidades, sim, mas se não se der crédito à verdade do Evangelho não se obterão tais prêmios eternos. Se nos agrada o serviço de Cristo, se aspiramos militar sempre sob as suas ordens, armemo-nos com as armas de Cristo, vigiemos, sejamos sóbrios, vençamos o demônio, detestemos os vícios. Para podermos alcançar os prêmios e coroas de Jesus Cristo nosso Senhor, que com o Pai reina agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

Notas:
[1] Fl 2, 11;
[2] Jo 1, 1;
[3] 2Cor 5, 19;
[4] Jo 17. 10;
[5] 2Tm 2, 12;
[6] Mt 25, 34.

Fonte

Filed under: Sermões

Veni Veni Emmanuel

Tradução para o inglês:

VENI veni, Emmanuel
captivum solve Israel,
qui gemit in exsilio,
privatus Dei Filio.
R: Gaude! Gaude! Emmanuel,
nascetur pro te Israel!

O COME, O come, Emmanuel,
and ransom captive Israel,
that morns in lonely exile here
until the Son of God appear.
R: Rejoice! Rejoice! O Israel,
to thee shall come Emmanuel!

Veni, O Sapientia,
quae hic disponis omnia,
veni, viam prudentiae
ut doceas et gloriae. R.

O come, Thou Wisdom, from on high,
and order all things far and nigh;
to us the path of knowledge show,
and teach us in her ways to go. R.

Veni, veni, Adonai,
qui populo in Sinai
legem dedisti vertice
in maiestate gloriae. R.

O come, o come, Thou Lord of might,
who to thy tribes on Sinai’s height
in ancient times did give the law,
in cloud, and majesty, and awe. R.

Veni, O Iesse virgula,
ex hostis tuos ungula,
de spectu tuos tartari
educ et antro barathri. R.

O come, Thou Rod of Jesse’s stem,
from ev’ry foe deliver them
that trust Thy mighty power to save,
and give them vict’ry o’er the grave. R.

Veni, Clavis Davidica,
regna reclude caelica,
fac iter tutum superum,
et claude vias inferum. R.

O come, Thou Key of David, come,
and open wide our heav’nly home,
make safe the way that leads on high,
that we no more have cause to sigh. R.

Veni, veni O Oriens,
solare nos adveniens,
noctis depelle nebulas,
dirasque mortis tenebras. R.

O come, Thou Dayspring from on high,
and cheer us by thy drawing nigh;
disperse the gloomy clouds of night
and death’s dark shadow put to flight. R.

Veni, veni, Rex Gentium,
veni, Redemptor omnium,
ut salvas tuos famulos
peccati sibi conscios. R.

O come, Desire of the nations, bind
in one the hearts of all mankind;
bid every strife and quarrel cease
and fill the world with heaven’s peace. R.

Filed under: Música

Preparação

Sermão para a Natividade de São Gregório Nazianzeno

Jesus Cristo nasceu, rendei-lhe glória! Cristo desceu dos céus, correi para ele! Cristo está sobre a terra, exaltai-o! “Cantai ao Senhor, terra inteira. Alegria no céu; terra, exulta de alegria!” (Sl 96,1.11). Do céu, ele vem habitar no meio dos homens; estremecei de temor e de alegria: de temor, por causa do pecado; de alegria, por causa da nossa esperança. Hoje, as sombras se dissipam e a luz se eleva sobre o mundo; como outrora no Egipto envolto em trevas, hoje uma coluna de fogo ilumina Israel. O povo, que estava sentado nas trevas da ignorância, contempla hoje essa imensa luz do verdadeiro conhecimento porque “o mundo antigo desapareceu, todas as coisas são novas” (2 Co 5,17). A letra recua, o espírito triunfa (Rm 7,6); a prefiguração passa, a verdade aparece (Col 2,17).

Aquele que nos deu a existência quer também inundar-nos de felicidade; essa felicidade que o pecado nos havia feito perder, a incarnação do Filho nos devolve… Tal é esta solenidade: saudamos hoje a vinda de Deus ao meio dos homens para que possamos, não chegar mas regressar para junto de Deus; a fim de que nos despojemos do homem velho e nos revistamos do Homem novo (Col 3,9), a fim de que, mortos em Adão, vivamos em Cristo (1 Co 15,22)… Celebremos pois este dia, cheios de uma alegria divina, não mundana, mas uma verdadeira alegria celeste. Que festa, este mistério de Cristo! Ele é a minha plenitude, o meu novo nascimento.


Fonte

Filed under: Sermões

São Gregório Nazianzeno

bogoslov

Doctor de la Iglesia, nacido en Arianzo, en Asia Menor, c. 325; murió en el mismo lugar, 389. Fue hijo -uno de tres- de Gregorio, obispo de Nacianzo (329-374), en el suroeste de Capadócea, y de Nonna, una hija de padres cristianos. El padre del santo fue originalmente un miembro de la secta herética de los Hypsistarianos, y fue convertido a la catolicidad por la influencia de su piadosa esposa. Sus dos hijos, quienes parece nacieron entre las fechas de la ordenación de su padre y su consagración episcopal, fueron enviados a la famosa escuela de Cesarea, capital de Capadocea, y allí educados por Carterio, probablemente el mismo quien fue después tutor de San Juan Crisóstomo. Aquí comenzó la amistad entre Basilio y Gregorio que íntimamente afectó sus vidas, así como el desarrollo de la teología de su época. De Cesarea de Capadócea Gregorio procedió a Cesarea de Palestina, donde estudió retórica bajo Tespesio; y después a Alejandría, en la cual Atanasio era obispo, mientras al mismo tiempo estaba en el exilio. Partiendo por mar desde Alejandría hacia Atenas, Gregorio se perdió en una gran tormenta, y algunos de sus biógrafos infieren -aunque el hecho no es preciso- que mientras estaban en peligro de muerte, él y sus acompañantes recibieron el rito del bautismo. Ciertamente Gregorio no había sido bautizado en la infancia, pero fue dedicado a Dios por su piadosa madre, y hay alguna autoridad para creer que recibió los sacramentos, no en su viaje a Atenas, sino a su regreso a Nacianzo algunos años después. En Atenas Gregorio y Basilio, quienes se habían separado en Cesarea, se reencontraron, y renovaron su amistad de juventud, estudiando retórica juntos bajo los famosos profesores Himerio y Prohaeresios. Entre sus compañeros estudiantes se encontraba Juliano, después conocido como el apóstata, cuyo carácter real acierta Gregorio en haber discernido entonces y desconfiar enteramente de él. El estudio de los santos en Atenas (el cual dejó Basilio antes que su amigo) se extendió alrededor de diez años; y cuando partió en el 356 a su provincia nativa, visitando Constantinopla en su camino a casa, tenía alrededor de 30 años de edad.

Llegado a Nacianzo, donde sus padres se encontraban ya en edad avanzada, Gregorio, quien tenía para este tiempo firmemente resuelto dedicar su vida y talentos a Dios, ansiosamente consideraba el plan de su futura carrera. A un hombre joven con sus altos logros una distinguida carrera secular estaba abierta, fuera como abogado o como profesor de retórica; pero sus anhelos eran por la vida monástica o ascética, aunque esto no se mostraba compatible ni con los estudios de la Escritura en los cuales estaba profundamente interesado, ni con sus labores filiales en el hogar. Como era natural, consultó a su amado amigo Basilio en su perplejidad sobre su futuro; y él nos ha dejado en sus propios escritos la interesantísima narrativa de su intercomunicación en este tiempo, y de su común resolución (basada en algunos diferentes motivos, de acuerdo con las decididas diferencias de sus propios caracteres) de renunciar al mundo por el servicio únicamente de Dios. Basilio se retiró al Ponto para llevar una vida de ermitaño; pero descubriendo que Gregorio no podía unírsele allí, regresó y se estableció primero en Tiberina (cerca del propio hogar que Gregorio), luego en Neocesarea, en el Ponto, donde vivió en santo retiro por algunos años, y reunió a su derredor una hermandad de cenobitas, entre quienes su amigo Gregorio estuvo incluido por un tiempo. Tras un descanso de dos o tres años allí, durante los cuales Gregorio editó, junto con Basilio, algunos de los trabajos exegéticos de Orígenes, además de ayudar a su amigo en la compilación de sus famosa regla, Gregorio regresó a Nacianzo, dejando con lamentos la pacífica vida de ermitaño donde él y Basilio (como recuerda en su subsiguiente correspondencia) habían pasado un tiempo tan placentero en la labor tanto caritativa como intelectual. A su regreso a casa Gregorio fue útil en traer de nuevo la ortodoxia a su padre quien, quizás en parte a su ignorancia, había suscrito las creencias heréticas de Rimini; y el anciano obispo, deseando la presencia y apoyo de su hijo, transigió su escrupulosa simplificación del sacerdocio, y le obligó a aceptar la ordenación (probablemente en Navidad, 361). Herido y afligido por la presión puesta sobre él, Gregorio huyó de vuelta a su soledad, y a la compañía de san Basilio; pero tras la reflexión de algunas semanas regresó a Nacianzo, donde predicó su primer sermón del domingo de Pascua, y enseguida escribió la notable oración apologética, que es en realidad un tratado acerca del oficio sacerdotal, el fundamento del “De Sacerdotio” de Crisóstomo, del “Cura Pastoris” de Gregorio el Grande, y de incontables escritos subsiguientes sobre el mismo tema.

Durante los siguientes años la vida de Gregorio en Nacianzo se vio entristecida por las muertes de su hermano Cesario y de su hermana Gorgonia, en cuyos funerales predicó dos de sus más elocuentes oraciones, las cuales todavía existen. Por este tiempo Basilio fue hecho Obispo de Cesarea y metropolitano de Capadócea, y poco después el emperador Valencio, quien estaba celoso de la influencia de Basilio, dividió Capadocea en dos provincias. Basilio continuó reclamando jurisdicción eclesiástica, como antes, sobre la provincia entera, mas esto fue disputado por Antimo, obispo de Tiana, y jefe de la ciudad de Nueva Capadocea. Para fortalecer su posición Basilio fundó una nueva visión en Sásima, resuelto a tener a Gregorio como su primer obispo, y de acuerdo con esto lo hizo consagrar, aunque en gran manera contra su voluntad. Gregorio, sin embargo, se opuso a Sásima desde el comienzo; se consideraba él mismo completamente inadecuado para el lugar, así como el lugar lo era para él; y no pasó mucho antes de que abandonara la diócesis y regresara a Nacianzo como ayudante de su padre. Este episodio de la vida de Gregorio fue desafortunadamente la causa de un extrañamiento entre Basilio y él que nunca fue del todo sanado; además no hay registro existente de ninguna subsiguiente correspondencia entre ellos tras el retiro de Sásima por Gregorio. Mientras se ocupaba asiduamente con las tareas de ayudante de su anciano padre, este murió a principios del 374, y su esposa Nonna pronto lo siguió a la tumba. Gregorio, quien ahora se encontraba sin lazos familiares, dedicó a los pobres la vasta fortuna que había heredado, conservando para sí tan sólo un pequeño pedazo de tierra en Arianzo. Continuó administrando la diócesis por dos años, rehusando, sin embargo, volverse el obispo, y de continuo urgiendo en la designación de un sucesor para su padre. Al final del 375 se retiró a un monasterio en Seleuci, viviendo allí en soledad alrededor de tres años, y preparándose (aunque él no lo sabía) para lo que sería el trabajo estelar de su vida. Hacia el final de este periodo murió Basilio. El propio estado de salud de Gregorio no le permitió estar presente ni en su lecho de muerte ni en su funeral; pero sí escribió una carta de condolencias al hermano de Basilio, Gregorio de Nisa, y compuso doce hermosos poemas memoriales o epitafios a su difunto amigo.

Tres semanas después de la muerte de Basilio, Teodosio fue promovido por el emperador Graciano a la dignidad de emperador de Oriente. Constantinopla, la sede de su imperio, había sido por el espacio de alrededor de treinta años (desde la muerte del santo y mártir obispo Pablo) prácticamente otorgado al arrianismo, con un prelado arriano, Demófilo, entonado en santa Sofía. El remanente de los perseguidos católicos, sin iglesia ni pastor, apelaron a Gregorio para que fuera y se colocara él mismo a la cabeza y organizará sus diezmadas fuerzas; y muchos obispos apoyaron el llamado. Tras mucha incertidumbre dio su consentimiento, encaminándose a Constantinopla en los comienzos del año 379, y comenzó su misión en una casa privada que él describe como “el nuevo silo donde el Arca fue reparada”, y como “una Anastasia, la escena de la resurrección de la fe”. No solamente los fieles católicos, sino que también muchos herejes se reunieron en la humilde capilla de Anastasia, atraídos por la santidad de Gregorio, su aprendizaje y elocuencia; y fue en esta capilla donde entregó los cinco maravillosos discursos de la fe de Nicea -desdoblando la doctrina de la Trinidad mientras salvaguardaba la Unidad de la substancia de Dios- lo que le ganó, sólo a él de entre todos los maestros cristianos exceptuando al apóstol Juan, el título especial de el Teólogo o el Divino. También en este tiempo otorgó los elocuentes panegíricos sobre San Cipriano, San Anastasio, y los Macabeos, los que se encuentran entre los más finos trabajos oracionales. Mientras tanto se encontró a sí mismo expuesto a persecución de todo tipo desde el exterior, y de hecho fue atacado en su propia capilla, mientras bautizaba a sus neófitos de la Pascua, por una turba hostil de arrianos de Santa Sofía, entre ellos contando monjes arrianos y mujeres enfurecidas. Se entristeció, también, por disensiones entre su propio pequeño rebaño, algunos de los cuales abiertamente lo acusaron de sostener errores triteístas. San Jerónimo se volvió su discípulo y pupilo por ese entonces, y nos cuenta en reluciente lenguaje cuanto le debió a su erudito y elocuente maestro. Gregorio fue consolado por la aprobación de Pedro, patriarca de Constantinopla (la opinión de Duchesne de que el patriarca estuvo desde el principio celoso o suspicaz de la influencia del obispo capadóceo en Constantinopla no parece suficientemente apoyada por evidencia), y Pedro parece haber estado deseoso de verlo a él enfocado en el obispado de la capital del Este. Gregorio, sin embargo, desafortunadamente se dejó impresionar por un aventurero plausible llamado Hero, o Máximo, quien vino a Constantinopla desde Alejandría en la guisa (cabello largo, túnica blanca, y báculo) de un cínico, y profesaba ser un converso al cristianismo, y una ardiente admirador de los sermones de Gregorio. Gregorio le entretuvo hospitalariamente, le dio su completa confianza, y pronunció un panegírico público sobre él en su presencia. Las intrigas de Máximo para obtener el obispado para sí mismo encontraron apoyo en varias localidades, incluida Alejandría, la cual el patriarca Pedro, por qué precisa razón no es sabido, había tornado en contra de Gregorio; y ciertos obispos egipcios depuestos por Pedro, repentinamente, y en la noche, consagraron y entronaron a Máximo como obispo católico de Constantinopla, mientras Gregorio estaba confinado en cama por enfermedad. Los amigos de Gregorio, sin embargo, cerraron filas a su alrededor, y Máximo tuvo que huir de Constantinopla. El emperador Teodosio, a quien había recurrido, se rehusó a reconocer a ningún otro obispo que a Gregorio, y Máximo se retiró en desgracia a Alejandría.

Teodosio recibió cristiano bautizo a comienzos del 380, en Tesalónica, e inmediatamente dirigió un edicto a sus súbditos en Constantinopla, ordenándoles adherirse a la fe enseñada por San Pedro, y profesada por el Pontífice romano, quien solo merecía ser llamado católico. En noviembre, el emperador entró en la ciudad y llamó a Demófilo, el obispo arriano, a suscribirse al credo Niceno: pero se negó a hacerlo, y fue desterrado de Constantinopla. Teodosio determinó que Gregorio debía ser obispo en la nueva visión católica, y él mismo emperador le acompañó a Santa Sofía, donde fue entronado en presencia de una inmensa multitud, la cual manifestaba sus sentimientos mediante aplausos y otros signos de regocijo. Entonces fue Constantinopla restaurada a la unidad católica; el emperador, mediante un nuevo edicto, devolvió todas las iglesias para el uso católico; a los arrianos y otros herejes se les prohibió sostener asambleas públicas; y el nombre de católico fue restringido a los asiduos de la fe ortodoxa y católica.

Gregorio apenas se había establecido en el trabajo de la administración de la diócesis de Constantinopla, cuando Teodosio llevó a cabo su largamente anhelado propósito de convocar ahí un concilio general de la iglesia oriental. Ciento cincuenta obispos se reunieron en concilio, en mayo, 381, siendo el objeto de la asamblea, como Sócrates plenamente declara, confirmar la fe de Nicea, y nombrar un obispo para Constantinopla (véase CONSTANTINOPLA, PRIMER CONCILIO DE). Entre los obispos presentes había treinta y seis sosteniendo opiniones semi-arrianas o macedonias; ni los argumentos de los prelados ortodoxos ni la elocuencia de Gregorio, quien predicó en Pentecostés, en Santa Sofía, sobre el tema del Espíritu Santo, consiguió persuadirles en afirmar el credo ortodoxo. En cuanto al nombramiento del obispado, la confirmación de Gregorio a la visión sólo podía ser mera formalidad. Los obispos ortodoxos estuvieron todos a favor, y la objeción (lanzada por los prelados egipcios y macedonios quienes se unieron al concilio más tarde) de que esta traslación de una visión a otra era una imposición al canon del concilio de Nicea obviamente era infundada. Era bien conocido el hecho de que Gregorio, después de su forzada consagración a instancias de Basilio, nunca había entrado en posesión de la visión de Sásima y que después había ejercitado sus funciones episcopales en Nacianzo, no como obispo de esa diócesis, sino como mero ayudante de su padre. Gregorio sucedió a Melito como presidente del concilio, en lo que se encontró llamado a lidiar con la difícil cuestión de nombrar un sucesor del difunto obispo. Había un acuerdo entre las dos partes ortodoxas en Antioquia, de donde Melito y Paulino habían sido respectivamente obispos, de que el sobreviviente de cualquiera de los dos debía quedar como único obispo. Paulino, sin embargo, era un prelado de origen y crianza occidental, y los obispos orientales reunidos en Constantinopla renunciaron a reconocerlo. En vano Gregorio pidió, en aras de la paz, la permanencia de Paulino en la visión durante el remanente de su vida, ya bastante avanzada; los padres del concilio rehusaron oír el consejo, y resolvieron que Melito debía ser sucedido por un sacerdote oriental. “Fue en Oriente donde Cristo nació”, fue uno de los argumentos que ofrecieron; y el reproche de Gregorio, “Sí, y fue en Oriente donde fue sentenciado a morir”, no hizo vacilar su decisión. Flaviano, un obispo de Antioquia, fue electo para la visión vacante; y Gregorio, quien narra que el único resultado de su apelación fue “un gemido como el de una parvada de grajillas (especie de cuervo N. del T.)” mientras que los miembros más jóvenes del concilio “le atacaron como un enjambre de avispas”, renunció al concilio, y también dejó su residencia oficial, cerca del iglesia de los Santos Apóstoles.

Gregorio llegó a la conclusión de que no sólo la oposición y desilusión con las que se había encontrado en el concilio, sino que también su continua propensión a la enfermedad, justificaban, y en verdad demandaban, su renuncia a la visión de Constantinopla, que él había sostenido por tan sólo unos cuantos meses. Volvió a aparecer ante el concilio, culpado de estar listo para ser otro Jonás para apaciguar las violentas olas, y que todo lo que deseaba era descansar de sus labores, y tiempo de quietud para prepararse para morir. Los padres no hicieron protesta contra su anuncio, el cual algunos de ellos sin duda escucharon con secreta satisfacción; y de una vez Gregorio requirió y obtuvo permiso del emperador para renunciar a su visión. En junio, 381, predicó un sermón de despedida ante el consejo y en presencia de una abundante congregación. La peroración de su discurso es de belleza singular y conmovedora, e insuperable incluso entre sus muchas otras elocuentes oraciones. Tras esto dejó Constantinopla muy pronto (Nectario, un nativo de Sicilia, fue escogido para sucederle en el obispado), y se retiró a su antiguo hogar en Nacianzo. Sus dos cartas restantes dirigidas a Nectario en este tiempo son notables en tanto que aportan evidencia, por el espíritu y tono de ellas, de que él estuvo actuando por ningún otro sentimiento más que por aquellos interesados en la buena voluntad para con la diócesis de la cual estaba renunciando a su cuidado, y para con su sucesor en la sede episcopal. A su regreso a Nacianzo, Gregorio encontró la iglesia ahí en una condición miserable, estando infestada con la enseñanza errónea de Apolinaro el joven, quien se separó de la comunión católica unos pocos años antes, y murió poco después que Gregorio mismo. La preocupación de Gregorio era ahora la de encontrar un educado y celoso obispo que fuera capaz de drenar la inundación de herejía que amenazaba con abrumar la iglesia cristiana en ese lugar. Todos sus esfuerzos fueron al principio infructíferos, y consintió a la larga con mucha renuencia a tomar la administración de la diócesis él mismo. Combatió por un tiempo, con su usual elocuencia y tanta energía como quedaba en él, la falsa enseñanza de los adversarios de la Iglesia; pero se sentía él mismo muy debilitado en su salud para continuar el trabajo activo del episcopado, y le escribió al arzobispo de Tiana suplicándole en que proviniera con el nombramiento de un nuevo obispo. Su solicitud fue concedida, y su primo Eulalio, un sacerdote de santa vida a quien se encontraba muy ligado, fue idóneamente nombrado a la visión de Nacianzo. Esto fue a finales del año 383, y Gregorio, feliz de ver el cuidado de la diócesis confiada a un hombre conforme a su propio corazón, inmediatamente se retiró a Arianzo, el escenario de su nacimiento e infancia, donde pasó los restantes años de su vida en retiró, y en labores literarias, las cuales congeniaban mucho más con su carácter de lo que lo hacía el acoso del trabajo de la administración eclesiástica en aquellos problemáticos y tormentosos tiempos.

Volviendo la vista a la carrera de Gregorio, el difícil no sentir que desde el día en que fue impelido a aceptar las ordenaciones sacerdotales, hasta aquel que le vio regresar de Constantinopla a Nacianzo para terminar su vida en el retiro y la obscuridad, pareció estar constantemente puesto, mediante ninguna iniciativa suya, en posiciones aparentemente inadecuadas para su disposición y temperamento, y realmente no calculadas para el llamado del ejercicio de las más notables y atractivas cualidades de su mente y corazón. Afectivo y tierno por naturaleza, de un temperamento altamente sensitivo, simple y humilde, vigoroso y animoso por disposición, aunque susceptible a la irritabilidad y al decaimiento, constitutivamente tímido, y algo deficiente, como parece, en decisión de carácter y el autocontrol, fue muy humano, muy afable (fácil de amar N. del T.), muy entregado -sin embargo no, uno estaría inclinado a pensar, apto naturalmente para desempeñar la notable parte que desempeñó durante el período precedente y consecuente de la inauguración del Concilio de Constantinopla. Entró a su difícil y arduo trabajo en esa ciudad a sólo unos meses de la muerte de Basilio, el amado amigo de su juventud; y Newman, en su apreciación del carácter y la carrera de Gregorio, sugiere la impactante idea de que el heroico y elevado espíritu de su amigo entró en él, y le inspiró a tomar la importante y activa parte que recayó en él de reestablecer la ortodoxia y la fe católica en la capital oriental del imperio. Su actuar, en efecto, parece más bien a la firmeza e intrepidez, la alta solución y consistente perseverancia, características de Basilio, que a su propio carácter, el de un santo y escolar amable, fastidiado, retirado, temeroso, amante de la paz, quien hizo sonar la trompeta de guerra durante los turbulentos y alterados meses, en los mismísimos cuarteles y resistencias de militancia herética, hasta llegar al real y sofocante peligro a su seguridad, e incluso a su vida que nunca dejó de estar amenazaba. “Que juntos podamos recibir”, dijo en la conclusión del maravilloso discurso que pronunció sobre su difunto amigo, a su regreso a Asia de Constantinopla, “la recompensa del conflicto que hemos cobrado, que hemos prolongado.” Es imposible dudar, leyendo los detalles íntimos que él mismo nos ha ofrecido sobre su larga amistad, y profunda admiración de Basilio, que el espíritu de su pronto y bien amado amigo haya en alto grado modelado e informado su propia personalidad sensitiva e impresionable y que haya sido esto, bajo Dios, lo que le vigorizó e inspiró, tras una vida de lo que parecía, externamente, casi un fracaso, a cooperar en la grandiosa tarea de derrocar la monstruosa herejía que había por tanto tiempo devastado la mayor parte de la cristiandad, y trayendo por largo la pacificación de la Iglesia de Oriente.

Durante los seis años de vida que le quedaron después de su retiro final a su lugar natal, Gregorio compuso, con toda probabilidad, la mayor parte de sus copiosos trabajos poéticos que han llegado a nosotros. Estos incluyen un valioso poema autobiográfico de cerca de 2000 líneas, que forma, por supuesto, una de las más importantes fuentes de información para los hechos de su vida; alrededor de otros cien poemas más cortos relacionados con su carrera pasada, y un gran número de epitafios, epigramas, y epístolas a reconocidas personas de la época. Muchos de sus tardíos poemas personales refieren la continua enfermedad y severo sufrimiento, físicos y espirituales por igual, que lo asediaron durante sus últimos años, y sin duda le asistieron para perfeccionar en él aquellas tantas cualidades que jamás hicieron falta, fuertemente sacudidas a pesar de haber estado en los caminos y golpeteos de vida. En el pequeño pedazo de tierra en Arianzo, todo (como ya sea dicho) lo que le quedó de su rica herencia, escribió y meditó, como él cuenta, en torno a una fuente cerca de la cual había un paraje sombreado, su destino favorito. Allí, también, recibía ocasionales visitas de amigos íntimos, ocasionalmente también de extraños atraídos a su retiro por la reputación de su santidad y educación; y allí pacíficamente respiró por última vez. La fecha exacta de su muerte es desconocida, pero por un pasaje de Jerónimo (De Script. Eccl.) puede ser asignada, con tolerable certeza, al año 389 o 390.

Ahora debe ser dada alguna cuenta de los voluminosos escritos de Gregorio, y de su reputación como orador y teólogo, en lo cual, mas que sobre ningún otra cosa, descansa su fama como una de las más grandes luces en la Iglesia Oriental. Sus trabajos naturalmente caen bajo tres encabezados, puntualmente sus poemas, sus epístolas, y sus oraciones. Mucho, sin embargo de ninguna manera todo, de lo que escribió ha sido conservado, y ha sido frecuentemente publicado, la editio princeps de los poemas fue la Aldina (1504), mientras que la primera edición de sus obras recogidas apareció en París en 1609-11. El catálogo Boedliano contiene más de treinta hojas folio enumerando varias ediciones de los trabajos de Gregorio, de las cuales las mejores y más completas son la edición Benedictina (dos volúmenes folio, comenzada en 1778, terminada en 1840), y la edición de Migne (cuatro volúmenes XXXV-XXXVIII, en P.G., París, 1857-1862).

Composiciones Poéticas

Éstas, como ya se declaró, comprendían versos autobiográficos, epigramas, epitafios y epístolas. Los epigramas han sido traducidos por Thomas Drant (Londres, 1568), los epitafios por Boyd (Londres, 1826), mientras que otros poemas han sido graciosa y encantadoramente parafraseados por Newman en su “Church of the Fathers”. Jerónimo y Suidas dicen que Gregorio escribió más de 30,000 versos; si esta no es una exageración, enteramente dos tercios de ellos se han perdido. Delicados, gráficos, y fluidos como son muchos de sus versos, y dada la amplia evidencia del culto y dotado intelecto que los produjo, no pueden sostenerse en paralelo (la comparación sería una injusta, pues muchos de ellos no fueron expresamente escritos para superar y tomar el lugar de la obra de escritores paganos) las grandes creaciones de los poetas griegos. Aún Villemain, ningún mal crítico, ubica los poemas del rango frontal de las composiciones de Gregorio, y piensa tan altamente de ellos que mantiene que el escritor debe ser llamado, prominentemente, no tanto el teólogo del Oriente como “el poeta de la cristiandad oriental”.

Epístolas en Prosa

Éstas, por consentimiento común, pertenecen a las más finas producciones literarias de la época de Gregorio. Todas las que no sobreviven son composiciones granadas; y que el autor sobresalía en este tipo de composiciones es revelado por una de ellas (Ep. ccix, a Nicóbulo) en la cual se explaya con admirable razón sobre las reglas mediante las cuales todos los escritores de cartas debe guiarse. Fue por pedido de Nicóbulo, quien creía, y correctamente, que estas cartas contenían gran y permanente interés y valor, que Gregorio preparó y editó la colección conteniendo un gran número de las cuales han llegado hasta nosotros. Muchas de ellas son perfectos modelos del estilo epistolar -corto, claro, cobijadas en un admirablemente escogido lenguaje, y en cambio sagaz y profundo, juguetón, afectivo, y tierno.

Oraciones

Tanto en su propio tiempo, como en el general veredicto de la posteridad, Gregorio fue reconocido como uno de los más notables oradores que jamás hayan adornado la iglesia cristiana. Entrenado en las más finas escuelas de retórica de su época, hizo más que justicia a sus distinguidos profesores; y mientras que el pavoneo o la vanagloria fueron ajenas a su naturaleza, él francamente reconocía a conciencia sus notables dones oracionales, y su satisfacción al haber sido habilitado para cultivarlas enteramente en su juventud. Basilio y Gregorio, ha sido dicho, fueron los pioneros de la elocuencia cristiana, moderada en, e inspirada por, la notable y sustancial oratoria de Demóstenes y Cicerón, y calculada para mover e impresionar las más cultas y críticas audiencias de su época. Comparativamente sólo pocas de las numerosas oraciones elaboradas por Gregorio han sido preservadas para nosotros, consistentes en discursos dichos por él en muy variadas ocasiones, pero todas marcadas por las mismas elevadas cualidades. Fallas tienen, por supuesto: largas discreciones, excesivo ornamento, forzadas antítesis, elaboradas metáforas, y ocasional sobre abuso de diatriba. Pero sus méritos son por mucho más grandes que sus defectos, ni nadie puede leerlas sincerar arremetido por su noble fraseología, perfecto dominio del más puro griego, altas potencias imaginativas, lucidez e incisión de pensamiento, fiero celo y transparente sinceridad de intención, por las cuales son distinguidas. Difícilmente alguno de los restantes sermones de Gregorio son exposiciones directas de la Escritura, y por esta razón han sido adversamente criticados. Bousset, sin embargo, apunta con perfecta verdad que muchos de estos discursos realmente son no otra cosa sino hábiles entretejidos de textos de la Escritura, un profundo conocimiento de la cual es evidente desde cada línea de ellos.

Las declaraciones de Gregorio para posicionarse como uno de los más grandes teólogos de la iglesia temprana están basadas, aparte de su reputación entre sus contemporáneos, y el veredicto de la historia a su respecto, principalmente en los cinco grandes “Discursos Teológicos” los cuales pronunció en Constantinopla en el curso del año 380. Al estimar la visión y el valor de estos famosos pronunciamientos, es necesario recordar cuál era la condición religiosa de Constantinopla cuando Gregorio, ante la demandante instancia de Basilio, de muchos otros obispos, y de los adoloridos y cansados católicos de la capital oriental, fue allí mismo a sobrellevar la carga espiritual de los fieles. Fue menor como administrador, o como organizador, que como un hombre de una vida santa y de dones oracionales famoso a lo largo de la Iglesia Oriental, que fue pedido, y consentido, para asumir su difícil misión; y tuvo que ejercitar esos dones al combatir no una sino numerosas herejías las cuales habían estado dividiendo y desolando Constantinopla por muchos años. Arrianismo en cada forma y grado, incipiente, moderado, y extremo, fue desde luego el gran enemigo, pero Gregorio también tuvo que entrar la batalla contra la enseñanza Apolinaria, la cual negaba la humanidad de Cristo, así como en contra de la tendencia cristiana -más tarde desarrollada en Nestorianismo- que distinguía entre el hijo de María y el hijo de Dios como dos distintas y separadas personalidades.

Primero un santo, y después con teólogo, el uno de sus primeros sermones en la Anastasia Gregorio insistió en el principio de referencia al tratar sobre los misterios de la fe (un principio enteramente ignorado por sus oponentes arrianos), y también en la pureza de vida y ejemplo que todo el que tratara con estos elevados asuntos debía mostrar en la práctica si es que su enseñanza iba a ser eficiente. En el primero y segundo de los cinco discursos desarrolla estos dos principios en cierta amplitud, demandando en un lenguaje de maravillosa belleza y fuerza la necesidad de que todo aquel que conociera a Dios correctamente llevara una vida sobrenatural, y se aproximara tan sublime al estudio con una mente pura y libre del pecado. El tercer discurso (sobre el Hijo) está dedicado a la defensa de la doctrina católica de la Trinidad, y a la demostración de su consistencia con la primitiva doctrina de la Unidad de Dios. La existencia externa del Hijo y del Espíritu están reafirmadas, junto con su dependencia en el Padre como origen o principio; y la divinidad del Hijo está argumentada desde la escritura contra los arrianos, cuyo malentendido de varios pasajes de la escritura es expuesta y refutada. En el cuarto discurso, sobre el mismo tema, la unión de la naturaleza de Dios y la naturaleza humana en Cristo encarnado es proclamada y luminosamente probada desde la Escritura y la razón. El quinto y último discurso (sobre el Espíritu Santo) está dirigido parcialmente en contra de la herejía macedonia, que negaba toda la divinidad del Espíritu Santo, y también en contra de aquellos que reducían la Tercera Persona de la Trinidad a una mera energía impersonal del Padre. Gregorio, en respuesta a la contienda de que la divinidad del Espíritu no está expresada en la Escritura, cita y comenta diversos pasajes que enseñan la doctrina por implicación, añadiendo que la completa manifestación de esta gran verdad estaba planeada para ser gradual, siguiendo la revelación de la divinidad del Hijo. Es de hacerse notar que Gregorio en este momento formula la doctrina de la Doble Procesión, aunque en esta luminosa exposición de la doctrina trinitaria hay muchos pasajes que parecen anticipar la más completa enseñanza del Quicumque vult. Ningún resumen, siquiera una traducción verbal y fiel, pueden dar alguna idea adecuada de la combinación de sutileza y lucidez de pensamiento, ignorara belleza de expresión, de estos maravillosos discursos, en los cuales, como uno de sus críticos franceses verdaderamente observa, Gregorio “ha sumado y cerrado la controversia de un siglo entero”. La mejor evidencia de su valor y poder descansa en el hecho de que por catorce siglos han sido una veta de donde los más grandes teólogos de la cristiandad han sacado riquezas de sabiduría para ilustrar y sostener sus propias enseñanzas sobre los más profundos misterios de la Fe Católica.

Acta SS.; Vidas prefijas a MIGNE, P.G. (1857) XXXV, 147-303; Lives of the Saints collected from Authentick Records (1729), II; BARONIUS, De Vita Greg. Nazianz. (Rome, 1760); DUCHESNE, Hist. Eccl., ed. BRIGHT (Oxford, 1893), 195, 201, etc.; ULLMAN, Gregorius v. Nazianz der Theologe (Gotha, 1867), tr. COX (Londone, 1851); BENOIT, Saint Greg. de Nazianze (Paris, 1876); BAUDUER, Vie de S. Greg. de Nazianze (Lyons, 1827); WATKINS in Dict. Christ. Biog., s. v. Gregorius Nazianzenus; FLEURY, Hist. Ecclesiastique (Paris, 1840), II, Bk. XVIII; DE BROGLIE, L’eglise et l’Empire Romain au IV siecle (Paris, 1866), V; NEWMAN, The arians of the Fourth Century (London, 1854), 214-227; IDEM, Church of the Fathers in Historical Sketches; BRIGHT, The Age of the Fathers (London, 1903), I, 408-461; PUSEY, The Councils of the Church A.D. 31 – A.D. 381 (Oxford, 1857), 276-323; HORE, Eighteen Centuries of the Orthodox Greek Church (London, 1899), 162, 164, 168, etc; TILLEMONT, Mem. Hist. Eccles., IX; MASON, Five Theolog. Discourses of Greg. of Nazianz. (Cambridge, 1899).

Fonte

Filed under: São Gregório Nazianzeno

São Gregório Nazianzeno

Etienne Gilson

Foi na escola de Cesaréia de Capadócia, fundada por Orígenes depois de sua fuga de Alexandria, que Gregório Nazianzeno, com freqüência chamado Gregório, o Teólogo (329-389), estudou inicialmente.

Ele prosseguiu seus estudos em Atenas, em companhia de um de seus condiscípulos de Cesaréia, que um dia seria são Basílio. Gregório parece inclusive ter prolongado bastante sua permanência em Atenas para aí ensinar, por sua vez, a eloqüência. Só recebeu o batismo em aproximadamente 367, quando de sua volta a Cesaréia. Ordenado padre, depois elevado ao episcopado, sem ter, ao que parece, ambicionado nem uma nem outra dignidade, permaneceu sempre um orador, um escritor, um poeta, inimigo das responsabilidades da vida pública, voltado para a vida interior, a ascese e a contemplação. Deve seu título honorífico – Gregório, o Teólogo -a um grupo de cinco sermões (XXVII-XXXI) dentre os quarenta e cinco que dele possuímos e que são designados pelo título distinto de Discursos teológicos (em 380). Contêm uma exposição do dogma da Trindade, que se tornou clássica na história da teologia cristã, e nos informam sobre a situação intelectual dos cristãos na época em que foram pronunciados.

Falando dos Padres da Igreja, pensamos principalmente no uso que fizeram da filosofia para definir o dogma e corremos o risco de esquecer seus adversários, que, na mesma época, esforçavam-se, ao contrário, por utilizar a fé cristã para alimentar com ela sua filosofia. A heresia de Ário parece ter nascido, em larga medida, desse desejo de trazer a religião para os limites da razão. Gregório Nazianzeno e Basílio encontraram-se em presença de uma atitude análoga à dos teístas do século XVII, isto é, de uma racionalização do dogma cristão espontaneamente efetuada por espíritos sensíveis ao valor explicativo da fé cristã, mas preocupados em reduzir o que ela continha de mistérios às normas do conhecimento metafísico. A preocupação de racionalidade que o arianismo atesta em toda parte contribuiu muito para seu imenso êxito, e não se deve esquecer que o objeto da luta que os Padres travaram contra ele era nada menos que a própria fé cristã. Tratava-se de saber se a metafísica absorveria o dogma ou se o dogma absorveria a metafísica. Gregório Nazianzeno, precisamente, encontrava diante de si um adversário de peso na pessoa do ariano Eunômio (falecido em cerca de 395). Para esse chefe de seita e seus discípulos, o mundo dependia de um Deus único, concebido como sendo essencial e supremamente essência, substância ou realidade (ousia). Absolutamente simples, essa essência divina exclui toda pluralidade de atributos. Tudo o que se pode dizer a seu respeito é que ela existe, absolutamente. Como na doutrina do próprio Ário, o Deus de Eunômio é, pois, antes de mais nada, caracterizado pela necessidade de ser que já definia a ousia de Platão. Portanto, será concebido antes de mais nada como “não tornado” ou “não gerado”, isto é, como desfrutando do privilégio único da “inascibili-dade”. Daí decorre naturalmente a conseqüência de que o Verbo, que é o Filho, sendo gerado, é inteiramente dessemelhante (anomoios) ao Pai e em nada consubstancial (homoousios) a ele. Como o demiurgo do Timeu, que fez deuses, e os fez eternos, o Deus de Eunômio pôde fazer do Filho um deus por adoção, associou-o de antemão à sua própria divindade e à sua própria glória, mas não pôde realizar a contradição de fazer que o gerado fosse consubstancial ao inascível. Reprova-se por vezes a Eunômio os “sofismas” que ele empregava para ajustar-se ao dogma. Talvez seja equivocar-se quanto a suas intenções. Eunômio não procurava delimitar o mistério com uma fórmula preocupada com defini-lo e situá-lo, mas sim trazê-lo ao plano do inteligível.

Desse ponto de vista, sua lógica era correta. Se o Filho é consubstancial ao Pai, o Pai gerou a si mesmo e o inascível nasceu dele. Como os dialéticos do século XII, Eunômio teve como único erro eliminar o mistério em nome da lógica. Se nasceu, dizia do Filho, é porque não existia antes de nascer. Em vez de falar do Deus cristão na língua de Platão, Eunômio fazia do demiurgo de Platão o Pai do Verbo cristão.

Compreende-se melhor, com isso, um dos traços mais constantes da atitude de Gregório Nazianzeno e o sentido da sua obra. No admirável Sermão XXXVI, intitulado Sobre ele mesmo, em que procura explicar por que os ouvintes de Constantinopla acotovelavam-se em torno da sua cátedra, Gregório alega como motivo principal que, numa época em que a filosofia invade tudo, ele contentou-se em beber na fonte da fé. O que falta aos filósofos, aos sofistas e aos sábios de seu tempo é precisamente a sabedoria. Se eles descarregarem um pouco o barco, este só flutuará melhor. Voltar aos costumes e à fé dos cristãos, eis o verdadeiro remédio. E é por conselhos do mesmo gênero aos filósofos que Gregório abre, no Sermão XXVII, a série de suas Theologica. Dirigindo-se aos eunomianos, adjura-os a voltarem primeiro à simplicidade da fé, o que exige que eles primeiro se purguem de seus vícios e não se apliquem à meditação das Escrituras, não para as julgar e criticar na qualidade de filósofos (XXVII, 6), mas para se submeter a elas. Não é, aliás, que o próprio Gregório renuncie a filosofar. Muito ao contrário, ele exige o direito de discutir o mundo ou os mundos, a matéria, a alma, os seres racionais, os bens e os males, a ressurreição, o julgamento, os sofrimentos de Cristo, recompensas e castigos. Nada mais legítimo, desde que se o faça com moderação, depois de ter-se instruído das Escrituras, para depois instruir os outros. Assim é, de fato, a teologia (Sermão XXVIII), não a desses “teólogos profanos”, que tudo resolvem, mas a dos cristãos, que se exprimem comedidamente diante da incompreensibilidade de Deus.

Apoiando-se ao mesmo tempo nas Escrituras e na razão, Gregório estabelece primeiro, contra Epicuro, que Deus não é um corpo, não está circunscrito por nenhum lugar, depois, desculpando-se por parecer ceder ao furor de debater sobre tudo o que grassa em seu tempo (Sermão XXVIII 11), empreende a exposição, ponto por ponto, da noção cristã de Deus, pelo menos aquela que é concebível à luz do que o próprio Deus nos ensina a esse respeito. Porque é isso o essencial e como que o ponto de partida da filosofia (XXVIII, 17): se, como ensinam os próprios filósofos, Deus é incompreensível, nossa única chance de conhecê-lo consiste em nos instruirmos primeiro acerca do que ele mesmo nos diz de Si. Portanto, é tão-somente a partir daí que Gregório consente especular, mas, fortalecido por essa garantia, o faz sem escrúpulo. A existência de Deus pode ser conhecida a partir da ordem do mundo, cuja existência e cuja disposição não se explicam razoavelmente pelo acaso. Portanto, é preciso admitir um Logos para explicá-la. Se podemos, assim, saber que Deus é, não podemos saber o que ele é. Esse segredo, que o envolve, ensina-nos a humildade, mas provoca-nos, apesar disso, à busca. Seguramente, sabemos de antemão que nossos esforços permanecerão vãos em grande medida. O corpo do homem se interpõe entre sua alma e Deus. Imagens sensíveis se mesclam inevitavelmente aos conceitos que formamos dele e nos tornam impossível concebê-lo tal como ele é. O que podemos fazer de mais útil para nos aproximarmos do que seria um conhecimento próprio da natureza divina é negar o que é manifestamente impossível atribuir-lhe. Já dissemos que Deus não é um corpo, ainda que tão sutil quanto o éter, pois é simples; mas tampouco é luz, sabedoria, justiça ou razão, pelo menos no único sentido distinto que esses termos possam ter para nós. Os únicos atributos que mais nos aproximam de um conhecimento positivo de Deus são os que o determinam como ser: a infinidade e a eternidade. Como ele próprio disse a Moisés, Deus é o Ser, e Gregório Nazianzeno teve o grande mérito de dar a essa noção toda a positividade que o pensamento cristão da Idade Média devia reconhecer-lhe. Usando uma fórmula que será popularizada por João Damasceno, Gregório compara Deus a um “oceano de realidade (pélagos ousias) infinita e sem limites, inteiramente emancipada da natureza e do tempo”.
Todas essas noções, hoje familiares a quem conhece um pouco a teologia natural de um autor cristão qualquer, eram reunidas e formuladas aqui pela primeira vez numa língua elegante, em termos acessíveis a todos. Mas Gregório sempre se detém respeitosamente no limiar do mistério. Como o Pai pode ter gerado e como o Filho pode ter sido gerado? Ignoramo-lo. Obstinar-se, como Eunômio, a reduzir o mistério à lógica é dar prova de certa ingenuidade. O Pai, diz ele, gerou um existente e um não-existente, e assim por diante. Vãs questões! Acaso elas não equivalem a representar a geração do Verbo pelo Pai como a de um homem por um homem? Nada é mais frívolo. O fato de o próprio Gregório utilizar termos filosóficos para descrever o mistério não significa, pois, de forma alguma, que ele pretenda esclarecê-lo e, finalmente, dissipá-lo. Como diz com razão A. Puech: “Gregório é profundamente cristão. Se algumas idéias neoplatônicas contribuíram para desenvolver sua teologia, se o que há de mais elevado no cinismo e no estoicismo integra em parte seu ideal ascético, seu pensamento e sua vida sempre foram dirigidos pela fé. Mas ele conservava, arraigado em seu coração, o amor antigo, o amor helénico das letras, o amor da poesia e da retórica. Nunca pensou em renunciar a ele, e se desculpava comprazendo-se no pensamento de que a fé nos foi revelada pelo Verbo divino. Portanto, é preciso que seja o verbo humano a pregá-la. O Verbo divino patrocina e defende a eloqüência; o Logos protege os logoi. Isso não era, para Gregório, um simples trocadilho; para ele, era a própria verdade.” Não se poderia dizer melhor; acrescentemos apenas que, fórmulas à parte, essa atitude de Gregório Nazianzeno é a dos três grandes capadócios.

Filed under: São Gregório Nazianzeno

Santo Irineu de Lyon

Obispo de Lyon, y Padre de la Iglesia. La información sobre su vida es escasa, y hasta cierto punto inexacto. Nació en la Asia Proconsular, o al menos en alguna provincia colindante, en la primera mitad del siglo segundo; la fecha exacta es controversial, entre los años 115 y 125, de acuerdo con algunos, o, de acuerdo con otros, entre el 130 y 142. Es cierto que, aun siendo muy joven, Irineo había visto y escuchado al santo Obispo Policarpo (d. 155) en Esmirna. Durante la persecución de Marco Aurelio, Ireneo fue sacerdote de la Iglesia de Lyon. El clero de la ciudad, muchos de los cuales padecían el encarcelamiento por la Fe, lo envió (177 o 178) a Roma con una carta para el Papa Euleterio respecto al Montanismo, y en dicha ocasión portó un testimonio enfático hacia sus méritos. De regreso a Gaul, Ireneo sucedió al mártir San Potino como Obispo de Lyon.

Durante la paz religiosa que siguió a la persecución de Marco Aurelio, el Nuevo obispo dividió sus actividades entre las tareas de un pastor y las de un misionero (de la cual tenemos pocos datos, tardíos y no muy ciertos) y sus escritos, los cuales casi todos se dirigieron en contra del Gnosticismo, la herejía que se propagaba entre los Galos y otros lugares. En 190 o 191 intercedió ante el Papa Víctor para levantar la sentencia de excomunión impuesta por el pontífice sobre las comunidades Cristianas de Asia Menor las cuales se mantuvieron en la práctica de los Decimocuartos respecto a la celebración de la Pascua. No se sabe nada sobre la fecha de su muerte, la cual debe haber ocurrido al final del segundo o inicio del tercer siglo.

A pesar de algunos testimonios aislados y posteriores para tal efecto, no es probable que terminara su carrera con el martirio. Su fiesta se celebra el 28 de Junio en la Iglesia Latina, y el 23 de Agosto en la Griega.Irineo escribió en Griego muchas obras las cuales le han asegurado un lugar excepcional en la literatura Cristiana, dado que en preguntas religiosas controvertidas de importancia vital exhiben el testimonio de un contemporáneo de la era heroica de la Iglesia, de uno que hubo escuchado a San Policarpo, el discípulo de San Juan, y quién, de cierta manera, perteneció a la Era Apostólica. Ninguno de estos escritos nos han llegado en el texto original, aunque muchos grandes fragmentos de ellos existen como citas en escritos posteriores (Hipólito, Eusebio, etc.). Dos de estas obras, son embargo, nos han llegado enteramente de una versión Latina: Un tratado en cinco libros, comúnmente titulados “Adversus Haereses”, y dedicados, de acuerdo a su verdadero título, a la “Detección y Derrocamiento del Conocimiento Falso”

De esta obra poseemos una traducción Latina muy antigua, la fidelidad escrupulosa de la cual no hay duda. Es el trabajo maestro de Irineo y verdaderamente el de mayor importancia; contiene una exposición profunda no solo del Gnoticismo bajo sus diferentes formas, sino también de las principales herejías que habían surgido en las diversas comunidades Cristianas y por consiguiente constituye una fuente incalculable de información de la literatura eclesiástica más antigua desde sus inicios y hasta el final del siglo segundo. Refutando los sistemas heterodoxos Irineo con frecuencia les opone la verdadera doctrina de la Iglesia, y de esta manera provee de evidencia temprana y muy positiva de gran importancia. Baste mencionar los pasajes, tan frecuente y completamente comentados por los teólogos y escritores polémicos, respecto al origen del Evangelio según San Juan, la Sagrada Eucaristía, y el primado de la Iglesia Romana.De una segunda obra, escrita después del “Adversus Haereses”, una antigua traducción literal en la lengua Armenia. Esta es la, “Prueba de la Predicación Apostólica.” Aquí el objetivo del autor no es cuestionar a los herejes, sino confirmar a los fieles exponiéndoles la doctrina Cristiana y notablemente demostrando la verdad del Evangelio por medio de las profecías del Antiguo Testamento. Aunque fundamentalmente contiene, como quién dice, nada que no haya sido expuesto en el “Adversus Haereses”, es un documento del más alto interés, y un testimonio magnífico de la profunda y viva Fe de Ireneo.

De sus otras obras solo existen fragmentos dispersos; muchos, sin duda, se conocen solo a través de las menciones hechas de ellos por escritores posteriores, ni siquiera nos han llegado los fragmentos de dichas obras. Estos son un tratado en contra de los Griegos titulado “Sobre el Tema del Conocimiento” (mencionado por Eusebio); un escrito dirigido al sacerdote Romano Florino “Sobre la Monarquía, o Como Dios no es la Causa del Mal” (fragmento de Eusebio); una obra “Sobre el Ogdoad (el Octavo)”, probablemente en contra del Ogdoad de Valentino el Gnóstico, escrito para el mismo sacerdote Florino, quién se había cruzado a la secta de los Valentinianos (fragmento de Eusebio); un tratado sobre la escisión, dirigido a Blastus (mencionado por ) del mismo modo, una carta de Eusebio para en contra del sacerdote Romano Florino (fragmento conservado en Siriaco); una carta al mismo sobre las controversias de Pascual (extractos en Eusebio); otras cartas a varios corresponsales sobre el mismo tema (mencionado por , un fragmento conservado en Siriaco); un libro de varios discursos, probablemente una colección de homilías (mencionado por Eusebio); y otras obras menores para las cuales tenemos testimonios menos claros o ciertos. Los cuatro fragmentos que fueron publicados por Pfaff en 1715, ostensiblemente de un manuscrito de Turín, fueron probados por Funk como apócrifos, y Harnack estableció el hecho de que Pfaff mismo los había producido.

Filed under: Santo Irineu de Lyon

São João Crisóstomo

Johannes Quasten

De los cuatro grandes Padres del Oriente y de los tres grandes doctores ecuménicos de la Iglesia griega sólo uno pertenece a la eFaposcuela de Antioquía, San Juan Crisóstomo. Ningún escritor cristiano de la antigüedad tuvo tantos biógrafos y panegiristas como él, desde el escrito más antiguo y mejor de todos, compuesto el año 415 por el obispo Paladio de Elenópolis (cf. supra, p.187), hasta el último, que se escribió en época bizantina. Por desgracia, ninguno aporta los datos necesarios para determinar la fecha exacta de su nacimiento, que debió de ocurrir entre los años 344 y 354. Como su amigo y condiscípulo Teodoro de Mopsuestia, nació en Antioquía en el seno de una familia cristiana noble y acomodada. Su primera educación la recibió de su piadosa madre, Antusa, quien había perdido a su marido contando ella solamente veinte años y cuando Juan era todavía un niño. Aprendió filosofía con Andragathius y retórica con el famoso sofista Libanios (cf. supra, p .233). “A la edad de dieciocho años, cuenta Paladio (5), se rebeló contra los profesores de palabrerías; en llegando a la madurez de espíritu, se enamoró de la doctrina sagrada. Al frente de la iglesia de Antioquía estaba por entonces el bienaventurado Melecio el Confesor, armenio de raza. Reparó en aquel joven tan bien dispuesto y, prendado de la belleza de su carácter, se hacía acompañar de él continuamente, previendo con visión profética el futuro del joven. Habiéndole servido durante tres años, admitido al baño de la regeneración, fue promovido lector.” Durante este período tuvo como maestro de teología a Diodoro de Tarso. Llevaba en casa una vida de estricta mortificación, y se hubiera retirado del mundo a no ser por su madre, que le pidió que no la hiciera viuda por segunda vez (De sacerdotio 1,4). Al fin, sin embargo, terminó dirigiéndose a las montañas vecinas, y encontró allí a un ermitaño anciano, con quien compartió la vida durante cuatro años. “Se retiró entonces a una cueva solo, buscando ocultarse. Permaneció allí veinticuatro meses; la mayor parte del tiempo lo pasaba sin dormir, estudiando los testamentos de Cristo para despejar la ignorancia. Al no recostarse durante esos dos años, ni de noche ni de día, se le atrofiaron las partes infragástricas y las funciones de los riñones quedaron afectadas por el frío. Como no podía valerse por sí solo, volvió al puerto de la Iglesia” (paladio, 5).

Vuelto a Antioquía, el año 381 le ordenó de diácono Melecio y el 386 de sacerdote el obispo Flaviano. Este último le asignó como deber especial el predicar en la iglesia principal de la ciudad. Durante doce años, desde el 386 hasta el 397, cumplió este oficio con tanto celo, habilidad y éxito, que se aseguró para siempre el titulo del más grande orador sagrado de la cristiandad. Fue durante este tiempo cuando pronunció más famosas homilías.

Este período feliz y tranquilo de su vida terminó un tanto ex abrupto cuando el 27 de septiembre del 397 murió Nectario, patriarca de Constantinopla, y para sucederle fue elegido Juan. Como éste no mostrara ningún interés a aceptar el cargo, fue llevado a la capital por orden de Arcadio por la fuerza y con engaño. Se le obligó a Teófilo, patriarca de Alejandría, a consagrarle el 26 de febrero del 398. Inmediatamente Crisóstomo puso manos a la obra en la reforma de la ciudad y del clero, que se habían corrompido en tiempos de su predecesor. Pronto quedó claro, sin embargo, que su nombramiento para la sede de la residencia imperial fue la mayor desgracia de su vida. No encajaba en su nueva posición. Nunca se dio cuenta de la diferencia esencial que existía entre el ambiente envenenado de la residencia imperial y el clima más puro de la capital provinciana de Antioquía. Su alma era demasiado noble y generosa para no perderse en medio de las intrigas de la corte. Su sentido de la dignidad personal era demasiado elevado como para rebajarse a aquella actitud servil hacia las majestades imperiales que le hubiera podido asegurar el favor duradero de los emperadores. Por el contrario, su temperamento ardiente le traicionó no pocas veces, arrastrándole a un lenguaje y a un modo de actuar inconsiderados, si no ofensivos. Su plan de reforma del clero y del laicado era quimérico, y su inflexible adhesión al ideal no produjo más resultado que el de unir en contra suya todas las fuerzas hostiles; él estaba ayuno de la artera diplomacia que incita a un enemigo a pelear con otro.

A pesar de que él mismo daba ejemplo de simplicidad y dedicó sus cuantiosos ingresos a erigir hospitales y a socorrer a los pobres, sus esfuerzos llenos de celo por elevar el tono moral de los sacerdotes y del pueblo encontraron fuerte oposición. Esta se trocó en odio cuando el año 401, en un sínodo de Efeso, mandó deponer a seis obispos culpables de simonía. Entonces sus adversarios de dentro y fuera aunaron sus fuerzas para destruirlo. A pesar de que al principio sus relaciones con la corte imperial habían sido amistosas, la situación cambió rápidamente después de la caída del todopoderoso e influyente Eutropio (399), consejero y secretario favorito del pusilánime emperador Arcadio. La autoridad imperial pasó a manos de la emperatriz Eudoxia, a quien le habían envenenado en contra de Juan, sugiriéndole insidiosamente que las invectivas de este contra el lujo y la depravación iban directamente contra ella y contra su corte. Por añadidura, los propios colegas episcopales de Crisóstomo, Severiano de Gábala, Acacio de Berea y Antíoco de Ptolemaida, hicieron todo lo posible para fomentar el creciente resentimiento de Eudoxia contra el patriarca.

Su intriga tuvo rotundo éxito, especialmente a partir del brusco reproche de Crisóstomo a la emperatriz por haberse apoderado de un solar. Con todo, su enemigo más peligroso era Teófilo de Alejandría, que estaba resentido contra el patriarca de Constantinopla desde que el emperador Arcadio le había obligado a consagrarle. Su antipatía se trocó en rabia cuando el año 402 fue llamado a la capital para responder ante un sínodo presidido por Crisóstomo, de las acusaciones que hicieran contra él los monjes del desierto de Nitria. Teófilo le hizo a aquél responsable de esta citación, y, con la ayuda de la emperatriz, decidió volver las tornas a Crisóstomo. Convocó una reunión de treinta y seis obispos, de los cuales todos menos siete eran de Egipto y todos enemigos de Crisóstomo. Este sínodo, llamado de la Encina, suburbio de Calcedonia, condenó al patriarca de la capital basándose en veintinueve cargos inventados. (Las actas de este sínodo nos las ha conservado Focio, Bibl. cod. 59.) Después que Crisóstomo se negó por tres veces a presentarse ante esta ?corte episcopal,? fue declarado depuesto en agosto del 403. El emperador Arcadio aprobó la decisión del sínodo y le desterró a Bitinia. Esta primera expulsión no duró mucho tiempo, pues fue llamado al día siguiente. Asustada por la desenfrenada indignación del pueblo de Constantinopla y por un trágico accidente que ocurrió en el palacio imperial, la misma emperatriz había pedido su regreso. Crisóstomo volvió a entrar en la capital en medio de una triunfal procesión y pronunció en la iglesia de los Apóstoles un discurso jubiloso, que se conserva todavía (Hom. 1 post reditum). En un segundo discurso, quizás al día siguiente, habló de la emperatriz en los términos más elogiosos (Sozomeno, Hist. eccl. 8,18,8). Esta situación de paz se vio turbada violentamente dos meses más tarde, cuando Crisóstomo se lamentó de los ruidosos e incidentes entretenimientos y danzas públicas que señalaron la dedicación de una estatua de plata de Eudoxia a pocos pasos de la catedral. Sus enemigos no tardaron en presentarlo como una afrenta personal. Profundamente herida, la emperatriz no hizo gran cosa para ocultar su resentimiento; Crisóstomo, por su parte, enfurecido por las pruebas de renovada hostilidad e impulsado por su ardiente temperamento, cometió una imprudencia que fue fatal en sus consecuencias. En la fiesta de San Juan Bautista empezó su sermón con estas palabras: ?Ya se enfurece nuevamente Herodías; nuevamente se conmueve; baila de nuevo y nuevamente pide en una bandeja la cabeza de Juan? (Sócrates, Hist. eccl. 6,18; Sozomeno, Hist. eccl. 8,20). Sus enemigos consideraron esta sensacional introducción como una alusión a Eudoxia y resolvieron asegurar su deportación sobre la base de haber asumido ilegal mente la dirección de una sede de la cual había sido depuesto canónicamente. El emperador ordenó a Crisóstomo que cesara de ejercer las funciones eclesiásticas, cosa que él rehusó hacer. Entonces se le prohibió hacer uso de ninguna iglesia. Cuando él y los leales sacerdotes que le seguían fieles reunieron, en la vigilia de Pascua del año 404, a los catecúmenos en los baños de Constante para conferirles solemnemente el bautismo, la ceremonia quedó interrumpida por la intervención armada; los fieles fueron arrojados fuera y el agua bautismal quedó teñida en sangre (Paladio, 33.34; Sócrates, Hist. eccl. 6,18,14). Cinco días después de Pentecostés, el 9 de junio del 404, un notario imperial informaba a Crisóstomo que tenía que abandonar la ciudad inmediatamente, y así lo hizo. Fue desterrado a Cúcuso, en la Baja Armenia, donde permaneció tres años. Bien pronto su antigua comunidad de Antioquía acudió en peregrinación a ver a su querido predicador. ?Cuando ellos [sus enemigos] vieron que la iglesia de Antioquía emigraba a la iglesia de Armenia y que desde aquí la sabiduría, llena de gracia, de Juan cantaba a la iglesia de Antioquía, desearon cortar rápidamente su vida? (paladio, 38). A petición suya, Arcadio le desterró a Pitio, lugar salvaje en la extremidad oriental del mar Negro. Quebrantado por las penalidades del camino y por verse obligado a caminar a pie con un tiempo riguroso, murió en Comana, en el Ponto, el 14 de septiembre del 407, antes de llegar a su destino. Sus restos mortales fueron traídos en solemne procesión a Constantinopla el 27 de enero del 438 y enterrados en la iglesia de los Apóstoles. El emperador Teodosio II, hijo de Eudoxia (que había muerto ya el 404), salió al encuentro del cortejo fúnebre. Apoyó su rostro sobre el féretro y rogó y suplicó que perdonaran a sus padres el daño que le habían ocasionado por ignorancia? (Τeodoreto, Hist. eccl. 5,36).

Antes de abandonar Constantinopla, Crisóstomo había apelado al papa Inocencio I de Roma y a los obispos Venerio de Milán y Cromacio de Aquileya, y había pedido que se formara un tribunal. Paladio nos ha conservado esta comunicación (Dialog. 8-11). Poco después, Teófilo de Alejandría notificaba al Papa la deposición de Juan. El papa Inocencio se negó a aceptarla y pidió que abriera una investigación un sínodo compuesto de obispos occidentales y orientales. Al ser rechazada esta proposición, el Papa y todo el Occidente rompieron la comunión con Constantinopla, Alejandría y Antioquía hasta que no se diera cumplida satisfacción. Arsacio, primer sucesor de Crisóstomo, murió el 11 de noviembre del 405. Le sucedió Ático. El y sus amigos fueron admitidos nuevamente en la comunión de Roma, pero sólo después que prometieron volver a insertar en los dípticos el nombre de Juan, que ya había muerto entretanto.

Fonte

Filed under: São João Crisóstomo

Orígenes

Giovanni Reale

O pensamento de Orígenes coloca no centro Deus e a Trindade. A chave filosófica em que pensa Deus é a da incorporeidade. Enganam-se aqueles que (interpretando grosseiramente a Bíblia) pensam que Deus seja fogo ou sopro ou então que (como os estóicos) pensam o ser somente como corpo: “Deus não pode ser entendido como corpo”, mas sim como “realidade intelectual e espiritual” e “natureza intelectual simples”. Deus não pode ser conhecido em sua natureza: “Em sua realidade, Deus é incompreensível e inescrutável. Com efeito, podemos pensar e compreender qualquer coisa de Deus, mas devemos crer que ele é amplamente superior àquilo que dele pensamos. (…) Por isso, sua natureza não pode ser compreendida pela capacidade da mente humana, mesmo que seja a mais pura e a mais límpida.” Podem-se ouvir ecos neoplatônicos nessas palavras: com efeito, em Alexandria, Orígenes freqüentou as aulas de Amónio Sacas, cuja escola foi a forja do neoplatonismo. Orígenes chega inclusive a falar de Deus como de “mônadas e ênadas” e usa até mesmo a expressão “acima da inteligência e do ser”, que Plotino tornaria famosa. Entretanto, ele não hesita em considerar Deus também como “Inteligência, fonte de toda inteligência e de toda substância intelectual”, como Ser que dá o ser a todas as coisas, ou melhor, que “participa de tudo aquilo que é ser”, e como Bem ou “Bondade absoluta”, do qual deriva todo outro bem.

O Filho unigênito de Deus, segunda pessoa da Trindade, é “a Sabedoria de Deus substancialmente existente”. E nessa “sabedoria existente estavam contidas virtualidade e forma de toda futura criatura, seja daquelas que existem primariamente, seja daquelas que delas derivam de modo acidental e acessório, todas pré-formadas e dispostas em virtude de presciência”. As Idéias platônicas tornam-se assim a sabedoria de Deus: “E, se tudo foi feito na sabedoria, já que a sabedoria sempre existiu, sempre existiram na sabedoria, pré-constituídos sob a forma de Idéias, os seres que posteriormente iriam ser criados também segundo a substância.” Combatendo gnósticos, adocionistas e modalistas, Orígenes sustenta que o Filho de Deus foi “gerado” ab aeterno pelo Pai e não “criado” como as outras coisas, nem “emanado”: foi gerado por via de atividade espiritual, como, por exemplo, a “vontade” deriva da mente. E “essa geração é eterna e perpétua, assim como o esplendor é gerado pela luz, já que o Filho tornou-se tal não por adoção do Espírito, do exterior, mas é Filho por natureza”. O Filho é “da mesma natureza” (homooúsios) do Pai. Orígenes, entretanto, admite uma certa “subordinação” do Filho ao Pai, do qual é ministro. Esse subordinacionismo reflete indubitavelmente influências da concepção hierárquica do inteligível do medioplatonismo e do nascente neoplatonismo. Enquanto o Pai é unidade absoluta, o Filho, embora também sendo unidade, desenvolve múltiplas atividades e por isso recebe muitos nomes na Escritura, conforme as atividades desenvolvidas. Cristo tem duas naturezas: é verdadeiro Deus e verdadeiro homem (não homem aparente, como pretende a heresia docetista) e, como tal, tem corpo e alma (a alma de Cristo desempenha papel mediador entre o Logos divino e o corpo humano).

Foi Orígenes quem estudou com atenção o Espírito Santo, pela primeira vez, identificando a sua função específica na ação santificante. Ao caracterizar o Pai, o Filho e o Espírito Santo como hierarquia, Orígenes revela mais influências platônicas do que em qualquer outro ponto do seu sistema, como demonstram estas afirmações suas: “Deus Pai, que tudo abrange, chega até cada um dos seres, fazendo-os participar do seu ser e fazendo-os ser o que são. O Filho é inferior em relação ao Pai, alcançando somente as criaturas racionais; com efeito, ele é segundo depois do Pai. Ainda inferior é o Espírito Santo, que só chega aos santos. Por isso, o poder do Pai é maior do que o do Filho e o do Espírito Santo; o do Espírito Santo, por seu turno, é superior em relação ao dos outros seres santos. Por isso, considero que a ação do Pai e do Filho se dirija tanto aos santos como aos pecadores, aos homens dotados de razão e aos animais privados de palavra, bem como aos seres que não têm alma e, em geral, a todos os seres. Já a ação do Espírito Santo não pode dirigir-se em absoluto a seres sem alma ou àqueles que, embora animados, são privados de palavra e nem mesmo àqueles que são dotados de razão, mas estão em poder do mal, não se voltando absolutamente para o bem.” Deve-se observar, ademais, que o “subordinacionismo” de Orígenes foi exagerado por seus adversários, que dele tiraram conclusões indevidas. É bom destacar que Orígenes traça essa hierarquia, mas, ao mesmo tempo, ressalta a identidade de natureza, substância ou essência entre Pai e Filho. Ademais, o que é fundamental, afasta-se de modo bastante claro do neoplatonismo, colocando entre Deus-Trindade e as outras coisas uma separação ontológica através do conceito de criação do nada, de modo que o esquema metafísico segundo o qual a realidade é desenvolvida revela-se completamente diferente do esquema da processão neoplatônica, tanto mais que, na obra Sobre os princípios, ele nos fala de criação ab aeterno das Idéias no Verbo e não de toda a realidade.
A doutrina da criação de Orígenes é bastante complexa. Primeiro, Deus criou seres racionais, livres, todos iguais entre si— e os criou à própria imagem (enquanto racionais). A natureza finita das criaturas e sua liberdade deram origem a uma diversidade no seu comportamento: algumas permaneceram unidas a Deus, outras se afastaram, pecando, por causa de um esfriamento do amor a Deus. E assim nasceu a distinção entre anjos, homens e demônios, conforme tenham permanecido fiéis a Deus, se afastado em certa medida ou se afastado muito de Deus. O corpo e o mundo corpóreo em geral nasceram como conseqüência do pecado. Deus revestiu de corpos as almas que se afastaram parcialmente dele. Mas o corpo não é algo negativo (como para os platônicos e, sobretudo, para os gnósticos): é o instrumento e o meio de expiação e purificação. A alma, portanto, preexistia ao corpo, ainda que não de modo platônico, porque criada do nada. E a diversidade dos homens e de suas condições remonta à diversidade de comportamento na vida anterior (maior ou menor afastamento de Deus).

Uma doutrina típica de Orígenes (derivada dos gregos, embora com notáveis correções) é aquela segundo a qual o “mundo” deve ser entendido como uma série de mundos, não contemporâneos, mas subseqüentes um ao outro: “Deus não começou a agir pela primeira vez quando criou este mundo visível. Acreditamos que, como depois do fim deste mundo haverá um outro, da mesma forma, antes deste houve outros.” Essa visão relaciona-se estreitamente com a concepção origeniana segundo a qual, no fim, todos os espíritos se purificarão, resgatando as suas culpas, mas, para purificarem-se inteiramente é necessário que eles sofram uma longa, gradual e progressiva expiação e correção, passando portanto por muitas reencarnações em mundos sucessivos.

Portanto, para Orígenes, o fim será exatamente igual ao princípio, isto é, tudo deverá tornar a ser como Deus criou. Essa é a célebre doutrina origeniana da apocatástase, ou seja, a reconstituição de todos os seres no estado original. Eis como o nosso filósofo se expressa a respeito: “Consideramos (…) que a bondade de Deus, por obra de Cristo, chamará todas as criaturas a um único fim, depois de ter vencido e submetido também os adversários. (…) Observando tal fim, no qual todos os inimigos estarão sujeitos a Cristo e será destruído inclusive o último inimigo, a morte, e quando Cristo, ao qual tudo estará sujeitado, entregará o reino a Deus Pai, podemos por esse fim conhecer o início das coisas. Com efeito, o fim é sempre semelhante ao início. E como um só é o fim de tudo, assim também devemos entender como um só o início de tudo. E como um só é o fim de múltiplas coisas, assim também de um só início derivaram coisas muito variadas e diferentes, que novamente, pela bondade de Deus, a sujeição de Cristo e a unidade do Espírito Santo, são remetidas a um só fim, que é semelhante ao início.” Então, se isso é verdade, diz Orígenes, “devemos crer que toda esta nossa substância corpórea será retirada a tal condição quando toda coisa for reintegrada para ser uma coisa só e Deus for tudo em todos. Isso, porém, não acontecerá em um só momento, mas lenta e gradualmente, através de infinitos séculos, já que a correção e a purificação advirão pouco a pouco e singularmente: enquanto alguns com ritmo mais veloz se apressarão como primeiros na meta, outros os seguirão de perto e outros ainda ficarão muito para trás. E assim, através de inumeráveis ordens constituídas por aqueles que progridem e, de inimigos que eram, se reconciliam com Deus, chega-se ao último inimigo, a morte, para que também ela seja destruída e não haja mais inimigo.”

Nesse processo, porém, deve-se destacar que, para as criaturas individualmente, pode se verificar tanto um progresso como um retrocesso, ou seja, tanto uma passagem de demônio a homem ou a anjo como, ao contrário, a passagem inversa, antes que tudo retorne ao estado original.
Cristo se encarnou uma só vez neste mundo. Sua encarnação está destinada a permanecer um evento único e irrepetível.

Orígenes exaltou ao máximo o livre arbítrio das criaturas, em todos os níveis de sua existência. No próprio estágio final, será o livre arbítrio de cada uma e de todas as criaturas que, vencido pelo amor de Deus, continuará a aderir a ele, agora, porém, sem mais recaídas.

Orígenes sustenta a tese de que as Escrituras podem ser lidas em três níveis: 1) literal, 2) moral e 3) espiritual, que é o mais importante, mas também de longe o mais difícil.

A importância de Orígenes é notável em todos os campos. Os seus próprios erros devem-se aos excessos de um grande espírito generoso, não a mesquinhos desejos de originalidade. Ele quis ser cristão até as últimas conseqüências, suportanto com heroísmo as torturas que o levariam à morte, para permanecer fiel a Cristo. As próprias doutrinas que não se inserem nos quadros da ortodoxia são explicáveis plausivelmente se colocadas na situação concreta do momento histórico em que Orígenes viveu. E, como ressaltaram muito bem alguns estudiosos, elas revelam um profundo significado “apologético” em favor do cristianismo. Contra as mais disparatadas interpretações, muitas vezes parciais e preconceituosas, hoje vai se delineando uma releitura muito mais equilibrada do nosso filósofo. M. Simonetti, que organizou uma bela tradução de
Os princípios (aqui utilizada por nós), depois de destacar os traços problemáticos e hipotéticos com que o próprio Orígenes propôs certas soluções suas, escreve: “Considerando essas explicações, o pensamento de Orígenes, que, por seu querer, sempre e somente quis ser homem da Igreja, parece-nos substancialmente em harmonia com as premissas fundamentais da fé cristã: basta ver a precisa distinção que ele faz, apesar de seu subordinacionismo, entre o mundo de Deus e o mundo da criação, a precisão com que afirma a criação de todas as coisas do nada, a função central que atribui ao Logos na criação e, após o pecado, na recuperação das criaturas, até a restauração final de todas as coisas em Deus.”

Orígenes foi a mente mais filosófica e “o maior erudito da Igreja antiga” (J. Quasten).

Filed under: Orígenes

Atenção!

Se você acha que a Filosofia Cristã foi superada; que a Igreja é arcaica e precisa progredir; que o Cristianismo é irracional; que os Cristãos são incapazes de responder a críticas; que a Teologia moderna é superior à antiga, retrógrada; que a Patrística pertence a um contexto histórico incompatível com a modernidade; que a Igreja sempre controlou consciências;... Suma desse site. Vá ler o Código da Vinci, e faça bom proveito.

Categorias

Blogroll- Brasil

Blogroll- Portugal

Blogroll- USA

Hinos

Música Sacra - Natal

Música Sacra - Páscoa

Música Sacra - Quaresma

Música Sacra- Advento

Site Meter

  • Site Meter

Sites

Wordpress