Mercabá

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Obras da Patrística

Resumo do Blog

O conteúdo (quase completo) do Mercabá, em PDF, pode ser baixado aqui: http://www.box.net/shared/yd6c2p4rg5 .

Até breve!

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Convite e Despedida

Caros,

Este blog começou dia 7 de Abril de 2007, um dia antes do Domingo de Páscoa. Sendo assim, tem pouco mais de dois anos (fui descobrindo que essa idade, na escala bloguística, o torna quase venerável). Nesse período de exposição do pensamento patrístico, o tanto que aprendi e o tanto mais que me ensinaram generosamente, as preciosidades raríssimas com que me deparei, os monumentos de sabedoria que tive a felicidade de contemplar, não apenas pagaram meus diminutos esforços, como me incentivaram a seguir fazendo a mesmíssima coisa cada vez melhor. Não tenho como agradecer dignamente o estímulo dos leitores e seus comentários encorajadores, especialmente os daqueles que ignoravam ou não conheciam apropriadamente a riqueza teológica, filosófica, e de valor humano, da Patrística. Se pude, de alguma forma, contribuir para o interesse de alguém pelas “Colunas da Igreja”, já me dou por satisfeito.

Devo agora justificar o título “Despedida”, cuja razão já está sugerida: este blog, provavelmente, encerra-se aqui. Já pensava nisso desde 2007, quando comprovei que o WordPress, veículo de comunicação tão incensado e festejado, tinha deficiências graves, e criava dificuldades tétricas ao blogueiro. A um amigo que me perguntou quem levava vantagem entre o WordPress e o Blogspot, para que pudesse estabelecer seu blog sem maiores problemas, contei algumas das agruras por que passei. O resultado? Aqui está.

Continuarei o trabalho, dessa vez em outras plagas (o que justifica o “Convite” do título). Me mudei, parece que definitivamente, para o endereço

http://didascalion.tk/

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Páscoa

Gustavo Corção

O sermão de São Gregório Nazianzeno começa numa espécie de jubilosa exclamação: «Páscoa, Páscoa, Páscoa, três vezes Páscoa, direi em honra da Santíssima Trindade. Esta é para nós a festa das festas, a solenidade das solenidades. Como o fulgor do sol apaga as estrelas, assim esta festividade excede a todas as outras, não só as humanas mas as do próprio Cristo e que por causa dele se celebra». Lembremos a instituição da Páscoa no Antigo Testamento, quando Deus encarregou Moisés de ensinar os israelitas que sofriam servidão no Egito: «No décimo-quarto dia desse mês, os filhos de Israel tomarão em cada família um cordeiro de um ano, sem mancha, o imolarão, e com o seu sangue marcarão os umbrais de suas portas, e nessa mesma noite comerão a carne do cordeiro com pão sem fermento e ervas amargas… E comerão com os cintos atados, as sandálias de viagem nos pés, e com o bastão na mão; porque é a Páscoa, isto é, a Passagem do Senhor». E agora nesta Páscoa do Novo Testamento, em que o próprio filho de Deus é imolado, procuremos compreender bem em toda a profundidade, o mistério desta solenidade três vezes bendita.

Páscoa, para nós quer dizer Passagem e faz-nos lembrar que somos peregrinos, que estamos em caminho da pátria como os israelitas estavam a caminho de Canaã, onde abundava o leite e o mel. Por isso, a nossa maior festa ainda é celebrada em marcha, às pressas, com o cinto apertado e a sandália de viajante nos pés. Ainda não chegamos, e por isso, à carne do cordeiro que comemos se misturam ervas amargas. Estamos no meio do Mar Vermelho. Em direção à Pátria, mas ainda no mundo. Estamos no deserto, vivendo da palavra de Deus.

Páscoa, para nós, quer dizer também Discriminação. É a festa da nitidez. Ou temos os umbrais de nossa alma marcados com o sangue do Cordeiro, ou pereceremos na Passagem do Anjo exterminador. Esta característica pascal parece contrária à anterior pois lá se falava de transição e aqui se fala de nitidez e essas duas idéias têm ressonâncias opostas. Convém portanto precisar melhor: A transição se refere à nossa condição exterior de peregrinos; a discriminação se refere à marca interior do Sangue de Cristo em nós. Estamos em trânsito, passando por estações intermediárias, vivendo dia a dia as gradações do mundo, mas nossa alma, por cima do mundo, está ancorada; e em contraste com o cinzento dos dias está nitidamente marcada com o rubro Sangue do Cordeiro.

A cruz que é para os gentios sinal de escândalo e de loucura, é para nós sinal de nitidez e de absoluta discriminação. Onde ela se planta desaparecem os meios-termos, os compromissos, as concordatas, e toda essa indecisão que fazia muitos israelitas no deserto suspirarem com saudades da servidão do Egito, porque lá, ao menos, tinham garantida a gamela de carne com cebolas. Para nós, a Cruz deve ser o sinal de um franco contraste. Ou somos marcados, ou não somos. Ou estamos com Cristo ou contra ele. Ou avançamos ou regredimos. Não há meio-termo à luz do círio pascal.

Apliquemos em nós, cada dia, cada hora, esse espírito discriminador da Páscoa, e saibamos imprimir em cada um de nossos atos o sinal da cruz. A tentativa mais insensata que fazemos é a de procurar um meio-termo entre Deus e o Mundo. Dizemo-nos católicos com uma terrível tranqüilidade e com uma impressionante inconseqüência. Dizemo-nos católicos e continuamos a viver as mesma infidelidades e a saborear as mesmas carnes e cebolas do faraó. Dizemo-nos cristãos, mas a marca do Sangue mais parece uma rosada aguadilha, mais parece um sinal de maquilagem do que uma infusão de incondicional amor.

Sejamos pascais, sejamos nítidos; ou não seremos Cristãos.

Páscoa, para nós, também quer dizer salvação. Se estamos em marcha, e se nitidamente optamos, já estamos salvos, salvos em Esperança. O mesmo Sangue que discrimina já tem a virtude salvífica, já opera o que significa e já nos dá direito de falarmos a Deus com a liberdade de filhos.

Terminemos com a leitura de São Gregório Nazianzeno:

«Hoje é o dia em que fugimos do poder egípcio, das mãos do odioso faraó e de seus cruéis ministros; dia em que nos libertamos da argila e das olarias. A festa do Êxodo já ninguém há que proíba celebrá-la com o Senhor nosso Deus, e não mais com o velho fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade, nada trazendo conosco do ímpio fermento egípcio. Ontem angustiava-me com o Cristo na Cruz, hoje sou também glorificado. Ontem com Ele morria, hoje com Ele sou vivificado. Ontem sepultava-me com Ele, hoje com Ele ressuscito».

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A Vigília da Páscoa

Santo Agostinho

O bem-aventurado apóstolo Paulo, exortando-nos a que o imitemos, dá entre outros sinais de sua virtude o seguinte: “freqüente nas vigílias” [2Cor 11,27].

Com quanto maior júbilo não devemos também nós vigiar nesta vigília, que é como a mãe de todas as santas vigílias, e na qual o mundo todo vigia?

Não o mundo, do qual está escrito: “Se alguém amar o mundo, nele não está a caridade do Pai, pois tudo o que há no mundo é concupiscência dos olhos e ostentação do século, e isto não procede do pai” [1Jo 2,15].

Sobre tal mundo, isto é, sobre os filhos da iniqüidade, reinam o demônio e seus anjos. E o Apóstolo diz que é contra estes que se dirige a nossa luta: “Não contra a carne e o sangue temos de lutar, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores do mundo destas trevas” [Ef 6,12].

Ora, maus assim fomos nós também, uma vez; agora, porém, somos luz no Senhor. Na Luz da Vigília resistamos, pois, aos dominadores das trevas.

Não é, portanto, esse o mundo que vigia na solenidade de hoje, iras aquele do qual está escrito: “Deus estava reconciliando consigo o mundo, em Cristo, não lhe imputando os seus pecados” [2Cor 5,19].

E é tão gloriosa a celebridade desta vigília, que compele a vigiarem na carne mesmo os que, no coração, não digo dormem, mas até jazem sepultos na impiedade do tártaro. Vigiam também eles esta noite, na qual visivelmente se cumpre o que tanto tempo antes fora prometido: “E a noite se iluminará como o dia” [Sl 138,12]. Realiza-se isto nos corações piedosos, dos quais se disse: “Fostes outrora trevas, mas agora sois luz no Senhor”. Realiza-se isto também nos que zelam por todos, seja vendo-os no Senhor, seja invejando ao Senhor. Vigiam, pois, esta noite, o mundo inimigo e o mundo reconciliado. Este, liberto, para louvar o seu Médico; aquele, condenado, para blasfemar o seu juiz. Vigia um, nas mentes piedosas, ferventes e luminosas; vigia o outro, rangendo os dentes e consumindo-se. Enfim, ao primeiro é a caridade que lhe não permite dormir, ao segundo, a iniqüidade; ao primeiro, o vigor cristão, ao segundo o diabólico. Portanto, pelos nossos próprios inimigos sem o saberem eles, somos advertidos de como devamos estar hoje vigiando por nós, se por causa de nós não dormem também os que nos invejam.

Dentre ainda os que não estão assinalados com o nome de cristãos, muitos são os que não dormem esta noite por causa da dor, ou por vergonha. Dentre os que se aproximam da fé, há os que não dormem por temor. Por motivos vários, pois, convida hoje à vigília a solenidade (da Páscoa), Por isso, como não deve vigiar com alegria aquele que é amigo de Cristo, se até o inimigo o faz, embora contrariado? Como não deve arder o cristão por vigiar, nessa glorificação tão grande de Cristo, se até o pagão se envergonha de dormir? Como não deve vigiar em sua solenidade, o que já ingressou nesta grande Casa, se até o que apenas pretende nela ingressar já vigia?

Vigiemos, e oremos; para que tanto exteriormente quanto interiormente celebremos esta Vigília. Deus nos falará durante as leituras; falemo-lhe também nós em nossas preces. Se ouvimos obedientemente as suas palavras, em nós habita Aquele a quem oramos.

Fonte

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Sermão sobre a Cruz

São João Crisóstomo

Vês esta vitória admirável? Vês os sucessos da Cruz? Irei eu agora dizer-te alguma coisa de mais admirável? Aprende a forma como esta vitória se realizou e ficarás ainda mais estupefato. Aquilo que permitiu ao demônio vencer, é aquilo por que Cristo o dominou. Combateu o demônio com as armas que ele usara. Escuta como: uma virgem, a madeira, a morte, eis os símbolos da derrota. A virgem era Eva, pois não se unira ao homem; a madeira era a árvore; e a morte a pena em que Adão incorreu. Mas eis que, em contrapartida, a virgem, a madeira e a morte, estes símbolos de derrota, se tornaram nos símbolos da vitória. Em lugar de Eva, Maria; em lugar da árvore do conhecimento do bem e do mal, o madeiro da Cruz; em lugar da morte de Adão, a morte de Cristo. Vês que o demônio foi vencido por aquilo que lhe dera a vitória? Com a árvore, ele vencera Adão; com a cruz, Cristo triunfou do demônio. A árvore conduziu ao inferno, a cruz faz regressar os que a ele tinham descido. Além disso, a árvore serviu para esconder o homem envergonhado da sua nudez, enquanto que a cruz elevou aos olhos de todos um homem nu, mas vencedor. Eis o prodígio que a Cruz realizou em nosso favor. A Cruz é o troféu elevado contra os demônios, a espada puxada contra o pecado, a espada com que Cristo trespassou a serpente. A Cruz é a vontade do Pai, a glória do Filho único, a alegria do Espírito Santo, o esplendor dos anjos, o orgulho de S. Paulo, a muralha dos eleitos, a luz do mundo inteiro.

Fonte

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Exulte

Em tradução portuguesa:

 

Exulte de alegria a multidão dos anjos,
Exultem de Deus os ministros;
soe a triunfal trombeta,
Esta vitória de um tão grande Rei!

Alegra-te também, ó terra nossa
Que em tantas luzes agora resplandeces,
Vê como foge do universo a treva,
Enquanto fulge a luz do eterno Rei!

Alegra-te também, ó Mãe Igreja,
Ornada inteira de esplendor divino,
Escuta como vibra neste templo
A aclamação do povo!

V. O Senhor esteja convosco!
R. Ele está no meio de nós!

V. Corações ao alto!
R. O nosso coração está em Deus!

V. Demos graças ao Senhor nosso Deus!
R. É nosso dever e nossa salvação!

Na verdade é nosso dever e salvação
cantar de coração e a plena voz
ó Pai todo-poderoso, Deus invisível,
e seu único Filho, Jesus Cristo Senhor nosso.

Foi Ele quem pagou por nós ao Pai eterno,
o preço da dívida de Adão,
e foi quem apagou só por amor, no sangue derramado,
a condenação da antiga culpa.

Eis, pois a festa da Páscoa,
na qual foi posto à morte o verdadeiro Cordeiro,
cujo sangue consagrou
as portas dos fiéis.

Eis a noite, em que tirastes do Egito
os nossos pais, os filhos de Israel,
a quem fizestes transpor
o Mar Vermelho a pé enxuto.

Eis a noite em que a coluna luminosa
dissipou as trevas do pecado.
Eis a noite que arranca ao mundo corrompido, cego pelo mal,
os que hoje, em toda a terra, puseram a sua fé no Cristo.

Noite em que os devolve à graça
e os introduz na comunhão dos santos.
Eis a noite em que o Cristo, quebrando os vínculos da morte,
sai vitorioso do sepulcro.

Oh! imensa comiseração da vossa graça,
imprevisível amor para conosco:
a fim de resgatar o escravo,
entregais vosso Filho.

Ó pecado de Adão sem dúvida necesário,
pois a morte do Cristo o destrói!
Bendita culpa,
que nos vale um semelhante Redentor!

Pois o poder santificante desta noite
expulsa o crime e lava as culpas,
devolve a inocência aos pecadores,
a alegria aos aflitos,
dissipa o ódio, prepara a concórdia,
desarma os impérios.
Noite em que o céu se une à terra,
e o homem com Deus se encontra.

Na graça desta noite, acolhei, Pai Santo,
como sacrifício de louvor vespertino,
a chama que sobe desta coluna de cera
que a igreja, por nossas mãos Vos oferece.

Por isto, Senhor, Vos pedimos:
fazei que este círio pascal
consagrado ao Vosso nome,
brilhe sem declínio e afugente as trevas desta noite.

Que o astro da manhã
o encontre ainda aceso,
aquele que não conhece ocaso:

o Cristo ressuscitado dos mortos,
que espalha sobre os homens sua luz e sua paz.
Ele que convosco vive e reina
na unidade do Espírito Santo.

R/. Amén.

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O mistério da Páscoa: a novidade do Verbo encarnado

Melitão de Sardes

Compreendei, pois, caríssimos! É assim
novo e antigo,
eterno e temporal,
corruptível e incorruptível,
mortal e imortal
o mistério da Páscoa:
antigo segundo a Lei,
novo segundo o Verbo;
temporal na figura,
eterno na graça;
corruptível pela imolação da ovelha,
incorruptível pela vida do Senhor;
mortal pela sepultura, na terra,
imortal pela ressurreição dentre os mortos.

Antiga a Lei, novo o Verbo;
temporal a figura, eterna a dádiva;
corruptível a ovelha, incorruptível o Senhor,
o qual, imolado como cordeiro, ressurgiu como Deus.

Pois, como a ovelha, foi levado ao matadouro,
mas não era ovelha;
como o cordeiro, não abriu a boca,
mas não era cordeiro.

Passou a figura, persiste a realidade.

Em vez do cordeiro, Deus presente,
em vez da ovelha, um homem,
e neste homem, Cristo,
aquele que sustém todas as coisas.

Assim, o sacrifício da ovelha,
e a solenidade da Páscoa,
e a letra da Lei,
cederam lugar ao Cristo Jesus,
por causa do qual tudo sucedera na antiga Lei,
e muito mais sucede na nova disposição.

Pois a Lei se converteu em Verbo,
o antigo em novo,
ambos saídos de Sião, e de Jerusalém.

O mandamento se converteu em dádiva,
a figura em realidade,
o cordeiro em Filho,
a ovelha em homem,
o homem em Deus.

Com efeito, aquele que nascera como Filho,
e fora conduzido como cordeiro,
sacrificado como ovelha,
sepultado como homem,
ressuscitou dentre os mortos como Deus,
sendo por natureza Deus e homem.

Ele é tudo:
enquanto julga, é lei;
enquanto ensina, Verbo;
enquanto gera, pai;
enquanto sepultado, homem;
enquanto ressurge, Deus;
enquanto gerado, Filho;
enquanto padece, ovelha;
ele, Jesus Cristo,
a quem seja dada a glória pelos séculos. Amém.

Tal é o mistério da Páscoa,
como foi descrito na Lei
e como o acabamos de ler.

A salvação do Senhor e a realidade
foram prefiguradas no povo ( judeu),
as prescrições do Evangelho prenunciadas pela Lei.

O povo era como o esboço de um plano,
a Lei como a letra de uma parábola;
mas o Evangelho é a explicação da Lei e seu cumprimento,
e a Igreja o lugar onde isso se realiza.

O que existia como figura era valioso
antes que ocorresse a realidade,
maravilhosa a parábola antes que viesse a explicação.

O povo tinha seu valor antes que se estabelecesse a Igreja,
Lei era admirável antes que refulgisse o Evangelho.

Mas quando surgiu a Igreja e se apresentou o Evangelho,
esvaziou-se a figura, sua força passou para a realidade,
a Lei se cumpriu, transfundiu-se no Evangelho…

O povo perdeu razão de ser quando veio a Igreja,
a imagem se fez abolida quando apareceu o Senhor.

O que antes era valioso perdeu seu valor,
frente à manifestação do que era realmente valioso por natureza.

Valioso era antes o sacrifício da ovelha,
agora perdeu o valor, por causa da vida do Senhor.

Valiosa era a morte da ovelha,
agora perdeu o valor, por causa da salvação do Senhor.

Valioso era o sangue da ovelha,
mas perdeu o valor, por causa do Espírito do Senhor.

Valioso era o cordeiro que não abria a boca,
mas perdeu o valor, por causa do Filho sem mácula.

Valioso era o templo terreno,
mas perdeu o valor, por causa do Cristo celeste.

Valiosa era a Jerusalém de baixo,
mas perdeu o valor, por causa da Jerusalém do alto.

Valiosa era a pequena herança,
mas perdeu o valor por causa da amplitude do dom.

Porque não foi em parte alguma da terra,
em nenhuma faixa estreita da terra
que se estabeleceu a glória de Deus,
e sim por todos os confins se derramou seu dom,
em toda parte armou sua tenda o Deus onipotente.
Por Jesus Cristo,
a quem seja dada glória pelos séculos. Amém.

Deus, no princípio,
tendo criado pelo Verbo o céu,
a terra e tudo o que neles se encerra,
modelou do barro o homem
e comunicou-lhe seu sopro.

Colocou-o em seguida num jardim
voltado para o Oriente, o Eden,
para que ali vivesse feliz.
E deu-lhe um mandamento…

Mas o homem,
sendo por natureza capaz do bem e do mal,
como uma porção de terra
capaz de receber sementes boas e más,
escutou ao conselheiro hostil
e, tomando o fruto da árvore,
transgrediu o mandamento,
desobedeceu a Deus.

Por conseguinte,
foi deixado neste mundo,
como numa prisão de condenados.

Após muitos anos
e após gerar numerosa prole,
voltou à terra,
de cuja árvore colhera o fruto,
legando a seus filhos esta herança…

não a pureza, mas a luxúria,
não a imortalidade, mas a corrupção,
não a honra, mas a desonra,
não a liberdade, mas a escravidão,
não a realeza, mas a tirania,
não a vida, mas a morte,
não a salvação, mas a perdição.

Nova e terrível tornou-se a ruína dos homens sobre a terra.
Eis o que lhes aconteceu:
foram tiranizados pelo pecado,
e levados a lugares de concupiscência,
para viverem assaltados por prazeres insaciáveis,
pelo adultério, a fornicação, a impureza,
os maus desejos, a cobiça,
os homicídios, o derramamento de sangue,
a tirania da maldade e da injustiça.

Era o pai lançando a espada contra o filho,
o filho erguendo a mão contra o pai,
o ímpio golpeando a lactante,
o irmão ferindo o seu irmão,
o hospedeiro injuriando o hóspede,
o amigo assassinando seu amigo,
o homem degolando o semelhante.

Todos se transformaram na terra em homicidas,
fratricidas, parricidas, infanticidas…

E com isso exultava o Pecado:
colaborador da Morte,
precedia-a nas almas dos homens
e preparava-lhe como alimento os corpos mortos.
Imprimia em toda alma sua marca,
para fazer morrer os que a traziam.

Toda carne, pois, caiu sob o pecado,
e todo corpo sob a morte.

Toda alma foi arrancada de sua morada de carne
e o que foi tirado da terra se dissolveu na terra,
o que foi dado por Deus se encarcerou no Hades.

Estava destruída a bela harmonia,
desfeito o belo corpo.

O homem dividido sob o poder da morte,
estranha desgraça a aprisioná-la:
Era arrastado como cativo pelas sombras da morte,
jazia abandonada a imagem do Pai.

Eis a razão por que se cumpriu o mistério da Páscoa
no corpo do Senhor.

O Senhor havia ordenado de antemão seus próprios padecimentos nos patriarcas, nos profetas e em todo o povo, pondo como seu selo a Lei e os profetas. Pois o que devia realizar-se de modo inaudito e grandioso estava preparado desde muito, a fim de que ao suceder fosse crido, depois de tão vaticinado (…)

Antigo e novo o mistério do Senhor:
antigo na figura, novo no dom.
Se vês a figura,
verás a realidade ao longo de sua atuação.

Se queres contemplar o mistério do Senhor
verás Abel, assassinado como ele,
Isaac, aprisionado como ele,
José, vendido como ele,
Moisés, exposto como ele,
Davi, perseguido como ele,
os profetas padecendo como ele e por causa dele.

Contempla também o cordeiro degolado na terra egípcia,
que abateu o Egito e salvou a Israel por seu sangue (…)
Aquele que veio dos céus à terra por causa do homem que sofria,
e se revestiu do homem nas entranhas de uma Virgem,
aparecendo como homem.

Aquele que assumiu os sofrimentos de quem sofria,
tomando um corpo capaz de sofrer,
aquele que anulou os sofrimentos da carne,
destruindo com seu espírito imortal a morte homicida (…)

Aquele que nos tirou da escravidão para a liberdade,
das trevas para a luz,
da morte para a vida,
da tirania para o reino eterno.
Que fez de nós um sacerdócio novo
e um povo escolhido para sempre,
Ele, a Páscoa de nossa salvação…

Ele, que se encarnou numa Virgem,
se deixou suspender na cruz,
foi sepultado na terra,
ressuscitou dos mortos,
foi arrebatado aos céus.

Ele, o cordeiro emudecido,
o cordeiro imolado,
nascido de Maria, a ovelha bela,
o cordeiro levado do rebanho ao matadouro,
sacrificado à tarde, sepultado à noite.
Não lhe quebraram os ossos no madeiro,
na terra não sofreu a corrupção,
mas ressurgiu dentre os mortos,
ressuscitou o homem das profundezas do sepulcro.

Ele, entregue à morte.
Onde?
No meio de Jerusalém.
Por quê?
Porque curou os coxos,
purificou os leprosos,
trouxe a luz aos cegos,
despertou os mortos.
Por isto padeceu…

Por que cometeste, ó Israel, tão grande injustiça,
entregando teu Senhor a tais sofrimentos,
ele, teu amo,
ele, que te plasmou,
te criou,
te honrou,
te chamou Israel?

Não te mostraste” Israel” pois não viste a Deus,
não reconheceste o Senhor,
não soubeste ser ele o primogênito de Deus,
aquele que foi gerado antes da estrela matutina,
aquele que fez brotar a luz,
fez brilhar o dia,
separou as trevas,
firmou o primeiro fundamento,
suspendeu a terra,
secou o abismo,
estendeu o céu,
organizou o mundo,
dispôs no alto os astros,
fez resplandecer as estrelas,
fez os anjos celestiais,
fixou nas alturas os tronos,
modelou na terra o homem!

Ele, o que te escolheu e te guiou de Adão a Noé,
de Noé a Abraão,
de Abraão a Isaac, a Jacó e aos patriarcas;
aquele que te conduziu ao Egito e te protegeu e sustentou,
que iluminou teu caminho com a coluna de fogo,
te ocultou sob a nuvem,
e dividiu o mar Vermelho para atravessares suas águas.

Que dispersou teu inimigo,
te deu o maná do alto,
e a água da pedra.

Que te deu a Lei em Horeb,
e te fez herdar a terra,
que te enviou os profetas.

Verdadeiramente é amarga
conforme está escrito:
“Comereis pães ázimos com ervas amargas”.
Amargos para ti os cravos que afiaste,
amarga a língua que aguçaste,
amargas as falsas testemunhas que propuseste,
amargas as cordas que preparaste.
amargos os açoites que descarregaste,
amargo para ti foi Judas, a quem pagaste,
amargo Herodes a quem obedeceste,
amargo Caifás, em quem confiaste,
amargo o fel que ofereceste,
o vinagre que cultivaste,
amargos os espinhos que ajuntaste,
amargas as mãos que ensangüentaste.

Entregaste teu Senhor à morte, no meio de Jerusalém…

Ele, o Senhor, revestido do homem,
padecente pelo homem que sofria,
atado pelo homem prisioneiro,
julgado em prol do culpado,
sepultado pelo que jazia na terra,
ressurgiu dentre os mortos e clamou em alta voz:

“Quem se levantará em juízo contra mim?
Venha defrontar-se comigo!
Eu libertei o condenado,
vivifiquei o morto,
reergui o sepultado.

Quem me irá contradizer?
Eu, o Cristo, destruí a morte,
triunfei do inimigo,
esmaguei o inferno,
rnanietei o forte,
arrebatei o homem para as alturas dos céus.

Eu, o Cristo!
Vinde, pois, famílias dos homens manchadas por pecados,
recebei o perdão dos pecados!

Pois sou vosso perdão,
eu, a Páscoa da salvação,
O cordeiro imolado por vós,
a vossa redenção,
a vossa vida,
a vossa ressurreição,
a vossa luz,
a vossa salvação,
o vosso rei.

Eu vos elevarei à sublimidade dos céus,
e vos mostrarei o Pai que existe desde os séculos,
vos ressuscitarei por minha destra”.

A Ele, o Cristo,
o Alfa e o Omega,
o Começo e o Fim,
o Inenarrável Começo,
o Incompreensível Fim,
o Rei,
a Ele, Jesus,
o Chefe,
o Senhor,
O que ressurgiu dentre os mortos,
O que está assentado à direita do Pai,
O que conduz ao Pai e é conduzido pelo Pai,
a Ele, glória e poder pelos séculos. Amém.

Fonte

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Essencial

A quem domina o idioma bretão, recomendo o fabuloso acervo de livros da Eternal World Television Network.

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Cinco Antologias

Santo Atanásio – A Criação e a Queda; A Trindade; Os Sacramentos; Cristo Redentor; Carta sobre a Interpretação dos Salmos; A Verdade e o Número; Epístola 39.

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São Gregório Magno – Homilias sobre o Evangelho; Regra Pastoral; Tratados sobre o Livro de Jó.

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São João Damasceno – Exposição sobre a Fé Ortodoxa; Homilia sobre a Dormição da Virgem Maria; Homilia sobre a Natividade de Maria; Homilia sobre a Transfiguração do Senhor.

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Santo Ambrósio – Os Sacramentos; Exposição sobre o Salmo 118; Comentários sobre os Salmos; Os deveres dos Ministros; Tratado sobre o Evangelho de São Lucas; Sobre os Mistérios.

ambrosio

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São Justino, Mártir – Diálogo com Trifão; A Primeira Apologia

justinoan

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São Gregório de Nissa – A Meta Divina e a vida conforme a Verdade

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Tertuliano – Apologia / Exortação aos Mártires

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The worst

Meus cinco centavos sobre o aborto em Pernambuco:

Neste blog, pertencente ao pároco de Alagoinha, está o relato do lado que a imprensa deixou de mostrar, ou seja: o lado verdadeiro. E o melhor comentário que li até agora sobre o caso é o de Jorge Ferraz, contendo um alerta importante: a grande imprensa brasileira, no fundo, apóia o aborto em qualquer circunstância. Estamos assistindo a mais uma sórdida campanha sentimentalista, cheia daquela intensidade apaixonada justamente assinalada por Yeats como a nota mais característica dos piores.

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São Beda – Comentário sobre o Evangelho de São Lucas

beda

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São João Crisóstomo – Comentário sobre o Evangelho de São Mateus

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Quando S. Tomás de Aquino se dirigia a Paris e descobriu ao longo a cidade, disse ao irmão que o acompanhava: “Irmão, de bom grado trocaria tudo isto pelo comentário de S. João Crisóstomo sobre S. Mateus”. A quem vive destes sentimentos pouco importa o lugar onde está ou os meios de que dispõe; esse é um eleito do espírito e, como tal, só lhe resta perseverar e entregar-se à vida consoante o Plano divino.

A. D. Sertillanges

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A Segunda Parte

Caros,

Quando iniciei o blog, tinha dois objetivos em mente: o primeiro era colecionar as melhores apresentações da vida, do perfil e da doutrina dos Santos Padres, até que os mais proeminentes (e mesmo os que não fossem tão marcantes) tivessem os detalhes biográficos e críticos suficientemente explicados. Privilegiei, é claro, o material em Português, e quando necessário, em Espanhol. O segundo objetivo consistia em reunir as obras dos Pais da Igreja, que estão dispersas na internet, em um conjunto coerente e livre das complicações que vez ou outra apareciam para o acesso (e também livre da formatação de texto das versões on-line, via de regra pavorosas).

Após a consulta de dezenas de sites, alguns livros selecionados e duas enciclopédias, julgo finalizada a primeira parte. Diria coloquialmente que não sobra quase mais ninguém. Até Teodoro de Mopsuéstia, o qual, segundo um amigo, só apresenta interesse para especialistas em polêmicas bizantinas (literalmente), tem uma categoria só para ele. As maiores figuras da patrologia, a exemplo de São Basílio, contam em média com três biografias complementares.

A partir de agora, vou me dedicar unicamente ao segundo objetivo. Em breve, Deo volente, o Mercabá estará cheio de posts intitulados conforme o nome dos livros que terão, neles, os links para serem baixados. É uma espécie de ampliação da Bibliotheca Patristica, ainda com arquivos PDF.

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Atenção!

Se você acha que a Filosofia Cristã foi superada; que a Igreja é arcaica e precisa progredir; que o Cristianismo é irracional; que os Cristãos são incapazes de responder a críticas; que a Teologia moderna é superior à antiga, retrógrada; que a Patrística pertence a um contexto histórico incompatível com a modernidade; que a Igreja sempre controlou consciências;... Suma desse site. Vá ler o Código da Vinci, e faça bom proveito.

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