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Obras da Patrística

São Basílio Magno

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De Plinio Maria Solimeo

Bispo, Confessor e Doutor da Igreja, recebeu o título de Pai dos monges do Oriente, assim como São Bento é considerado o Patriarca dos monges do Ocidente

São Basílio de Cesaréia da Capadócia, na Ásia Menor, é de uma família de santos. Sua avó paterna foi Santa Macrina, a Antiga, que confessou a fé em Jesus Cristo durante a perseguição de Maximiano Galério. Seus pais foram São Basílio, o Velho, e Santa Emília, filha de um mártir. De seus nove irmãos, mais três foram elevados à honra dos altares: Santa Macrina, a Jovem, São Gregório de Nissa e São Pedro de Sebaste. Basílio, seu irmão Gregório de Nissa e seu amigo Gregório Nazianzeno formam o trio chamado “os três capadocianos”.

Basílio nasceu em Cesaréia no final do ano 329. Seu pai era advogado e professor, vinha de família rica e considerada latifundiária, da região do Ponto. Sua mãe era de família nobre da Capadócia. O menino foi entregue aos cuidados da avó Macrina, para a primeira educação. Afirmará ele depois: “Nunca mais olvidei as fortes impressões que faziam à minha alma ainda tenra as palavras e os exemplos dessa santa mulher”. Para defender-se da acusação de heterodoxia, afirmará: “Jamais traí a fé. Como a recebi ainda menino sobre os joelhos de minha avó Macrina, assim a prego e assim a ensinarei até o meu último alento”.

São Basílio estudou inicialmente com o pai, depois em Cesaréia, Constantinopla e Atenas. Nas duas últimas, teve como condiscípulo São Gregório Nazianzeno, a quem se uniu em estreita amizade, e a quem devemos muitos dados de sua vida.

Cristão não só de nome, mas de fato

São Gregório atesta no panegírico de seu amigo: “Ambos tínhamos as mesmas aspirações; íamos atrás do mesmo tesouro, a virtude. Só conhecíamos dois caminhos: o da igreja e o das escolas públicas. Não tínhamos nenhuma ligação com os estudantes que se mostravam grosseiros, impudentes ou desprezavam a religião, e evitávamos os que tinham conversas que poderiam nos ser prejudiciais. Tínhamo-nos persuadido de que era ilusão mesclar-se com os pecadores sob pretexto de procurar convertê-los, e deveríamos temer sempre que nos comunicassem seu veneno. Nossa santificação era nosso grande objetivo, e o de sermos chamados e sermos efetivamente cristãos. Nisso fazíamos consistir toda nossa glória”.(1)

Mundanismo, vanglória e sua conversão

Em Cesaréia passou por uma “conversão”. Embora tivesse sempre levado vida muito regular, procurando sempre a vontade de Deus, os aplausos e louvores que recebia eram tantos que, segundo seu irmão Gregório de Nissa, isso deixou traços de mundanismo e auto-suficiência no jovem professor, que sentiu a vertigem da vanglória. Mas em casa, vendo o exemplo de sua irmã Macrina, que levava a vida austera de virgem consagrada, impressionou-se: “Comecei a despertar como de um sonho profundo, a abrir os olhos, a ver a verdadeira luz do Evangelho e a reconhecer a vaidade da sabedoria humana”. Só então, conforme costume da época, foi batizado e recebeu a ordem sacra de Leitor. Resolveu então vender tudo o que tinha, dando o produto aos pobres, e fazer-se monge.

Ordenador e legislador do monacato no Oriente

Desejava fazer tudo da melhor maneira possível. Resolveu então viajar pela Síria, Mesopotâmia e Egito para visitar os vários cenobitas desses lugares a fim de adquirir um conhecimento profundo dos deveres do gênero de vida que tinha adotado. É preciso notar que a vida religiosa em comum dava seus primeiros passos e ainda não havia aparecido quem a ordenasse, como fez depois São Bento no Ocidente.

Se a impureza de corpo chocava Basílio, muito mais a de alma. Por isso era implacável contra toda heresia ou doutrina dúbia. Tinha um profundo horror ao arianismo, então triunfante até no trono imperial.

Voltando a Cesaréia, recomeçou a colaborar com o bispo local Dianey, a quem muito admirava. Mas, como este entrou numa espécie de acordo com os arianos, rompeu com ele e retirou-se para o reino do Ponto, onde já se haviam fixado sua mãe e irmã. Elas tinham fundado um convento feminino às margens do Íris. Na margem oposta Basílio fundou um convento masculino, que dirigiu durante quatro anos. Nele ingressaram também seu amigo Gregório Nazianzeno e seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste.

O governo que Basílio exercia no mosteiro era muito suave, todo ele de exemplo mais do que de palavras. Sua doçura e paciência eram a toda prova. Os monges levantavam-se antes do despontar do dia, para louvar a Deus com a oração e canto de salmos. Liam os Livros Sagrados e alternavam a oração com o estudo, dedicando-se, nos tempos livres, ao trabalho manual. De quando em quando Basílio os reunia para ouvir suas dúvidas ou propostas, e os orientava no caminho da perfeição. Surgiu assim sua obra Regras Maiores e Menores, suma de catequese monacal, indispensável no desenvolvimento da vida cenobítica. Graças a São Basílio Magno, a vida em comunidade iria afinal firmar-se no cristianismo, dando base ao movimento monacal que forjou depois a Idade Média. “Se [São Basílio] não criou o monaquismo oriental, infundiu-lhe uma vida nova quando se achava ameaçado de um grande perigo: o de tornar-se uma sociedade de trabalhadores que rezam, ou de rezadores que se matam à força de penitências”.(2) Em todo caso, ficou ele conhecido como o pai do monasticismo do Oriente, como São Bento o é do Ocidente.

Sua firmeza contra os arianos e a “Basilíada”

Em 370, ficando vacante a diocese, o povo de Cesaréia escolheu Basílio para preenchê-la. “A notícia dessa escolha provocou uma satisfação extraordinária em Santo Atanásio, e ele anunciou a partir daí as vitórias que São Basílio alcançaria sobre a heresia reinante”.(3) Com efeito, protegidos pelo imperador, uma minoria de bispos sufragâneos de Basílio, adeptos do arianismo, deram-lhe muito trabalho. Mas, com anos de tacto, “temperando sua correção com a consideração e sua gentileza com a firmeza”, no dizer de São Gregório Nazianzeno, conseguiu vencer seus oponentes.

Para socorrer as misérias materiais de uma cidade grande como Cesaréia, Basílio nela fundou, em grande terreno que lhe fora dado pelo imperador, uma verdadeira cidade da caridade, que passou a ser conhecida como “Basilíada”. Diz São Gregório que essa obra “pode ser contada entre as maravilhas do mundo, tal é o grande número de pobres e de doentes que ali são recebidos, tanto são admiráveis a ordem e o asseio com os quais trata-se das diversas necessidades dos infelizes”. O conjunto tinha hospital, albergue e escola para jovens. Homens e mulheres tinham pavilhões separados. Amplos jardins os dividiam, e no centro estava espaçosa igreja.

Moeda da época do Imperador Valente

O Imperador Valente era de um temperamento muito violento, e para evitar um choque na execução dos decretos de exílio dos bispos católicos, quis ele mesmo visitar as várias cidades do Império. Mas em Cesaréia, dada a grande personalidade de São Basílio, quis preparar o terreno. Mandou então que alguns bispos arianos fossem conversar com Basílio, para ver se conseguiam levá-lo a aderir à heresia. Este não só não quis ouvi-los, mas os excomungou.

O prefeito Modesto chamou então o bispo recalcitrante. Com boas palavras, tentou induzi-lo a aceitar a heresia ariana. Como Basílio nem lhe desse ouvidos, ameaçou-o gradativamente com confiscação de bens, exílio, tormentos e morte. São Gregório, que estava presente, descreve a cena:

— Ameaçai-me de qualquer outra coisa, porque nada disso me impressiona,” respondeu-lhe Basílio.

— Que dizes!?

— Aquele que nada tem, está a coberto do confisco. Não tenho senão alguns livros e os trapos que visto; imagino que não sois zeloso de m’os tirar. Quanto ao exílio, não vos será fácil condenar-me: é o Céu, e não o país em que habito que eu considero minha pátria. Eu temo pouco os tormentos. Meu corpo está num tal estado de magreza e de fraqueza, que não poderá sofrer por muito tempo. O primeiro golpe terminará minha vida e minhas penas. Temo ainda menos a morte, que me parece um favor. Ela me reunirá mais cedo ao meu Criador, por Quem somente vivo.

O imperador não teve êxito maior. Por isso resolveu entregar-lhe logo a ordem de exílio. Mas a Providência velava. Essa noite mesmo o príncipe imperial Valentiniano Gálata, de seis anos, foi acometido por uma febre tão violenta, que os médicos se confessaram impotentes para qualquer coisa. A imperatriz fez notar ao marido que isso era uma justa punição por ter exilado o Bispo, e insistiu em que o chamasse para curar o filho. Basílio ainda não tinha partido. Mal chegou ao palácio, o menino começou a melhorar. Afirmou ao imperador que o menino sararia, contanto que ele prometesse educá-lo na verdadeira religião, a católica. A condição tendo sido aceita, o Bispo rezou junto ao leito do menino, que ficou instantaneamente curado.

Entretanto, pressionado pelos bispos arianos, Valente não manteve sua palavra. Pelo contrário, fez batizar logo o menino por um dos bispos hereges. O menino teve uma imediata recaída e morreu pouco depois.

O terrível golpe não converteu o imperador, que condenou novamente Basílio ao exílio. Quando lhe trouxeram a ordem para assinar, a haste de bambu que lhe servia de caneta quebrou-se em sua mão. Outra haste foi trazida, e teve o mesmo fim. Uma terceira também quebrou-se. Quando Valente fez vir uma quarta, seu braço foi tomado de tremor e de uma agitação extraordinária. Apavorado, ele rasgou a ordem e deixou o arcebispo em paz.

São Basílio, declarado “Magno” e “Doutor da Igreja”, faleceu no dia 1º de janeiro de 379.(4)

E-mail do autor: pmsolimeo@catolicismo.com.br

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Notas:

1. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo VII, p. 8.

2. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 616.

3. Les Petits Bollandistes, op. cit., p. 14.

4. Apresentamos neste mês a festa de São Basílio, como era antigamente “por ser a data de sua sagração como bispo de Cesaréia, na Capadócia” (Martirológio Romano, ed. de 1954). Atualmente ela é comemorada a 2 de janeiro.

Outras obras consultadas:

Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editoral Luis Vives, S.A., Saragoça,1947, tomo III, pp. 453 e ss.

The Catholic Encyclopedia, Volume VI, Copyright © 1911 by Robert Appleton Company, Online Edition, Copyright © 2003 by Kevin Knight

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Um Monge em Meio ao Helenismo

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1. Uma despedida?

São Basílio nasceu em Cesaréia, na Capadócia. Seus pais eram descendentes de cristãos, que ainda experimentaram as calamidades das perseguições. A família ficou muito apegada à fé. Mas o pai, que alcançou como advogado uma grande reputação, entende qual é a importância de uma boa educação intelectual. O filho mais velho recebe em Cesaréia uma instrução que o prepara para continuar os estudos superiores. Depois, viaja para Constantinopla, onde se debruça sobre as ciências que constituem a base da carreira retórica. E afinal completa a sua formação em Atenas, onde os professores cultivam com fervor uma gloriosa herança.

Basílio ocupa-se nesses anos com muitas correntes filosóficas, com muitas disciplinas, que abrangem os terrenos mais diversos. Sabe-se, porém, que tais matérias nem sempre foram aprofundadas. E as diversas escolas especulativas se fundiram, em sua maior parte, numa grande cultura, que lançara raízes em todas as camadas da sociedade.

Pode-se, porém, constatar que o inteligente aluno conseguiu naqueles anos um bom conhecimento de inumeráveis sábios, escritores e poetas. Gregório, o amigo dele, nos relata que o colega volta a Cesaréia como um navio completamente carregado de ciência.

Mas é significativo que Basílio tenha conservado, no mundo turbulento da universidade, uma fé robusta. E ainda que uma carreira como professor de eloqüência pareça inicialmente fasciná-lo, a sua religiosidade prevalece. Ele procura um outro caminho. Há o ideal ascético que, por meio de Eustátio de Sebaste, se foi divulgando em Capadócia. O entusiasmo de Eustátio já tinha raízes na sua família. Após a morte do pai, a irmã mais velha, Macrina, decidiu-se a buscar, junto com a mãe, a solidão de Anisi, para encontrar ali a felicidade de uma vida de trabalho, de oração e de contemplação. E um dos irmãos, Gregório, nos descreve, como aquela mulher abriu os olhos de Basílio para a realidade mais profunda da nossa vida.

É só mais tarde que Basílio nos informa a respeito: “É verdade”, assim começa o seu relatório, “que desperdicei muito tempo e dediquei quase toda a minha juventude ao estudo da sabedoria que Deus julgou loucura. Mas um dia acordei como de um sono profundo, concentrei o meu olhar na luz maravilhosa, que resplandece na verdade do Evangelho e entendi qual é a inutilidade da sabedoria dos grandes deste mundo, que não vai ter êxito. Então lamentei sinceramente o meu triste passado. E fiquei ansioso por receber diretrizes, que me abrissem o caminho da piedade.” Irrompeu uma nova experiência…

Basílio é empolgado pelo chamado de Deus, que contrasta tanto com o ideal que predominava até então na sua vida. O que significa ainda aquela vaidade, aquele orgulho, que tantas vezes perverte o nosso interesse científico? É preciso buscar uma nova orientação. Mas onde é que Basílio encontrará as pessoas que poderão ajudá-lo? Ele pensa nos monges.

“Li o evangelho”, assim prossegue, “e reparei, que o grande meio de alcançar a perfeição é vender os bens, distribuir a renda com os irmãos indigentes e se desprender completamente dos cuidados deste mundo. E desejava encontrar algum irmão para que pudesse com ele atravessar as águas profundas e agitadas da nossa vida.”

Basílio vai, portanto, viajar. Ele visita as regiões, onde os monges se tinham primeiramente estabelecido. “Descobri muitos deles em Alexandria e no resto do Egito”, continua, “outros na Palestina, Cele-Síria e Mesopotâmia.” Basílio vive lá com os ascetas. E tal experiência deixa nele uma profunda impressão. Aí se manifesta concretamente o ideal, que vai determinar a sua escolha.

Depois da volta, Basílio está pronto para receber o batismo. E, em seguida, sai de Cesaréia para Anisi, lugar onde ainda mora a sua família. É na serenidade daquele ambiente que Basílio reúne em redor de si um grupo de amigos, faz a primeira experiência de vida comunitária e começa a elaborar as suas idéias sobre a formação ascética.

E o que sobra do interesse para o mundo, a civilização? Da carta, na qual Basílio coloca o seu amigo, Gregório, a par da sua nova situação, se pode em todo o caso depreender qual é a sua opção fundamental. Quem quer tornar-se discípulo de Cristo deve renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-Lo. Eis o fundamento da vida religiosa. E isto exige de nós um distanciamento do mundo. O coração deve ser purificado de todos os obstáculos. E isso vale também da educação intelectual. “Da mesma forma que é impossível escrever na cera sem antes ter apagado as linhas que nela estão entalhadas”, estabelece Basílio, “assim também é em vão que alguém acredita poder abrir a sua alma para o ensino divino sem antes ter afastado dela as idéias adotadas pelo costume.” Ter-se-ia realizado uma ruptura fundamental com o passado?

Basílio poderia imitar o exemplo de Antão. Não eram poucos que levavam como eremita uma vida de mortificação. E havia também os grandes mosteiros, onde Pacômio estabeleceu uma vida comunitária. A robusta simplicidade, a vigorosa disciplina faziam com que muitos encontrassem a oportunidade para atingir a perfeição. Trata-se de um modelo, que Eustátio de Sebaste tinha modificado para ser implantado na vizinhança. E o entusiasmo radical das suas idéias não deixou de empolgar os jovens…

2. As maravilhas da Criação

Antes de tudo, é preciso constatar, que Basílio, conservou o amor pela natureza. Pois quando o amigo dele, Gregório, continua adiando a sua vinda, o monge tenta aliciá-lo, pintando com cores vivas a encantadora paisagem dos arredores do mosteiro. Em cima de uma montanha, no meio das florestas, fica cercado por profundos barrancos. E há, de um lado, uma belíssima cascata, que em baixo se torna torrente impetuosa. “Para mim e todos os outros, esse espetáculo nos parece inesquecível”. Mas, há mais. O passeante percebe os cheiros agradáveis da natureza. Ele sente o prazer da brisa leve. E os inumeráveis gêneros de flores, peixes, aves e animais terrestres deixam-no cada vez mais admirado. Eis um ambiente, onde o homem encontra a paz.

Trata-se de uma simpatia que vai ainda ter grande influência, na hora que Basílio começa a articular a sua concepção de vida monástica. É um trabalho que avança lentamente. Mas, depois de uns anos ele completa uma sólida síntese, que proporciona ao leitor a oportunidade para descobrir qual é o posicionamento de Basílio a respeito da questão que nos interessa.

É importante, porém, colocar em destaque, que Basílio apresenta o seu ideal como uma opção, que não é somente um desafio para os homens. Também as mulheres têm a capacidade para fazer a mesma escolha. Sabe-se que a sua fraqueza externa é de pouca importância, quando se pensa na força interior, que revigora o seu comportamento. Muitas delas já deram exemplos heróicos. E por que os cristãos teriam de estranhar? “Pois não houve somente homens seguindo o Senhor, quando estava no meio de nós. As mulheres também se associaram a ele. E ambos foram chamados ao serviço do Redentor”. Trata-se de uma vocação que vale para todos.

Ora bem, qual é então o objetivo principal? Basílio acha que consiste na busca de Deus, fonte da nossa felicidade. Trata-se, ao ver dele, de um anseio, que fica arraigado na índole da humanidade. “Por natureza os homens desejam o belo”, acredita Basílio. “Mas propriamente belo e amável é o bem. Consta, porém, que Deus é o bem. E visto que todos apetecem o bem, o nosso desejo se dirige logicamente a Deus”. Esta é a sabedoria dos filósofos, que confirma a convicção dos fiéis.

Mas há, contudo, uma diferença fundamental. Pois o Deus que inspira a fé de Basílio é o Criador do mundo. E disto se depreende, que a nossa vida terrestre é muito mais do que um fosco espelho da realidade eterna. Qualquer um, que olhar em torno de si, percebe logo quais são os dons com que Deus nos regalou.

Eis o firmamento, eis os ventos, as estações, a terra e o mar e tudo que vive neles! Trata-se de um espetáculo, que é levado à sua perfeição pela obra que supera todas as outras. “Isto é, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”. Fomos os únicos a receber a faculdade de conhecer o nosso Criador, que nos estabeleceu como governadores deste mundo.

E, apesar do pecado dos primeiros homens, Deus não nos abandonou. Ele nos oferece cada dia de novo a sua ajuda. E afinal fomos restituídos ao nosso estado original, graças à generosidade de Jesus Cristo, que tomou sobre si as nossas enfermidades. Mais ainda: “Não lhe bastou vivificar aqueles que estavam mortos, mas teve ainda a bondade de conceder lhes a dignidade da divinização”. Toda a existência do homem é assumida numa vida, que acaba por levá-la ao repouso de uma felicidade eterna.

3. O valor da Comunhão

É evidente, portanto, que o amor para com Deus nos estimula a buscar a sua amável presença no mundo, no meio dos homens. E tal desejo corresponde à lei que determina, no fundo, a estrutura da sociedade. Pois para todos que tiverem bom senso, não há dúvidas de que a humanidade se distingue pelo relacionamento pessoal dos seus membros. “Quem não sabe que o homem é um ser manso, que procura a comunhão com os outros”, diz Basílio, “e não uma fera, que busca a solidão?” E por isso é óbvio: as pessoas que preferem uma vida isolada se colocam fora da realidade. “Nada é tão peculiar à nossa natureza”, continua Basílio, “como a vida comunitária, na qual precisamos dos outros e ficamos preocupados pela sorte de todos que pertencem ao nosso gênero.” Mas o cristão sabe que isto é só um primeiro passo. Ele tem de alcançar a perfeição. “Depois de termos recebido aquelas sementes, o Senhor reclama agora os frutos adequados”, frisa Basílio. “Ele diz: Dou-vos um novo mandamento. Amai-vos uns aos outros!,” No próximo se encontra aquele Deus que destarte quer ficar perto de nós.

Trata-se de um mandamento que vale para todos os fiéis. Mas o monge sabe que este chamado é para ele a pedra de toque do seu engajamento. E daí fica claro que se planeja toda a vida em função deste ideal.

Evidencia-se, porém, que isso exige, em primeiro lugar, cabeça fria. “Pois não dá para forjar metais exercitando-se em cerâmica.” Um bom conhecimento profissional é indispensável. E essa regra pode também ser aplicada na educação ascética.

Mas em seguida o artesão deve levar em consideração qual é o intento da pessoa que fez a encomenda. E isso tem de novo conseqüências. “Da mesma maneira que um ferreiro faz o seu trabalho, por exemplo, a produção de um machado, pensando no homem que o encomendou e na forma e tamanho por ele indicados, e executando-o conforme à vontade do mandante”, diz Basílio, “assim também o cristão deixa determinar todos os seus atos pela vontade de Deus, tanto faz que sejam de grande importância ou não”. O monge não é diferente dos outros. Ele pensa no projeto concreto, que tem de orientar a vida dos ascetas.

Eis uma visão que vai ser articulada. Mas é significativo que Basílio não deixe de salientar a importância do fundamento que sustenta todos os outros elementos. É preciso que se forje, antes de tudo, uma sólida comunidade.

Um dos motivos é simplesmente a disposição, que domina a nossa existência. “Estou convicto”, coloca Basílio, “de que a vida comunitária é para as pessoas que têm a mesma intenção, um modelo, que é muito útil para a solução das mais diversas questões.” Acerca disto, a experiência humana não deixa dúvida nenhuma. “Ninguém é capaz de suprir sozinho às suas necessidades corporais.” Para isso precisamos dos outros. “Pois exatamente como os pés têm algumas qualidades, mas não possuem outras, e a sua energia, privada da ajuda dos outros membros, não é bastante forte nem bastante durável e não é capaz de suplementar por si mesmo aquelas deficiências”, enfatiza Basílio, “assim também a vida na solidão faz com que se torne inútil o que possuímos e inencontrável que nos falta.” Pela vida comunitária se criam ótimas condições para atingir os nossos objetivos.

Mas não fica nisso. Os monges têm ainda um motivo mais profundo. Pois o Deus, que criou os homens para viverem em dependência mútua, revelou-nos em Cristo qual é o seu plano fundamental. Não é só a necessidade, que liga as pessoas. Somos chamados a sustentar-nos uns aos outros!

Ao ver de Basílio é, portanto, claro, que a vida eremítica não está em conformidade com a mensagem que Cristo nos deixou. “Ela entra em conflito com o mandamento do amor”. Cada um deve entender que a imitação de Cristo não é possível para gente que atende somente às próprias necessidades. “A quem você servirá”, pergunta Basílio, “quando mora sozinho?”

Entende-se, por isso, que a primeira comunidade de Jerusalém tenha escolhido um outro estilo de viver. Os cristãos eram um só coração, enquanto que não consideravam nada como sua propriedade privada, mas partilhavam tudo com os outros. Basílio fica entusiasmado. Eis um exemplo de fraternidade, que deve inspirar os monges. O campo está aberto. Todos podem engajar-se com as qualidades que o Criador lhes deu.

E o que é mais conforme à nossa condição humana do que dar graças ao Deus que preside o nosso destino? Basílio não tem dúvidas. “A natureza e a razão demonstram que isto é necessário.” Mas essa atitude brota, no meio dos fiéis, do íntimo do coração. Por isso, a comunidade dos monges se reúne, cada dia, para as horas da oração. Pois é destarte que se pode manifestar a sua gratidão para com o Deus, que sustenta a nossa vida, os nossos propósitos.

Juntos ao trabalho!

Os monges se sentem amparados pela oração. Mas já pudemos constatar que o compromisso da fé abrange mais. “Não é lícito pensar”, observa Basílio, “que a vida religiosa nos proporcione pretexto para a preguiça, que fuja ao esforço”. Pois a gratidão dos monges se dirige a um Deus, que constituiu o homem como dono da Criação. E isto significa que somos responsáveis pelo mundo, pela humanidade. Trata-se de uma tarefa, que exige a colaboração de todos. Temos de unir as nossas forças no trabalho!

Sim, ficou claro que, desta maneira, se favorece também o próprio interesse. Mas é significativo que Basílio não insista nisso. O nosso duro labor se torna agora só um meio para estabelecer o reino do amor desinteressado. E é óbvio que os monges têm de dar o exemplo. “O fim do trabalho deve ser o serviço aos necessitados”, acha Basílio, “e não a preocupação com o próprio abastecimento.” É nesses infelizes que se encontra o Cristo mesmo! E por isso se ouve na Igreja primitiva o apelo, que todos se dediquem ao trabalho. Pois daquele modo se cria também a oportunidade para sustentar os pobres.

Basílio acha, portanto, que os monges têm de aprender as mais diversas profissões. O mosteiro precisa de tecelões, ferreiros, pedreiros, carpinteiros e sobretudo de lavradores. Até mesmo os órfãos que são acolhidos na comunidade devem ser formados para tomar parte no trabalho. A única restrição é que o labor não atrapalhe a piedade, a paz da vida monástica.

É evidente, no mais, que tal engajamento ajudará a confirmar a credibilidade do cristianismo. Não somente porque o lucro da venda dos produtos serve também para ajudar aos pobres, mas também porque a própria inventividade, com a qual o homem é capaz de melhorar a sua sorte, merece, ao ver dos sábios, a admiração de todos. Aqui se vê como a nossa inteligência, a nossa perspicácia tiram proveito das leis, que dominam a natureza. E podemos constatar que Basílio valoriza também este aspecto. Mas o motivo é mais fundamental. Aquelas profissões nos mostram, antes de tudo, qual é a tarefa que o Criador nos delegou!

“Deus nos deu a ajuda das diferentes artes para suprir às deficiências da natureza”, acredita Basílio. “A agricultura, por exemplo: porque os frutos da terra não são espontaneamente tão numerosos, que bastem para prover as nossas necessidades. A tecelagem, porque precisamos de vestidos, tanto para a decência quanto para proteger-nos contra o mau tempo. O mesmo vale para a construção. E a medicina nos proporciona também uma ajuda essencial, visto que o corpo está sujeito a vários males.”

Não há dúvidas: além das outras profissões, Basílio aprecia especialmente a arte medicinal. Ela merece um grande interesse dos monges. É verdade, sim, que há também curandeiros. Mas ninguém pode negar que a pesquisa dos médicos teve ótimos resultados. E isto é para o cristão um motivo a mais para ser grato. “Pois não foi por acaso que as ervas, que se usam para curar as diversas doenças, germinaram da terra”, observa Basílio. “Ao contrário, a vontade do Criador fez com que fossem produzidas para o proveito dos homens”. O mesmo vale, aliás, para a força natural, que há nas raízes, nas flores, nas folhas e nos frutos. E quem se atreveria a menosprezar tal ajuda?
Entende-se, porém, que os fiéis entregam, apesar de tudo, a sua vida nas mãos da divina misericórdia. “Mas como cultivamos a terra, enquanto que rezamos a Deus pela fertilidade da plantação”, observa Basílio, “assim também recorremos, quando for preciso, a um médico, sem perdermos a confiança no Deus da nossa salvação.” Revela-se em tudo um amor carinhoso, que não vai abandonar-nos.

4. Uma sábia moderação

No mais, Basílio acredita que os monges devem dedicar-se a uma vida ascética. Eles têm de tomar distância do mundo da cobiça. É só deste modo que se pode descobrir a verdadeira riqueza da nossa vida. Trata-se do caminho que Cristo nos mostrou. A sobriedade, o desprendimento estão no centro do Evangelho. E isso é corroborado pela visão dos pensadores que se debruçaram sobre as normas do comportamento humano. Pois, ao ver deles, é preciso que o homem consiga um domínio completo de si mesmo.

Ora bem, Basílio não deixa de salientar esse aspecto. “A perfeita temperança se encontra junto da pessoa que está acima de qualquer paixão”, assim coloca. “Ela já não percebe o estímulo da cobiça ou não deixa, pelo menos, arrastar-se pelas emoções, enquanto que continua lutando corajosamente contra qualquer prazer nocivo”. É destarte que se cria espaço para os verdadeiros valores da nossa existência.

Quanto às relações com os outros é, portanto, necessário que o monge aprenda a ficar calado, a falar tranqüilamente e a temperar as suas emoções. “Se alguém estiver acostumado a estourar numa gargalhada imoderada e desmedida”, diz Basílio, “fica claro que isto é sinal de uma intemperança, que não é capaz de dominar os instintos e não tem condições para reprimir a leviandade do coração pela severidade da razão”. Trata-se de uma atitude, que não é civilizada.

Mas, apesar disto, Basílio tem de reconhecer que a mensagem de Cristo desperta no monge às vezes uma grande alegria. E, portanto, acha lícito que se expanda no rosto uma serena, recolhida satisfação. “Não é inconveniente”, assim observa, “quando se mostra, com um sorriso educado, a alegria do coração”. Afinal o monge consegue uma oportunidade para desabafar.

E o que pensar das refeições? Basílio faz aos seus monges de novo uma séria advertência. Ele volta à idéia de que se deve observar a temperança. “Usamos dos alimentos simples e indispensáveis, na quantidade que for necessária”, assim acha. “Mais evitamos a saciedade e abstemo-nos inteiramente de pratos requintados.” A moderação é uma virtude que embeleza a vida de todos os homens.

Mas há exceções! Pois também na Igreja primitiva dividia-se tudo conforme as necessidades de cada um. E, portanto, acontece que a fadiga do labor, a fraqueza da doença são motivos para abrandar no mosteiro as normas da temperança. “Não é possível”, observa Basílio, “que se determine para todos a mesma hora, o mesmo modo, nem igual medida no que diz respeito à alimentação.” Só importa que se pense exclusivamente na satisfação das necessidades verdadeiras.

Além disto, é importante reparar como Basílio toma posição contra os monges que, ao ver dele, cultivam uma ascese exagerada. Aquela gente se recusa, até mesmo durante uma viagem, a tomar parte numa refeição que lhe é oferecida pelos fiéis! Trata-se de uma atitude completamente errada. “Convém”, enfatiza Basílio, “que provemos naquela ocasião de cada prato, a fim de mostrar a todos os presentes que, para os puros, tudo é puro, que todo dom de Deus é bom e que nada deve ser rejeitado do que se toma com ação de graças.” Quem tiver fé, entende que tudo foi criado por causa do homem.

Eis uns aspectos notáveis, que nos revelam como Basílio concebeu o diálogo com a civilização ambiente. Ele é um cristão que enxerga a importância das idéias que circulam no meio do povo. E o grandioso plano de Deus o inspira a assumir uma atitude aberta. É verdade, sim, que há pontos de atrito. Mas a cultura dos helenos é um enriquecimento para a fé dos ascetas.

Deparamo-nos com valores, que são acolhidos num esboço empolgante de pequenas, sólidas e flexíveis comunidades, onde o abade exerce, com caridade paterna, a autoridade. Sabe-se que a obediência representa um valor fundamental. Mas é preciso que todos se agüentem, graças ao amor que se difundiu em nossos corações. A humildade, a disponibilidade de Cristo são um exemplo a ser imitado.

Mas era exatamente personalidade do Redentor, que agora já desde muitos anos foi criando uma violenta discussão. A Igreja experimentava uma crise fundamental. E também Basílio ficará envolvido..

Fonte: MEULENBERG, Leonardo.
Basílio Magno: Fé e Cultura. Petrópolis, RJ. Ed. Vozes, 1998.

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O Luminar da Capadócia

BREVE RESEÑA DE LA VIDA Y ESCRITOS DE SAN BASILIO

Obispo de Cesarea en Capadocia
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Familiares de San Basilio

Nació Basilio el año 329, de una noble y rica familia del Ponto, ilustre no menos por la erudición, que por los cargos, obtenidos en la administración pública y, por la constancia en la fe cristiana.

Su abuelo había dado una prueba eximia de fe, en la persecución de Diocleciano, que le valió la confiscación de los bienes, y una vida errante en las desmesuradas montañas de su provincia.

El padre de nuestro Basilio, llamado también él Basilio, ejercía la profesión de abogado en Cesarea de Capadocia, capital de la vasta provincia del Ponto. Al mismo tiempo tenía a su cargo una escuela de retórica. Al referir esta circunstancia, San Gregorio Nazianzeno, no deja de reprender a aquellos que entre los cristianos despreciaban la literatura.

Más tarde Basilio abandonó Cesarea y se trasladó a Neocesarea del Ponto con el fin de estar más cerca de las vastas posesiones de su familia y poder atender con mayor comodidad y dedicación a la educación de sus hijos. El primero de éstos, Basilio, había nacido en el año 329, cuando aún estaban en Cesarea.

Basilio aprendió gramática en la escuela de su padre. Las conversaciones con la abuela, S. Macrina, hicieron germinar en su alma de niño la piedad, la fe y la admiración por los campeones de Cristo, que sellaban su fe con la propia sangre. A no pocos de éstos, Macrina los había conocido personalmente.

Para estudiar retórica y filosofía, fue primeramente a Cesarea de Capadocia. Pasó luego a Constantinopla y de allí a Atenas, donde se detuvo cuatro o cinco años, perfeccionándose en la retórica griega y en la filosofía, de la que aún florecían en aquella ciudad, varias escuelas. Allí, en compañía de unos pocos amigos igualmente enamorados de la virtud, de la religión y del saber, llevó una vida muy retirada, no conociendo otro camino sino el que conducía a la iglesia y el que llevaba a la escuela.

Al terminar sus cursos y después de visitar a sus padres, Basilio se trasladó a Cesarea, donde enseñó Retórica con grandes aplausos, del que no se mostró insensible.

El monje fundador

Las amonestaciones de Macrina, su hermana, que heredó el nombre de su abuela, le hicieron reflexionar sobre las vanidades del mundo. De ahí que concibió el designio de seguir los consejos evangélicos. Recibió ante todo el bautismo. Visitó después los monasterios de Egipto, de Palestina, de Celesiria y de Mesopotamia, para estudiar las prácticas de la vida monástica. Instruido de esta manera, se retiró a un pequeño valle que formaba parte de los bienes paternos, no lejos del lugar, donde hacía ya un tiempo se habían retirado su hermana y su madre con muchas mujeres de servicio, llegando a ser las esclavas, compañeras y hermanas.

Pronto creció la comunidad de Basilio y el amigo Gregorio, después Obispo de Nazianzo, no tardó en condividir con él la soledad, el estudio sagrado y el trabajo de la tierra.

Haciendo tesoro de lo que durante los viajes había observado, aprendido y sentido, y de su propia experiencia, dictó sus reglas, de las que hizo dos ediciones, una más resumida (Regulae brevius tractatae) y otra más extensa (Regulae fusius tractatae).

Basilio prefirió la vida cenobítica a la anacorética, pero quiso también que los monasterios no fuesen demasiado numerosos, a fin de que el superior pueda consagrarse mejor a sus súbditos.

La ocupación del monje, es la divina alabanza, la lectura espiritual y el trabajo manual, de tal manera, sin embargo, que no ocasione disturbio a la vida en comunidad y a las normas de las reglas.

Ya desde el comienzo admitía Basilio en sus monasterios a jovencitos confiados por sus padres para que fuesen educados e instruidos en las disciplinas profanas y sagradas, inaugurando así un ramo proficuo de la acción de las órdenes religiosas: el colegio.

El fustigador de la herejía y el consejero del Obispo

Cuál fuese la estima de que ya desde entonces gozaba Basilio, nos la demuestra el hecho de Dianeo, Obispo de Cesarea. Este, más por debilidad de carácter que por malignidad, a las tantas rendiciones llevadas a cabo por los arrianos, había añadido también la de suscribir la fórmula de fe compuesta por los arrianos en Nice (Tracia) y sancionada en Rimini (359). Entonces Basilio, si bien era sólo lector en la jerarquía eclesiástica, se separó de la comunión eclesiástica del primado del Ponto. El Obispo, habiendo caído enfermo y presintiendo la muerte, llamó a Basilio y le confesó a él mismo su debilidad, profesando no haber tenido jamás intención de apartarse de la fe de Nicea. De ahí que no es de maravillar que el sucesor de Dianeo, Eusebio, lo admitiese a formar parte entre los sacerdotes de su ciudad. Sin embargo, la fama popular de que gozaba Basilio, turbó la buena armonía entre él y el Obispo. Por esta razón, el Santo, para precaver y cortar una situación escabrosa, volvió a su amada soledad. Pero muy pronto, las insistencias del Obispo, y más aún las de Gregorio, Obispo de Nazianzo, padre del amigo de Basilio, lo indujeron a volver a Cesarea, que había llegado a ser lugar de combate. Valente, Emperador de Oriente, estaba del todo entregado a las manos de los arrianos extremistas, llamados anomeos. Su secta debía triunfar, y con este fin envió a disposición de ellos toda la fuerza de su Gobierno. Basilio fue entonces el fiel consejero del Obispo; se debió a su vigilancia, a su doctrina, a su prudencia el haberse evitado hechos inconsiderados y el haber logrado que la misma presencia de Valente no pudiese apartar a la población de la adhesión a la verdadera fe.

Al mismo tiempo, secundando la autoridad del Obispo, reformó la liturgia, sea abreviándola, sea introduciendo en ella nuevos elementos tomados de la liturgia antioquena. En una palabra, el verdadero Obispo de Cesarea era Basilio.

El sucesor en el Episcopado

Muerto, pues, Eusebio (370), no podía caber duda sobre quién le debía suceder. No faltaba, sin embargo, una fuerte oposición, especialmente de parte de los Obispos de la Capadocia, que temían un primado del temple de Basilio.

Tampoco los magistrados civiles no disimulaban su aversión para aquel que había sido el alma de la defensa de la fe ortodoxa contra el Emperador.

Nuevamente el Obispo de Nazianzo fue quien, no obstante la vejez agravada por la enfermedad, se hizo llevar a Cesarea y obtuvo que se elegiese a Basilio, a quien él mismo confirió la consagración episcopal.

Celo y virtudes del Obispo

En el nuevo cargo, tocaba a Basilio la ardua tarea de resistir a la prepotencia del Emperador Valente que en todo el imperio Oriental pretendía hacer triunfar el arrianismo.

En ocasión del viaje de este Emperador a través de la Capadocia, tanto el Prefecto del Pretorio, Domicio Modesto, como el mismo príncipe, experimentaron la constancia adamantina del Santo, quien logró tanta estima con la doctrina y la firmeza, que en Capadocia el Emperador, avisado también de la muerte de su hijo, ahorraba a los católicos las persecuciones con que había vejado la Tracia y que seguidamente debía infligir a la Siria y a la Mesopotamia.

Con cuánto empeño vigilase Basilio sobre la disciplina del Clero y del pueblo, no sólo en su propia diócesis, sino en toda la vasta provincia eclesiástica a él confiada, aún hoy día lo vemos por su epistolario.

Mas no se preocupaba menos de las varias necesidades temporales de ciudades enteras o clases de personas o también de algunos particulares. Debemos mencionar sobre todo los institutos de caridad surgidos por obra suya en varios puntos de la diócesis, y aquel gran complejo de obras piadosas erigido por él fuera de la ciudad de Cesarea en medio del cual quiso también estuviese la residencia del Obispo. Tal complejo de instituciones en las que Basilio puso de manifiesto su saber práctico y su talento de organizador, formaba como una ciudad y el pueblo la llamaba Basiliade. La ciudad que hoy día se llama Kaisarí, se encuentra situada no en el lugar de la antigua Cesarea, sino más bien en el lugar de Basiliade.

Su inquebrantable adhesión a la Sede de Pedro

No debemos olvidar su inquebrantable adhesión a la Sede de S. Pedro y, en general, a toda la Iglesia de Occidente, de la que esperaba y pedía su estimable ayuda para la extinción de la herejía de Oriente, mientras que los arrianos eran precisamente los primeros que habían manifestado aversión contra los occidentales en general. Sobre todo hubiera querido que los occidentales indujesen al Emperador Valentiniano I a tutelar ante su hermano a los católicos de Oriente. Pero las cosas fueron lentamente y la repentina muerte de Valentiniano (375) impidió que su rescripto en favor de los católicos de Oriente fuese puesto en vigor. Más aún, entonces recrudeció por el contrario la persecución, transportada también a Capadocia. Pero Basilio tuvo también el consuelo de ver el fin definitivo de la persecución arriana, que cesó con la muerte de Valente (378).

Poco después, en enero del año 379, expiró a la edad de 49 años.

Sus escritos

Los escritos de Basilio son, o de índole dogmático-polémica (Adversus Eúñómium. De Spiritu Santo, Adversus Maniqueos), o son homilías entre las que comprendemos también sus trabajos exegéticos (In Hexaémeron, in Psalmos, etc.), de las demás homilías las primeras 24 están reconocidas como pertenecientes al Santo, mientras las otras están sujetas a duda. De la regla de San Basilio ya hemos hablado. De las 365 cartas que se conservan y que constituyen una preciosa fuente para la Historia Eclesiástica de la época, las tres que se denominan canónicas, escritas a Anfiloquio, Obispo de Iconio, tuvieron en la Iglesia griega autoridad de ley general.

Con sus homilías San Basilio inaugura dignamente la ilustre corona de los oradores sagrados de la Iglesia Oriental.

El despertar de la vida intelectual y literaria verificado bajo Constantino fue para provecho del cristianismo mismo.

En las homilías de San Basilio encontramos reunidas, verdad de la sustancia y belleza de la forma, requisitos de toda producción artística. Además la belleza de la forma, no se sobrepone exteriormente a la sustancia, sino que es como un esplendor que emana naturalmente de la verdad. No hay en ellas nada de rebuscado.

Por otra parte, sin embargo y esto debe decirse un poco de todos los oradores sagrados del cuarto y quinto siglo, sus discursos, destinados para un público compuesto de personas pertenecientes a la clase media y a la inferior, suponen en éste un grado de cultura, o al menos de intereses intelectuales no comunes. Esto se explica. Toda cultura, cuando ha supuesto el apogeo de profundidad busca ganar en extensión y descender a las masas. El mismo cristianismo había contribuido de la manera más poderosa a estimular aun la inteligencia de los humildes y sin letras a fin de que también ellos se ocupasen de los problemas más sublimes de la inteligencia humana.

Finalmente, las controversias suscitadas por el arrianismo, y que tanto apasionaban los ánimos, habían creado una atmósfera de reflexión, que permitía aún a aquellos que no habían hecho estudios profundos, seguir con interés y con inteligencia un raciocinio especulativo, siempre que procediese con claridad y orden. Y estas son las dotes de Basilio. En sus homilías, además, insiste Basilio principalmente sobre los deberes de la vida cristiana. Más aún, la mayor parte de éstas, tiene un móvil concreto que la provocaron y esta circunstancia da a las mismas un precio del todo especial. Nos revelan al Pastor solícito por el bien de sus ovejas en las contingencias reales de la vida

De JOSÉ ALDEBRANDO

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